quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Melhor do ano no Paraguai é... Cardozo

Cardozo foi ontem eleito o Melhor Futebolista do Paraguai 2009, prémio esse que o avançado do Benfica já arrebatara em 2006.

O troféu é fruto de uma votação interna dos jornalistas do diário "ABC Color", considerado o principal matutino daquele país sul-americano. Cardozo arrecadou 198 votos, superando Salvador Cabañas (188), do América do México, e Guillermo Beltrán (105), do Nacional. Na galeria de vencedores figura o ex-benfiquista Carlos Gamarra, distinguido com o prémio em 1997 e 1998.

sábado, 26 de dezembro de 2009

Sim, mas quando é que o Benfica terá um verdadeiro teste?

A paragem no campeonato chega em boa altura. É óptimo que os críticos do Benfica possam ter uns dias para inventar novas razões pelas quais a equipa de Jorge Jesus não os impressiona. No princípio, foram os troféus da pré-época. Cada torneio ganho constituía uma nova vergonha para os benfiquistas. Era uma estupidez andar a ganhar títulos que não valiam nada. O primeiro milho é para os pardais e a pré-época não tem significado, o que veio a confirmar-se: o Benfica, que ganhou tudo, está nas ruas da amargura; o Sporting, que perdeu com toda a gente menos com o Cacém, pratica um futebol vistoso e vencedor. Depois, foram os reforços. Cada novo reforço embaraçava o Benfica. Suplentes do Real Madrid eram uma péssima escolha. Quem jogava bem, como toda a gente sabia, eram os suplentes do Manchester City e do Colón. Mais uma profecia cumprida: Saviola e Javi García deixam muito a desejar, enquanto as exibições de Caicedo e Prediger têm encantado adeptos do futebol em todos os estádios. A seguir, vieram as goleadas. Cada goleada era motivo de gozo. É estúpido golear. Cansa muito. Por exemplo, enquanto o Benfica se afadigou indo a Belém golear por 4-0, o Porto poupou energia empatando com o Belenenses em casa. Ao passo que o Sporting, ajuizadamente, geriu o esforço no empate com o Nacional, o Benfica desperdiçou músculo a golear o mesmo Nacional por 6-1. Estava à vista de todos que o Benfica andava a fazer as coisas mal feitas.

E foi assim que chegámos ao clássico do último domingo. O terceiro classificado da época passada, aliás bastante desfalcado, jogava contra o tetracampeão na máxima força. Finalmente, um verdadeiro teste. Os jogos anteriores, as goleadas, as boas exibições não tinham valor. Agora, sem vários titulares, é que estavam reunidas condições apropriadas para se ver que Benfica era este. E, na minha modesta opinião, viu-se. O jogo era tão fácil para o Porto que Jesualdo Ferreira tinha dito que o empate era um mau resultado. Por isso, apresentou-se na Luz claramente para ganhar, com um meio campo bem ofensivo, que incluía criativos tão fantasistas como um Guarín, um Meireles e um Fernando. Para mim, foi um déja vu. Estava no Estádio da Luz antigo quando Jesualdo Ferreira entrou em campo com os trincos Petit e Andrade para jogar contra o Gondomar. Desta vez, deve ter pensado que o Benfica estava ainda mais fraco que os gondomarenses, de modo que resolveu acrescentar mais um trinco ao jogo, não fosse o diabo tecê-las.
No entanto, Jesualdo não foi o único treinador defensivo da noite. É verdade que o Porto entrou em campo com três trincos, mas devemos ser justos e admitir que o Benfica passou o jogo todo com 3 centrais: Luisão, David Luiz e Falcao. Um exagero de Jorge Jesus. Pinto da Costa bem tinha agradecido aos olheiros do Benfica a contratação do Falcao pelo Porto (no fim do jogo, também fui ao gabinete de prospecção agradecer-lhes) e o rapaz, uma vez que foi descoberto pelos nossos olheiros, deve ter-se sentido na obrigação de jogar por nós.
Por isso, Hulk jogou sozinho no ataque com Rodriguez, o que não lhe fez confusão nenhuma. Na verdade, Hulk joga sempre sozinho, quer esteja acompanhado ou não. O Hulk da banda desenhada é conhecido por se irritar; este é conhecido por irritar os sócios do Porto. Como é evidente, gosto muito mais dos super-poderes deste. Quando, ainda na primeira parte, Hulk fez aquele remate à baliza que saiu pela linha lateral, comecei a fazer uma colecta na bancada onde tenho o cativo. O objectivo é pagarmos a cláusula de rescisão de 100 milhões mas para o obrigar a ficar no Porto. Em breve darei notícias.
Quanto a Rodriguez, observei atentamente o seu jogo e confesso que já não sei se ele não renovou pelo Benfica porque não quis ou porque foi dispensado. Mas, se um dia ele quiser voltar, por mim recebê-lo-ei no clube sem ressentimentos. Desde que seja para jogar na equipa de andebol.
A linha avançada do Porto, Falcao, Hulk e Rodriguez, era, portanto, constituída por um futebolista que jogou na nossa defesa, outro que jogou sozinho, e outro que jogou outra modalidade. Mas atenção: não quero com isto dizer que a equipa do Porto é má. Nada disso. O Porto tem bons jogadores. Estão é todos no Olhanense.
Quando, na final da Taça da Liga, Lucílio Baptista assinalou mal um penalty a favor do Benfica, foi à televisão assumir publicamente o erro. Desta vez, não assinalou um penalty que toda a gente viu – mas não compareceu nos telejornais. É normalíssimo: os erros contra o Benfica não são notícia. Se cada árbitro que erra contra o Benfica fosse ao telejornal, os noticiários duravam três horas.

Por Ricardo Araújo Pereira, edição 26 de Dezembro 2009 - Jornal "A Bola"

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

FCP Levou na corneta!!


Capa do jornal ''A Bola'' - 21/Dezembro/2009
SLB 1 - 0 FCP

sábado, 19 de dezembro de 2009

Espero que o pai de Lucílio não precise de aconselhamento matrimonial

CREIO que anotei correctamente a sequência dos acontecimentos: primeiro, Michel Platini disse, referindo-se ao FC Porto, que não queria batoteiros a jogar na Liga dos Campeões. Depois, o país de Michel Platini apurou-se para o Mundial de futebol na África do Sul, em 2010, jogando a bola com a mão. A seguir, o mesmo Michel Platini disse que o FC Porto afinal não era batoteiro. Não há nada como beneficiar de uma ilegalidade para o nosso conceito de batota sofrer uma interessante transformação. Quem antes era batoteiro passa a ser cá dos nossos.


Na última jornada antes do Benfica-Porto, o árbitro do Olhanense-Benfica mostrou 13 cartões. Para o Porto-Setúbal foi nomeado Pedro Henriques, o árbitro que só mostra vermelho se houver um homicídio em campo. Por essa e outras razões, o Porto chega ao clássico a 100%, enquanto o Benfica se apresenta bastante desfalcado. Posto isto, que resultado esperar? Depende: se o pai de Lucílio Baptista não necessitar de aconselhamento matrimonial, um Benfica desfalcado ganha facilmente a um Porto em pleno. Vamos esperar que os problemas que afectavam o pai de Augusto Duarte não se estendam a outras famílias.


O leitor já contribuiu para a campanha do David Luiz? É a grande campanha deste Natal, não sei se sabe. Todos os comentadores afectos ao Sporting e ao Porto estão a participar. Parece que há, na Liga Sagres, um central que pode fazer todas as faltas que quiser e praticar jogo violento à sua vontade sem nunca ser expulso. Isto, já sabíamos todos. O que não sabíamos é que não se trata de Bruno Alves. Eles estão a falar do David Luiz. Bruno Alves já deu cotoveladas em queixos, cabeçadas em testas, pisou costelas, esmagou testículos e pontapeou cabeças. Mas o David Luiz, no outro dia, puxou uma camisola e o árbitro não viu. Quem não se indignaria?


