
Porque, vocês compreendam: nós queremos segurança, pelamo-nos por segurança. Os aeroportos já nos protegem de terroristas árabes. A ASAE defende-nos de restaurantes assassinos. Schengen é a nossa muralha contra imigrantes. Doenças, só as do sexo. Nem uma simples febre. Estava pois tudo tão arrumadinho, tão calculado até se ouvir soar o alarme. E o alarme tinha nome: os porcos. Esqueceram-se dos porcos. Pensaram nas vacas e nas aves, mas não nos porcos. Quem é que se iria lembrar agora que o perigo são os porcos? Só nos faltava mais esta.
Talvez toda a razão esteja do lado de José Saramago. Ontem, no DN, o nosso escriba nobelizado avançou com uma explicação persuasiva para o surgimento da gripe suína. A culpa, diz Saramago, é do capitalismo pecuário. Durante anos, os porcos habitaram em condomínios de granjas espaçosas e bem-tratadas. Hoje são 65 milhões de porcos obrigados a partilhar pão e leito num número exíguo de pocilgas. Resultado: o mundo já fede. Ou, por outras palavras, fizemos merda. Eu não sei nada. O que sei é que a confortável ilusão de segurança e invulnerabilidade com que nos habituámos a viver não passa disso mesmo: uma ilusão.(...)
Fonte: DN - Nuno Lomba
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