O leitor, sempre ingénuo, perguntará: mas o facto de David Luiz não ser um jogador violento não deveria ser suficiente para que não fosse sensato dizer que ele é um jogador violento? Não necessariamente. Recordo que o Cardozo levou dois jogos de castigo por, no túnel de Braga, ter cometido actos que as imagens provam claramente não terem sido cometidos. Do mesmo modo, no entender dos apreciadores de Bruno Alves, David Luiz é bruto. Na opinião dos admiradores de Adrien, que anda há semanas a tentar fracturar o perónio aos adversários, David Luiz é caceteiro. Mal comparado, é como ser apreciador da Cicciolina e dizer que a Madonna é um bocadinho galdéria.


Por Ricardo Araújo Pereira, edição 19 de Dezembro 2009 - Jornal "A Bola"

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Metallica em Portugal 2010

Os Metallica actuam em Portugal em 2010.

O concerto está marcado para 18 de Maio, no Pavilhão Atlântico , em Lisboa.

Todos às compras

Rui anda a namorar um relógio caro. Ana vai ela própria fazer cachecóis e bolsas para oferecer. O casal Lima comprou uma televisão. É Natal e cada português chega à noite da consoada com uma média de 15 embrulhos para distribuir. Em tempo de crise a tendência é comprar coisas úteis.
Por Ana Henriques


Cortar nos gastos por causa da crise? Nem sempre. "Lá em casa não se faz muito isso, Natal é Natal. Talvez noutras épocas do ano..." Rita Mendes, de 19 anos, ainda não fixou o nome da escola do Lumiar, em Lisboa, onde começou este ano lectivo a frequentar o curso de Ciências Aeronáuticas. Mas na ponta da língua tem os nomes dos modelos das malas da Louis Vuitton que ela e a mãe hão-de receber este Natal, a mil e dois mil euros o exemplar, para depois emprestar uma à outra. O irmão não fica a perder: "Entre os jogos para a Playstation e um computador portátil novo leva sempre muitos presentes, para compensar as malas."
Até agora, a estudante gastou 500 euros em ofertas para os amigos: essencialmente perfumes e acessórios, como um cinto. "E ainda estou a meio das compras", diz. "É um bocadinho de dinheiro de mais..." O grande armário lá de casa repleto de modelos menos recentes da Vuitton e de outras marcas conceituadas não a demove: são mesmo duas malas com o monograma de luxo que hão-de aparecer no sapatinho. E das genuínas, que fazem corar de vergonha as suas primas falsificadas.
Estima-se que este ano cada português vá desembolsar, em média, 390 euros com prendas de Natal. Muito menos do que Rita gastará. Muito mais do que o que Fátima Silva, 64 anos, conta gastar. Hoje não são malas que esta vendedora ambulante leva consigo. Enfiadas dentro de um saco de plástico negro como as roupas que traz vestidas da cabeça aos pés, as camisolas que acabou de comprar aos chineses do Martim Moniz para revender nas ruas de Queluz não fazem vista nenhuma. As cores fora de moda também não ajudam, mas por seis ou sete euros a peça não se pode pedir mais.
Talvez num embrulho bonito consigam brilhar na noite de Natal. Ou talvez vão parar ao fundo do armário de uma qualquer adolescente cuja tia pensa que Stradivarius - nome de uma cadeia de lojas de pronto-a-vestir - é apenas a marca de um famoso violino. A Fátima tanto se lhe dá: quer é despachar a mercadoria antes que chegue a polícia, que, diz, não tem sido meiga com os vendedores ambulantes.
Este não é o seu Natal. O seu vai ser passado sem prendas. Os 30 euros do rendimento mínimo somados aos 150 da pensão que recebe por conta da morte do marido não esticam. "Se tivesse dinheiro, comprava uma prendinha a cada neto", diz. Depois percebe que está a sonhar alto de mais, com a quantidade de descendentes que deixa neste mundo teria de gastar uma fortuna em presentes. E emenda: "À minha neta de seis anos comprava-lhe umas botinhas. E aos rapazes, uns carrinhos." E segue para casa quase a correr.

Excessivo?

Por esta altura Rui Pinheira, de 29 anos, ainda não se decidiu sobre a prenda da namorada. O mostrador do Omega de 2350 euros que o crítico de arte apreciou na joalharia da Avenida da Liberdade parece-lhe excessivo. Ou será que agora se usa assim tão grande? "Vou ter que sondar a minha namorada", conclui. Depois decidirá se deve esperar pelo lançamento de um modelo de menores dimensões.
Já comprou os presentes quase todos, mas deixou os mais importantes para o fim: os dos pais. Que podem custar tanto como o Omega - ou não. Roupa não oferecerá de certeza: "As mulheres compram-na todos os dias..."
Por muito que os mais recentes inquéritos digam que os portugueses vão gastar menos em ofertas do que em 2008 - menos 15 euros, segundo o estudo Xmas Survey, da consultora Deloitte - há quem compre tanto como sempre. E quem garanta que a poupança começou há muitos natais. Que o diga Piedade Santos, 46 anos num rosto sem traços de maquilhagem a disfarçar a passagem dos anos. "Tenho muita pena, mas aos adultos é um beijinho, um abraço e pronto. Nem eles me dão nada a mim, nem eu lhes dou a eles", conta, enquanto percorre com a filha os corredores do novíssimo centro comercial Dolce Vita Tejo, nos subúrbios da Amadora.
À disciplina férrea combinada com a família há três anos para lidar com um salário de auxiliar de acção educativa de pouco mais de 500 euros só escapam as crianças da família - "tenta-se não falhar" - e a filha adolescente. Mesmo assim, impera o pragmatismo: "Se ela precisa de umas botas ou de um casaco, dizemos: "Olha, já é prenda de Natal." Perde-se um bocado a graça de abrir as prendas, mas pronto."
Os portugueses compram, em média, 15 prendas por Natal, a 30 euros cada uma. Paula Quintão, uma empregada bancária precocemente reformada, gastará acima da média. Não há grande volta a dar-lhe, por mais que aqui, junto ao Bairro Alto, até possa encontrar um ou outro gadget original sem se arruinar. Conta chegar à noite da consoada com 50 prendas para oferecer. "Quanto vou gastar ao todo? Seguramente uns mil euros, é um escândalo. Já houve anos em que terei gasto mais." Com a família? "Às vezes acho que até é com os amigos."
Segundo a Deloitte, quando é preciso cortar nas lembranças de Natal os colegas de trabalho são os primeiros a sofrer as consequências. Seguem-se os amigos. Deixar os mais pequenos sem brinquedos só em último caso. Isso mesmo diz Adriano Motica, um romeno desempregado de 21 anos: seja lá o que conseguir comprar, a prenda mais cara irá para a pequenita que passeia num carrinho de bebé na Baixa. No ano passado era diferente, tinha trabalho.
"Em 2008, quando estava em Espanha a montar tectos falsos, ganhava melhor do que aqui", constata por seu turno Adsergion Silva, oito anos dos 32 que leva de vida passados em Portugal, vindo de Minas Gerais. Das três ou quatro prendas obrigatórias que vai distribuir pelos mais chegados nenhuma deverá calhar à companheira. "Merecer ela merece. Mas não sei se o dinheiro vai chegar... Gostava de lhe dar um perfume."
Apesar de integrarem a lista das prendas mais requisitadas nesta altura, as fragrâncias não estão no topo. Em Portugal, tal como na maioria da Europa, os livros constituem a oferta mais popular, seguidos do vestuário e dos discos. Alexandra Pericão, com um cargo de chefia numa empresa de resíduos sólidos urbanos, recusa-se a comprá-los de empreitada. Essas e outras prendas, vai-as acumulando ao longo do ano, com tempo, para depois distribuir no Natal: "Consigo preços melhores e coisas que agradam mais às pessoas."

Prendas para os vizinhos

Escolhe criteriosamente cada objecto, ao todo não mais de uma dezena, entre família e amigos: "Isto não é uma coisa banal relacionada com o consumismo." Também não é só por questões de poupança que Ana Teixeira, uma estudante de Belas-Artes de 22 anos, tenciona fabricar parte das prendas que quer dar - um cachecol, uma bolsa, um quadro... "Gosto mais do resultado final", explica, enquanto dá uma vista de olhos aos gadgets da loja do Bairro Alto.
Doze por cento dos portugueses não comprarão prendas para si próprios, ao contrário do que haviam feito no ano passado. Não é o que se passa com o casal Lima. "Esta é cá para os bebés", dizem, satisfeitos, a apontar para si e para o enorme televisor que mal lhes cabe no carrinho de compras que empurram no Dolce Vita Tejo. Por 650 euros, o casal de reformados comprou mais um entretém para os dias de chuva, que se vai juntar às várias outras televisões que já tem em casa, em Porto Salvo. "Os gastos vão ser os mesmos do ano passado", referem: do pouco ao muito, dependendo "de como cada pessoa se portou ao longo do ano". Os vizinhos de mais idade não serão esquecidos nesta espécie de ajuste de contas. Afinal, são eles quem vemos no dia-a-dia, às vezes mais do que à família. E toda a gente gosta de um miminho.
Eduardo Lemos também se vai lembrar da vizinhança quando trouxer da terra, Tondela, várias caixas de dióspiros e uns garrafõezinhos de branco e de tinto, tudo produção própria. Da Brandoa, onde mora, o viúvo levará bacalhau, lençóis e cobertores, para oferecer a uns primos na província. Quando era gerente de casas de prestígio da capital, como o café Colombo, convivia com outras gentes: "As pessoas do jet-set, a Cinha, a Maria Barroso..." Não é que agora, que já não precisa de se barbear todos os dias, viva mal, mas os euros já estão todos destinados: para um dos três netos, uma adolescente que anda num coro em Algés, tem de ser uma guitarra portuguesa, e tanto ela como os outros hão-de receber roupa. A rapariga tem de andar bem posta, que já arranjou namoro, como contou ao avô em segredo. "Vou gastar alguns 400 euros..."
Por cá ainda não pegou a moda adoptada por espanhóis, italianos, romenos e eslovacos de fazer as compras depois do 25 de Dezembro, para aproveitar os saldos. A tendência é oferecer coisas úteis. O conceito de utilidade é que varia muito, consoante quem o aplica. Para o crítico de arte, o relógio caro insere-se nessa categoria. Outros acham que nada como uns trapos para fazer alguém feliz, nem que seja nos breves segundos que o papel colorido demora a desembaraçar-se dos laçarotes. O Natal chegou para todos, mesmo para os que acreditam que a crise está para durar.
Fonte: Jornal Público

Quatro anos de pena suspensa para condutora de ligeiro

O Tribunal de Castelo Branco condenou hoje a 4 anos e 4 meses de prisão, com pena suspensa, condutora do ligeiro envolvida num acidente na A23, em Novembro de 2007, onde morreram 17 estudantes da Universidade Sénior de Castelo Branco. O condutor do autocarro foi absolvido.

Quatro anos e quatro meses de prisão suspensa por igual período foi a pena aplicada pelo colectivo de juízes à condutora do veículo ligeiro de passageiros que esteve envolvido no acidente da 23, em Vila Velha de Ródão, ocorrido há dois anos.
Carina Rodrigo foi condenada por 17 crimes de homicídio por negligência (5 meses por cada morte) e por dois crimes de ofensa à integridade física agravada (2 meses por cada) e por dois de ofensas à integridade física voluntária (três meses cada).
Fernando Serra, o motorista do autocarro que também foi interveniente do acidente, estava acusado dos mesmos crimes, mas tribunal considerou que “nada ficou provado” relativamente a este arguido.
FONTE:www.dn.pt

domingo, 6 de dezembro de 2009

Um histórico, convincente e esmagador empate

No sábado passado, o Sporting fez o sexto jogo consecutivo sem ganhar para o campeonato, empatou em casa com um concorrente directo, manteve os 13 pontos de desvantagem para o primeiro dos candidatos ao título e acabou a jornada em sexto, ex aequo com o sétimo, o Rio Ave. Sob que ponto de vista é que o empate com o Benfica pode ser considerado um bom resultado? Só um: se a equipa da casa não for candidata ao título. Para quem luta pela manutenção ou pela Europa, um pontinho em casa contra o Benfica é excelente. O leitor, sempre maldoso, poderá observar: como podem os adeptos do Sporting, que ainda há pouco assinalavam, com superioridade gozona, que os benfiquistas andavam eufóricos por causa de meia dúzia de goleadas, ficar agora ainda mais eufóricos com um empate?
Bom, cada um esbanja euforia no que pode. E gostos não se discutem: quem gosta de goleadas, vibra com goleadas; quem gosta de empates, deleita-se com empates. Como sabemos todos, desde os encontros do ano passado com Barcelona e Bayern de Munique os sportinguistas ficaram com a capacidade de apreciar goleadas ligeiramente abalada. Mas os empates mantiveram, para eles, o encanto que indiscutivelmente têm. Ainda no início desta época os vimos celebrar um empate contra o Twente. É importante não esquecer que a última grande vitória histórica do Sporting foi uma derrota em casa do AZ Alkmaar. Recordemos, por fim, que estamos a falar de um clube que chama herói ao lateral direito do Olhanense. À luz destes factos, creio que a alegria sportinguista é mais fácil de compreender.
Trata-se de uma alegria que é, aliás, tocante. Quem dera ao resto dos portugueses a inclinação que os sportinguistas têm para a felicidade. Eles, tal como o país, também estão em crise. Também não têm dinheiro. Têm um treinador que é mais um dos milhares de portugueses que enfrentam o flagelo do trabalho precário e dos contratos a termo certo, e sabe que, dentro de seis meses, estará no desemprego. No meio de tudo isto, no entanto, riem-se. Só eles sabem de quê.
Estou, claro, a exagerar. Há motivos de esperança. Desde o dia 21 de Setembro que o Sporting evidencia dificuldades para ganhar a equipas compostas por futebolistas. Mas, contra pescadores, normalmente não dão hipóteses. No campeonato da Docapesca, o Sporting seria um dos mais sérios candidatos ao título. E, no meio da tormenta, os jogadores mantêm o espírito de equipa: ainda esta semana Liedson disse que tinha dificuldades em jogar neste modelo e estava disposto a sair do onze para dar lugar a colegas que façam melhor do que ele. Estava a referir-se a Saleiro, Caicedo e Postiga. Além de ser uma magnífica piada, é dos mais belos actos de companheirismo que já vi. Mostra aos outros avançados que confia neles, e revela a todos os cépticos que Carvalhal é um treinador que consegue, num mês, o que Paulo Bento levou anos a fazer: incompatibilizar os jogadores com a sua táctica.



Por Ricardo Araújo Pereira, edição 05 de Dezembro 2009 - Jornal "A Bola"

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

A frase

"Vamos jogar contra o Brasil. Será o time A contra o time B"

Por Carlos Dunga.

Fonte: www.recor.pt

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Muse no Pavilhão Atlântico

Pavilhão Atlântico esgotou para ver os britânicos Muse. Mais que um concerto, o espectáculo revelou-se um festival de sensações, com a música e o cenário a encherem as medidas dos milhares de fãs que marcaram presença.
Sensivelmente 15 minutos após a hora marcada, e depois de congeminadas diversas teorias sobre os três arranha-céus que constituíam o pano de frente do palco, as luzes apagam-se finalmente para a entrada dos protagonistas da noite. Um a um, acendem-se os apartamentos dos três prédios, surgem depois vultos a subir escadas e quando esses mesmos vultos começam a cair (qualquer semelhança com a realidade não será pura coincidência), a introdução adensada pela pulsação acelerada da música rebenta no início de "Uprising". Os três elementos dos Muse surgem então em três plataformas distintas, bem acima do palco, e o público recebe em êxtase o primeiro single do novo The Resistance , cantado a plenos pulmões.


A componente visual dos espectáculos do trio de Teignmouth, à qual sempre foi dada a devida atenção, está mais aguçada que nunca, com as teorias da conspiração de que o líder Matthew Bellamy tanto gosta a reflectirem-se nela. Feixes de laser e um esquema de luzes que deixa qualquer um como um burro a olhar para um palácio, ajudam a construir um ambiente perfeito de tensão extasiante. "Resistance" (segundo tema da noite e também o segundo tema do novo álbum) mantém o público em alta, com o seu ritmo cavalgante e teclados mágicos.
Trocando as voltas àqueles que já pensavam que a banda seguiria por The Resistance adentro, a primeira surpresa da noite veio na forma do velhinho "New Born", para grande contentamento da plateia. A banda desce então ao palco e o festim de lasers atinge níveis hipnóticos. Tempo para avançar até ao muito celebrado Black Holes and Revelations , que esta noite partilhou o protagonismo com o novo álbum: ao brilhante "Map of the Problematique" sucedeu um envolvente "Supermassive Black Hole", mais demoníaco que nunca.

Marcando o regresso ao presente, "MK Ultra" ajuda a clarificar que os temas de The Resistance não só estão na ponta da língua como são bastante bem recebidos, como se veria mais à frente na balada progressiva de ritmos arabescos "United States of Eurasia". Pelo meio, um dos temas mais celebrados da noite: "Hysteria" é, juntamente com "Stockholm Syndrome" já no encore, uma das poucas incursões por Absolution (álbum de 2003), mas nem por isso deixa de ser uma das mais celebradas da noite.

Sentado ao piano luminoso, Bellamy recupera então "Feeling Good", tema celebrizado na voz de Nina Simone que renasceu em formato rock no segundo álbum do trio, Origin of Symmetry . Mantendo o ritmo relativamente calmo, a ponte para o presente faz-se com "Guiding Light" e, depois de um interlúdio bateria/baixo em plataforma giratória, irrompe "Undisclosed Desires", tema dançável que constitui o actual single e parece arrebatar bastantes corações femininos entre a plateia.

Seguir-se-ia então a sequência ganhadora do concerto: "Starlight", "Plug In Baby" e "Time Is Running Out" levam a audiência ao êxtase. Saltos, refrões cantados a plenos pulmões exigiram a entrada em cena dos balões brancos gigantes que gravitam nos concertos dos Muse desde a época de Hullabaloo . A terminar o corpo principal do espectáculo esteve "Unnatural Selection", mais um tema do presente que, em registo acelerado, se revela um dos temas novos que mais surpreende ao vivo. A saída de palco deu-se depois dos elogios merecidos ao público.



As apostas para o encore eram várias: "Bliss", "Sing for Absolution", "Muscle Museum" ou "Unintended" seriam porventura as mais desejadas, mas a banda volta a trocar as voltas e serve a sinfónica "Exogenesis: Symphony Pt 1: Overture" (falsete irrepreensível de Bellamy), saltando depois para o estrondoso "Stockholm Syndrome" e o divinal "Knights of Cydonia", acompanhado por coro gigantesco e explosões de fumo a finalizar. O culto dos Muse em solo nacional - bem sustentado por concertos memoráveis na Aula Magna, em festivais a norte e a sul e no Campo Pequeno - está mais vivo que nunca e o trio britânico voltou a justificar esta noite a chusma de prémios relativos às suas prestações ao vivo que recebeu em terras de sua majestade. Bravo é dizer pouco.

Alinhamento:

"Uprising"

"Resistance"

"New Born"

"Map of the Problematique"

"Supermassive Black Hole"

"MK Ultra" "Hysteria"

"United States of Eurasia"

"Feeling Good"

"Guiding Light"

"Undisclosed Desires"

"Starlight"

"Plug In Baby"

"Time Is Running Out"

"Unnatural Selection"

"Exogenesis: Symphony Pt 1: Overture"

"Stockholm Syndrome"

"Knights of Cydonia"



sábado, 28 de novembro de 2009

Atenção ao criativo do Sporting: Pedro Proença

QUEM será o elemento mais perigoso para o Benfica, no derby de hoje? A resposta é evidente: o nosso adversário mais criativo será o árbitro Pedro Proença. Quem se lembra do modo como, no ano passado, inventou um penalty a favor do Porto por falta inexistente de Yebda sobre Lisandro Lopez, reconhece nele um criativo com muita imaginação e capacidade de decidir uma partida. Na dúvida, Pedro Proença decide sempre contra o Benfica. Prejudicar o clube que alegadamente prefere foi a forma que encontrou de exibir uma suposta imparcialidade. Outra hipótese era arbitrar de acordo com as leis do jogo, mas é mais difícil. A comissão de arbitragem retribui nomeando-o sistematicamente para jogos importantes. É mais um factor de interesse para o jogo de hoje: como vai Pedro Proença prejudicar o Benfica para mostrar a toda a gente que é um benfiquista imparcial? Com Yebda a jogar em Inglaterra, será mais difícil, mas para Proença não há impossíveis.

Repare o leitor na dualidade de critérios que grassa no futebol português: o Porto foi a Oliveira do Azeméis jogar com um desses clubes pequenos cujo relvado é reconhecidamente péssimo. O jogo foi adiado até que haja condições para jogar. O Benfica vai a Telheiras jogar com um desses clubes pequenos cujo relvado é reconhecidamente péssimo. O jogo realizar-se-á na data prevista.
Pior para nós, uma vez que o Sporting atravessa um bom momento. Tem um treinador, mas comunicou a sua contratação à CMVM de madrugada e ainda não o apresentou. A primeira vez que apareceu, foi na internet — como os boatos e os vírus informáticos. É um treinador clandestino, o que constitui uma vantagem: assim, os adeptos não sabem na direcção de quem agitar lenços brancos.
Há uns meses, o presidente do Sporting disse que o fundo de jogadores do Benfica era uma vergonha. Agora quer, sem grande sucesso, imitá-lo. O que desejo para o derby desta noite é exactamente isso: um resultado que os sportinguistas considerem hoje uma vergonha e que, no futuro, pretendam, sem sucesso, imitar.
Não será fácil, visto que o Benfica vive tempos difíceis. O derby joga-se precisamente na altura em que o clube se vê mergulhado num escândalo. Há uns anos, se bem se recordam, a Selecção Nacional passou por escândalo muito semelhante: num estágio, os jogadores tinham estado agarrados a senhoras cuja profissão dizem ser, embora eu não concorde, pouco digna. Esta semana, calhou ao Benfica: Jorge Jesus apareceu na imprensa abraçado a uma pessoa cuja profissão é, de facto, pouco digna. Foi repugnante e esperamos todos que não se repita.
Cada vez gosto mais da série Liga dos Últimos. Na semana passada, o episódio era especialmente divertido: foi preenchido com a transmissão integral de um jogo entre os Pescadores da Costa da Caparica e outra colectividade cujo nome já não recordo. O costume: treinadores patuscos, adeptos rústicos, jogadores com mais vontade que talento. Na primeira parte, os Pescadores dominaram. Os adversários não pareciam capazes de vencer onze peixeiras, quanto mais pescadores. Na segunda parte, porém, algum excesso de confiança dos Pescadores permitiu uma surpreendente reviravolta. Quem diz que nos escalões inferiores não há emoção?



Por Ricardo Araújo Pereira, edição 28 Novembro 2009 - Jornal "A Bola"


sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Novo supergrupo à vista

Um supergrupo formado por Jimmy Page, Joe Perry, Eric Clapton e Brad Whitford poderá estar na iminência de aparecer.

O produtor Kevin Shirley (Iron Maiden, Led Zeppelin) revelou no seu blogue ter havido sessões de estúdio com os quatro músicos. Mesmo tendo negado a existência de um supergrupo, as gravações irão continuar em 2010.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Apple recusa-se a reparar computadores de fumadores

A Apple é acusada de não prestar assistência técnica a computadores de clientes que fumam, alegando que os aparelhos estão "contaminados" e podem prejudicar a saúde dos técnicos.

O site "The consumerist" recebeu duas queixas de clientes da Apple, juntamente com uma cópia das cartas que estes enviaram ao presidente do grupo Steve Jobs a apresentarem a sua reclamação, não tendo obtido qualquer resposta.

Os clientes queixam-se que os funcionários das lojas da Apple recusaram reparar os seus computadores alegando que os contratos têm uma série de requisitos e comportamentos que suspendem a garantia dos aparelhos, nomeadamente o facto destes serem utilizados em ambientes adversos, como casas onde se fuma.

Os clientes adiantam também que as lojas da Apple têm uma lista de produtos nocivos, que incluem a nicotina e o pó de talco, pelo que argumentam que reparar o computador de pessoas que fumam pode ser prejudicial aos seus trabalhadores.

domingo, 22 de novembro de 2009

sábado, 21 de novembro de 2009

A Selecção de quem Carlos Queiroz quiser

DE que falamos quando falamos da Selecção Nacional? Curiosamente, falamos de Scolari. Os apreciadores de Scolari gostam de recordá-lo e os seus críticos não conseguem esquecê-lo. Pessoalmente, tenho acerca de Scolari uma opinião muito particular que é não ter opinião nenhuma. Nunca soube nem me interessei por saber se era bom ou mau treinador. Não dou assim tanta atenção à Selecção Nacional. De Scolari, sei apenas o que os números fazem a gentileza de indicar: que é o treinador mais bem sucedido de sempre da selecção portuguesa. Além de ter sido campeão nacional e sul-americano de clubes e campeão mundial de selecções. De Carlos Queiroz, sei que, como treinador principal de seniores, nunca foi campeão de coisa nenhuma. E, na minha opinião, nota-se. No entanto, os apoiantes de Queiroz falam como se ele tivesse o currículo de Scolari e Scolari tivesse os resultados de Queiroz.

O próprio Queiroz fala como se, tendo conquistado o direito a ir ao Campeonato do Mundo, tivesse conquistado o Campeonato do Mundo. Apesar de tudo, há diferenças. Em princípio, a final do Campeonato do Mundo não será contra a Bósnia. Isso não impede Queiroz de se comportar como dono da Selecção. Esta já não é a Selecção de todos nós, é a Selecção de quem Carlos Queiroz quiser. A ida ao Campeonato do Mundo é para celebrar apenas com aqueles que sempre acreditaram. Os hereges que tiveram a desfaçatez de não acreditar que uma Selecção incapaz de ganhar a dez albaneses conseguiria ir ao Mundial, estão excluídos dos festejos. É bem feita. Quem ousa criticar a Selecção por bagatelas como um empate em casa contra uma Albânia desfalcada tem o que merece.

Os apoiantes de Queiroz, os únicos devidamente autorizados a festejar o apuramento da Selecção, estão, infelizmente, incapacitados de celebrar. A Selecção joga mal, pelo menos tão mal como eles diziam que jogava a de Scolari. A Selecção tem sorte, pelo menos tanta sorte como eles diziam que a de Scolari tinha. A vitória da Dinamarca sobre a Suécia e as três bolas no ferro contra a Bósnia parecem obra da Senhora do Caravaggio. A única diferença em relação à Selecção de Scolari é que, antigamente, conseguíamos a qualificação directa, e agora temos de ir ao play-off. Mas isso não chega para fazer com que os apoiantes de Queiroz deixem de sentir que estão, de facto, a festejar uma vitória à Scolari. Um deles disse que esta Selecção é tão mais fraca do que a de Scolari, que o apuramento foi um milagre. Juro: um milagre. Que conjugação de astros foi necessária então para que a Dinamarca, que não tem o melhor do mundo, nem jogadores do Real Madrid, Chelsea e Manchester United, se tivesse qualificado à nossa frente? Como se chama um milagre que é maior do que os milagres?

Por ricardo araújo pereira, Edição 21 Novembro 2009 - Jornal "A Bola"

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Castigar Henry?

Sobre o lançe do já celebre França-Irlanda fica apenas um pensamento:

Quando um jogador simula um penalty ou faz uma agressão a outro jogador pode ser castigado por vários jogos já depois de o jogo ter terminado!!

Então porque não castigar exemplarmente o Henry? O que ele fez foi tentar enganar o árbitro jogando a bola com a mão para que esta nao saísse do terreno de jogo demonstrando assim a falta do tal fair-play...

André Cardoso.

L´équipe


quarta-feira, 18 de novembro de 2009

A palavra Cinismo

Os portugueses têm pelas palavras um amor platónico.
Talvez seja uma palavra gasta. Como cidadania. Como amor. Ou como a velha e, por isso, vilipendiada democracia. O que gasta as palavras não é o excesso de uso, mas a falta de correspondência. O que é o amor, quando não é acto de dádiva? Sem gestos, trabalho, coragem, as palavras secam. O amor dos portugueses pelas palavras é demasiado platónico. Habituámo-nos à beleza das palavras nos livros, uma beleza de folhas secas, outonal, consolação desconsolada do que podia ser mas nunca foi. Vivemos de sonhos e queixumes, alucinados pelo que nos falta e faltando à realidade que os sonhos nos pedem. Adiamos. Adiamo-nos. Dizemos que matamos o tempo e deixamos que o tempo nos mate. Um dia destes, pensamos, vou dizer tudo o que não disse. Vou fazer tudo o que não fiz. Pensamo-lo com raiva e desespero e vontade e paixão, solitários por entre as gentes. Depois respiramos fundo e adiamos. Por medo ou brandura ou nem isso. Coisas mais pequenas: cagaço, moleza. Ou a grande palavra dos países que não souberam crescer: deslumbramento. O lado de fora do servilismo, que é o avesso concreto do civismo. Precisávamos de criar um dicionário novo, onde as palavras reluzissem com o significado que possuíam antes de as usarmos como trampolins para tronos de miseráveis poderes, porque é miserável todo o poder que se serve a si mesmo em vez de servir a melhoria do mundo.
Amanhã estaremos todos mortos, meus amigos. Sobreviverá a Terra, com a marca que nela deixarmos. Sobreviverá a poeira da memória que deixarmos nos outros - só isso. Civismo é compromisso com o futuro, exercício de amor. E o amor não correspondido desmorona-se, apaga-se, desfaz-se em névoa e amargura. Nem as pedras resistem ao abandono - a profusão de palácios, edifícios e monumentos em ruína acelerada testemunha os efeitos dessa falta de civismo com que nos desrespeitamos a nós mesmos e à nossa História. A areia das praias cheia de lixo, as ondas do mar carregadas de latas, sacos de plástico, garrafas que trazem a mensagem da nossa pior pobreza, que é a de espírito. As fachadas riscadas de insultos e sujidade são o nosso rosto como nação. Deveríamos começar por aplicar a ira que dirigimos à actriz brasileira Maité Proença por cuspir num monumento diante das câmaras de televisão a todos os portugueses que diariamente escarram no chão ao nosso lado - e são muitos. E também aos que estacionam os carros no meio da rua para irem tratar da sua vidinha, imunes ao incómodo que causam à vida dos outros. E ainda aos que furam filas, a olhar para o ar, aos que acham natural que lhes abramos as portas sem se dignarem a soltar uma palavra de agradecimento. E são imensos os que não sabem agradecer as portas que se lhes abrem, física ou metafisicamente. Civismo é memória e gratidão. Ao cessar as suas funções como presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, Paula Teixeira da Cruz lembrou a necessidade de agradecer aos que sabem servir generosamente a causa pública, sem olhar a divisões partidárias. E sublinhou a urgência da prática do civismo como forma quotidiana de combate às múltiplas corrupções. O seu mandato à frente do Parlamento da cidade foi um exemplo de dedicação isenta e valorosa à causa pública. Há outros exemplos assim - mas poucos, muito poucos para que a mudança do país possa ser real.
Enquanto o assalto à vara sobre o erário público continuar a compensar, enquanto os que traem metodicamente os seus compromissos e fazem da lealdade sinónimo de subserviência continuarem a prosperar, enquanto os que vivem a lamber as botas dos poderes vigentes, mendigando mordomias, continuarem a latir de contentes, o país não sai de crise nenhuma. Para isso era útil que os políticos aprendessem aquilo que a lisonja lhes faz esquecer, essa coisa simples que é distinguir o trigo do joio. Os 'valores' com que enchemos e despejamos a boca começam por aí, e é facílimo: basta atender às acções das pessoas, à sua entrega ao bem comum, à correspondência entre o que dizem e o que fazem. Basta não ceder à tentação de confundir lealdade e oportunismo, arrogância e liderança, gabarolice e eficiência. Poucos são os que resistem a tempo inteiro ao encantamento do poder - mas cada um de nós, nas suas acções e atitudes quotidianas, é responsável por isso. Os que hoje mandam não são diferentes de nós - e é em nosso nome e para cada um de nós que exercem a profissão de decidir.
Texto publicado na edição do Expresso de 14 de Novembro de 2009 - Opinião - Inês Pedrosa

sábado, 14 de novembro de 2009

Villas Boas deu às de Vila Diogo

No momento em que escrevo, o Sporting continua sem treinador por não ter tido capacidade para contratar o técnico da Académica de Coimbra. Quem sonha alto arrisca-se a desilusões, e o homem que orienta o último classificado da Liga Sagres e iniciou a carreira no mês passado veio a revelar-se uma fantasia impossível para o clube leonino. Ainda assim, na comunicação social, André Villas Boas foi treinador do Sporting durante cerca de 10 minutos. Apesar da curta carreira, já vai tendo currículo: bateu o recorde do saudoso Vicente Cantatore. Além disso, há que reconhecer que teria sido uma escolha inteligente: a contratação de Villas Boas contribuiria para desestabilizar a Académica, um adversário directo do Sporting na luta pela manutenção. Trata-se de um homem cujo apelido tem dupla consoante, tal como o de Bettencourt, o que é especialmente apropriado para um clube como o Sporting. É um técnico que teria certamente muito para ensinar a jovens como André Marques e Pereirinha, mas também poderia aprender com jogadores mais velhos do que ele, como Tiago e Angulo. Perdeu-se um intercâmbio de conhecimentos que poderia ter sido muito interessante. Mais: sabendo que Sá Pinto é o novo director do futebol profissional do Sporting, é conveniente contratar um treinador jovem, que não tenha memória do que Sá Pinto costumava fazer aos treinadores, com destaque para Artur Jorge.

Enfim, foi pena. Segundo os jornais, José Eduardo Bettencourt pretendia um treinador português e experiente, e André Villas Boas já tem quatro ou cinco jogos oficiais debaixo do cinto, um dos quais conseguiu mesmo vencer. Não será fácil descobrir candidatos mais experimentados. Por outro lado, numa conferência de imprensa que é já histórica, Bettencourt disse que o próximo treinador seria caucasiano. Ao mesmo tempo que excluía, por exemplo, Oceano, a declaração do presidente do Sporting parecia apontar claramente para Villas Boas, cujo cabelo arruivado é uma garantia inequívoca de pertença ao tipo racial que Bettencourt procura.

Ontem, no entanto, tudo parece ter terminado. A meio da manhã, o Sporting comunicou à CMVM que se encontrava a efectuar, e cito, «contactos (…) com o representante do treinador André Villas Boas». Mas, à tarde, a Académica publicava uma nota segundo a qual, volto a citar, «a Académica e o Sporting não chegaram a acordo para a transferência do técnico para Alvalade». E, às 19h10, a página de A BOLA na internet noticiava que José Eduardo Bettencourt, instado a revelar o que teria falhado nas negociações com a Académica para contratar André Villas Boas, tinha dito que, e cito novamente, «não falhou nada, houve por parte da comunicação social muita especulação acerca do tema. Nunca houve contactos directos com quer que seja, mas mesmo assim a comunicação social deu-o como certo no Sporting». Já se sabe como é esta comunicação social. Só porque o Sporting comunica à CMVM que está a efectuar contactos com o representante de André Villas Boas, a comunicação social especula imediatamente que o Sporting está a efectuar contactos com o representante de André Villas Boas. Pelo simples facto de a Académica tornar público que as negociações falharam, entretém-se inventar que houve negociações, e que - imagine-se! - falharam. A saída de Paulo Bento pode ter sido um pouco conturbada, mas felizmente o futuro está a ser preparado de uma forma muito organizada e segura. As bases do novo ciclo são, sem dúvida, muito sólidas, o que deve tranquilizar os sportinguistas

Por Ricardo Araújo Pereira, Edição 14 Novembro 2009 - Jornal "A Bola"

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Com a ajuda do Google, pai encontra filha após 30 anos

Uma busca no Google fez com que um pai encontrasse a filha, após três décadas de separação, nos EUA. April Antoniou, de 30 anos, morava no Estado da Geórgia, e o seu pai, Scott Becker, no Kansas. Reencontraram-se este mês e, desde então, têm sido assediados por emissoras de TV norte-americanas.

Antoniou disse que frequentemente procurava o nome do pai no Google, mas que não tinha muita sorte porque o seu nome do era relativamente comum - além do facto dela saber muito pouco sobre ele.

Acabou por digitar «Scott Robert Becker procurando por April» na caixa de buscas do Google há poucos dias, e descobriu um site criado pelo pai há sete anos, cujo endereço é www.aprilbecker.com, e no qual ele redigiu a seguinte mensagem: «Querida April, Quando leres isto, por favor, envia um e-mail para: april@aprilbecker.com. Eu sou o teu pai e gostaria de falar contigo. Quando eu receber o teu e-mail, vou fazer duas perguntas que apenas tu poderás responder. Tens uma irmã mais nova, que quer muito falar contigo. O teu pai Scott Robert Becker». Becker disse a uma televisão norte-americana que tem procurado por April desde que se divorciou da sua mãe, poucos meses depois do aniversário de um ano da filha, e que gastou 10 mil dólares em detectives com o intuito de procurá-la.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Palavras (1)

inadimplente adj. 2 gén. s. 2 gén.

inadimplente (in- + adimplente)
adj. 2 gén. s. 2 gén.
Jur. Que ou quem não cumpre uma obrigação. = incumpridor ≠ adimplente

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entropia s. f.
entropia (francês entropie)
s. f.
1. Fís. Medida da desordem de um sistema.
2. Fís. Medida da quantidade de energia que não é convertida em trabalho mecânico.
3. Desordem ou imprevisivilidade.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Frase

Há seres humanos que quando se confrontam com a forma como a mediocridade e a bestialidade são idolatradas .... têm muita dificuldade em superar as contradições entre os seus valores e princípios e a futilidade das vidas dos que os rodeiam.
Por: Anónimo.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Robert Enke (24 Agosto 1977 – 10 Novembro 2009)

Robert Enke morreu aos 32 anos. O guarda-redes atirou-se para uma linha de comboio em Neustadt am Rübenberge, Hanover. "Posso confirmar que foi suicídio", disse Robert Neblung, amigo e empresário do jogador, à agência SID.

O antigo guardião do Benfica, entre 1999 e 2002, recuperava de uma infecção que o afastou dos relvados nas últimas semanas e estava prestes a regressar à competição. Enke e a sua mulher, Teresa, ainda estavam de luto pela morte da filha Lara, ocorrida em Setembro de 2006, após complicações cardíacas decorrentes de uma operação aos ouvidos.

"É uma notícia horrível", disse o presidente do Hannover 96, Martin Kind, que foi informado pela polícia no aeroporto, quando regressava de uma reunião da Liga alemã. "Esperávamos muito coisa, mas algo assim não, não sei o que aconteceu e porquê", disse Kind à agência dpa.
O presidente do clube da Bundesliga, onde joga o português Sérgio Pinto, mostrou-se convicto, no entanto, de que a morte de Enke "não teve nada a ver com o futebol".
Devido à infecção bacterial, o antigo guarda-redes das águias esteve algum tempo afastado dos relvados, não participando nos jogos do seu clube nem sendo convocado para os últimos quatro encontros da selecção, depois de ter conquistado a titularidade.
Também não tinha sido chamado para os jogos particulares com o Chile e a Costa do Marfim, a 14 e 18 de Novembro. No entanto, o seleccionador, Joachim Löw, tinha deixado claro que contava com ele para número um da baliza alemã no Mundial'2010, na África do Sul.
Enke, internacional oito vezes, nasceu a 24 de Setembro de 1977, em Jena, na então República Democrática da Alemanha, e ao longo da sua carreira representou o Carl Zeiss Jena, o Borussia de Mönchengladbach, Benfica, Barcelona, Fenerbahçe, Tenerife e Hannover 96, no qual alinhava desde 2004.
A Federação alemã recebeu a notícia logo após um dos treinos do estágio que está a realizar em Bona para o jogo com o Chile. Entretanto, o organismo publicou um comunicado em que manifesta o seu "profundo pesar" pela morte de Robert Enke, e Joachim Löw e o director desportivo, Oliver Bierhoff, informaram os jogadores. "Estamos todos muito chocados e sem palavras", disse Bierhoff à SID.

O governador da Baixa-Saxónia, Christian Wullf, mostrou-se também muito abalado com a notícia da morte de Enke. "A Alemanha perdeu um atleta de excepção e uma pessoa sensível, que foi um exemplo para muitos, estamos de luto e enviamos condolências à mulher, à família e aos seus muitos amigos", disse Wullf num comunicado da chancelaria do governo regional, em Hanover.

A nível profissional, o melhor elogio que podemos fazer a Robert Enke é que foi, aos 19 anos, um digno sucessor de Michel Preud'homme. Um atleta íntegro e dedicado, que defendeu a nossa camisola com brio e competência muito acima da média. Paz à sua alma.

A Frase

«Sou realista. Se fizesse o jogo pelo jogo, ao intervalo já estávamos a perder por 5-0. Jogar taco a taco frente ao Benfica era o mesmo que dar um tiro na cabeça»

Agusto Inácio - Treinado da Naval.

A Bola - capa de dia 10 de Novembro


09 de Novembro de 2009 - Benfica 1 - 0 Naval.

sábado, 7 de novembro de 2009

Esta vida são dois dias e 'forever' são 171

O treinador do sétimo classificado do campeonato nacional demitiu-se e, surpreendentemente, os jornais não falam de outra coisa. Para um clube que se queixa de falta de atenção da imprensa, estes só podem ser dias muito felizes. Adeptos e dirigentes do Sporting protestam muitas vezes por terem menos espaço nas primeiras páginas dos jornais do que os principais adversários. Talvez seja verdade: dos três grandes, o Sporting será o que tem menos visibilidade na imprensa. Mas, dos clubes do meio da tabela, é o que tem mais. Eis o lado positivo da questão — no qual os sportinguistas, pessimistas como só eles, nunca reparam.

Três ou quatro meses depois de terem dado um esmagador voto de confiança a um presidente que lhes tinha prometido «Paulo Bento forever», os sportinguistas exigiram, através de lenços brancos, faixas insultuosas e desacatos, que o treinador fosse despedido. O presidente não lhes fez a vontade: Paulo Bento não foi despedido, demitiu-se. Não foi o Sporting que disse a Paulo Bento que não estava mais interessado no seu trabalho. Foi Paulo Bento que comunicou ao Sporting que o clube não era suficientemente ambicioso, competitivo e decente para ele. E ainda diziam que o homem não tinha visão nem percebia de futebol. Afinal, era das pessoas mais perspicazes que o Sporting tinha.

No entanto, na hora da saída, Paulo Bento fez algumas declarações que contrariam um pouco a ideia de que faz análises sensatas do momento que o Sporting atravessa. Disse, por exemplo, que os sportinguistas deveriam deixar de ter o actual complexo de inferioridade em relação ao Benfica. Qualquer observador isento sabe que não se chama complexo de inferioridade àquilo que os sportinguistas sentem. Chama-se simplesmente realismo. Enquanto o Benfica despachava facilmente a equipa que, no ano passado, ficou em quinto lugar no campeonato inglês, o Sporting esforçava-se por empatar em casa com uns desconhecidos. Pedir a esta gente que não tenha complexos de inferioridade em relação ao Benfica é como dizer ao Zé Cabra que não deve sentir-se inferior ao Pavarotti.

Neste momento, o Sporting precisa de calma. Há que contratar um Manuel Cajuda qualquer e começar a lutar seriamente pela manutenção, quem sabe até pela Europa. E, para o ano, esperar por adversários um pouco menos poderosos do que o Ventspils, e tentar fazer um brilharete.

Por Ricardo Araújo Pereira in jornal abola 07/11/2009

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Também foram os 'No Name Boys' que andaram aos tiros em Alvalade?

Para João Gabriel, director de comunicação do Benfica, «a Federação Portuguesa de Futebol actuou com ilegalidade» ao atribuir o título nacional de juniores ao Sporting. Do lado do Sporting, Pedro Mil-Homens, administrador da SAD, tem sobre o assunto uma opinião exactamente contrária: «a Federação Portuguesa de Futebol aplicou a Lei.» Normalmente é assim entre Benfica e Sporting. Raramente estão de acordo na apreciação dos factos.

Tome-se por exemplos os dois factos mais recentes.

O primeiro facto em causa ocorreu em Alcochete, na Academia sportinguista, palco do jogo decisivo do campeonato nacional dos mais jovens. Ao Benfica bastava o empate para conquistar o título e era precisamente esse o resultado, 0-0, quando aos 25 minutos da primeira parte deu entrada no recinto a claque benfiquista dos No Name Boys que tinha ficado retida por força do intenso tráfego no rio Tejo ou por força dos procedimentos de segurança que se presumem obrigatórios na organização de espectáculos deste género.


E, logo aqui, se presumem novos desentendimentos entre as opiniões benfiquistas e sportinguistas. Os benfiquistas garantem que o que reteve a claque foi uma barreira policial de controlo. Mas, para os sportinguistas, a claque dos visitantes chegou tarde ao jogo ou de propósito ou porque se demorou na travessia do rio — uma desova de robalos a sudoeste do 18.º pilar da Ponte Vasco da Gama ainda veio complicar mais as coisas…

Lamentavelmente não há imagens televisivamente que esclareçam esta problemática. As imagens de que todos dispomos são já do interior da Academia, com o jogo a decorrer, e com as claques afectas aos dois emblemas entretidas numa ruidosa guerra de paus e de pedradas.

Para os sportinguistas, foram os No Name Boys que entraram no recinto carregados de pedras que, imediatamente, começaram a lançar sobre a assistência que tinha chegado primeiro. Para os benfiquistas, passou-se precisamente o contrário. Recebidos com paus e com pedras na Academia de Alcochete, os elementos da claque benfiquista limitaram-se a responder utilizando o mesmo material.

A única solução sensata deste triste conflito — a repetição do jogo à porta fechada e a punição dos dois clubes — foi, ao que parece, imediatamente posta de lado pela Federação Portuguesa de Futebol.

E, no final de um longo processo de investigação, prevaleceram os argumentos dos responsáveis do Sporting que vincaram muito bem vincado, e logo em cima do acontecimento, que sendo o Benfica um clube muito popular e que sendo Sporting uma agremiação de origem brasonada e de gente das melhores famílias seria «de todo» impossível que fossem os seus adeptos a atirar as primeiras pedras.

E foi a esta conclusão que chegou também o Conselho de Justiça da FPF: «os adeptos da casa invadiram o terreno de jogo em fuga às tentativas de agressão, que incluíram arremesso de pedras, por parte da claque visitante.»

Vamos lá então ao segundo facto…

Na noite de domingo, em Alvalade, o Sporting empatou com o Marítimo e, no final do jogo — que decorreu até ao fim… — e de acordo com os relatos da imprensa, sempre imparcial, houve «uma tentativa frustrada de invadir o hall vip», «tiros para o ar e jogadores sitiados no estádio» e uma acção policial «que só à bastonada e à lei da bala conseguiu repelir os adeptos em fúria».

A coisa foi brava. Segundo o superintendente Costa Ramos, da PSP, «a própria Polícia foi apedrejada e levou com grades em cima».

Impossível! «De todo», impossível!

E, claro, também sobre este episódio benfiquistas e sportinguistas têm opiniões diferentes. Ou, melhor, enquanto uns têm uma certeza, os outros têm uma dúvida.

Os sportinguistas têm a certeza de que, uma vez mais, os autores dos desacatos em Alvalade foram os No Name Boys que, pintados de verde, se infiltraram no recinto na ânsia de causar confusão e de provocar divisões nas fileiras do adversário.

Os benfiquistas, esses, têm uma dúvida:

— Mas também foram os No Name Boys que andaram aos tiros em Alvalade?

Os benfiquistas têm, aliás, várias dúvidas:

— Mas as claques dos outros clubes também atiram pedras?

— Mas, no Sporting, não é costume deles resolverem todos os conflitos internos através de enfadonhos jogos de cricket?

— E o que é que nós temos a ver com isso?

Isso mesmo. Sejamos desportistas.

Parabéns ao Sporting pelo seu título nacional de juniores.

*********************

O Benfica devia apelar ao Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol. Não, não é por causa do título de juniores, que está muito bem entregue, muito bem resolvido e que devia até fazer jurisprudência em casos semelhantes de violência fora das quatro linhas.

O Benfica devia apelar ao Conselho de Justiça por causa das ocorrências no túnel do Estádio Axa, em Braga, e em função da tal jurisprudência que emanou da decisão tomada sobre as ocorrências na Academia de Alcochete no tal jogo decisivo do campeonato de juniores.

A questão para a nossa justiça desportiva é esta:

— Quem é que começou?

E, de acordo com o Conselho de Justiça, quem começou é quem tem de ser fortemente penalizado. Ou seja, o primeiro agressor é condenado e quem, em legítima defesa, responde a agressões deve ser premiado.

Há westerns maravilhosos a partir deste pressuposto.

Voltando ao futebol.

Se esta lógica funcionou para premiar com o título de campeão nacional de juniores o Sporting, deveria também funcionar para premiar os jogadores do Benfica que, fora das quatro linhas, foram agredidos no intervalo do jogo com o Sporting de Braga. Sempre de acordo com os factos tal como foram relatados na imprensa, Ramires foi agredido por um elemento da segurança bracarense, o treinador-ajunto Raúl José foi agredido por Vandinho e Cardozo foi agredido «de vários lados» mas, principalmente, por Leone. O nosso bom paraguaio, que basta olhar para ele para vermos que tem mesmo cara de facínora, agredido de «vários lados» é bem capaz de ter levantado a mão para se proteger. Também não se pode exigir a Cardozo, que tem aquele sorriso de assassino que é a sua imagem de marca, que não exerça os seus direitos à legítima defesa quando lhe cai em cima uma saraivada de murros.

Conclusão: o árbitro expulsou Cardozo no túnel e o Benfica vai jogar sem Cardozo contra a Naval e contra o Vitória de Guimarães.

Quanto ao que se passou dentro das quatro linhas, a coisa é fácil de resumir. O Benfica foi frequentemente superior ao Sporting de Braga mas teve um grande problema com a autoridade visto que o Benfica nunca conseguiu, ao longo de 90 minutos, ser superior ao árbitro que veio do Porto. Curiosamente, os acontecimentos do túnel, reflectem muitíssimo bem o que se passou no relvado.

Por Leonor Pinhão, Edição 05 Novewmbro 2009 - Jornal "A Bola"

terça-feira, 3 de novembro de 2009

domingo, 1 de novembro de 2009

Cardozo agredido no túnel por segurança

Quando o árbitro apitou para o intervalo, Di María chutou a bola contra o banco bracarense e cuspiu na direção de Domingos.

Esta atitude provocou a ira dos jogadores do Sp. Braga que se envolveram com os atletas encarnados à entrada do túnel de acesso aos balneários, questionando a ação do internacional argentino.

O treinador do Sp. Braga e vários elementos ligados aos dois clubes tentaram, sem sucesso, separar os jogadores. A polícia teve de intervir mas, já no meio da confusão, o defesa do Sp. Braga, Ney Santos, agrediu Cardozo com uma bofetada. No entanto, quando o paraguaio se virou para trás já só viu André Leone, tendo ficado com a sensação de que foi o defesa brasileiro quem o agrediu.

Já dentro do túnel, Tacuara foi tirar satisfações com Leone. Os ânimos aqueceram e os dois sul-americanos agredirem-se mutuamente, tendo sido necessária a intervenção dos seguranças que, na tentativa de acalmar os jogadores, agrediram o avançado encarnado.

Antes de entrar para o túnel a equipa de arbitragem afastou-se da confusão para ter uma visão privilegiada de tudo o que aconteceu, e quando observou os dois jogadores a agredirem-se deu, imediatamente, ordem de expulsão.

sábado, 31 de outubro de 2009

Associação Portuguesa de Árbitros do Porto

Dias depois de ter nomeado um árbitro do Porto para um jogo do Benfica, a Comissão de Arbitragem nomeou outro árbitro do Porto para um jogo do Benfica. O portuense Jorge Sousa dirigirá o Braga-Benfica de hoje. Para o Benfica, a APAF é, na verdade, uma APAP: Associação Portuguesa de Árbitros do Porto. Ao que parece, os árbitros oriundos da cidade do Porto estão mais qualificados para arbitrar os jogos do Benfica. Trata-se de uma coincidência que, aliás, se saúda: sempre é da maneira que a cidade do Porto consegue ter um elemento seu ligado a um bom jogo de futebol. Nos dias que correm, já é bem bom.
Dias depois de Bruno Alves, com risco para a sua própria integridade física, ter tido a grandeza de esticar a perna e pontapear a cabeça de um jogador da Académica que se encontrava caído, Jesualdo Ferreira avisou que estará atento à conduta de Pablo Aimar. Faz sentido. Quando caiu na área do Nacional, Aimar podia ter alçado a perna para atingir o adversário na cabeça e não o fez. Estamos perante um comportamento que só pode causar estranheza no Estádio do Dragão. Ontem, Bruno Alves aplicou uma joelhada na nuca de um adversário. Como se costuma dizer, o campeonato é uma prova de regularidade, e Bruno Alves é mesmo muito regular.
Dias depois de ter recebido variadíssimos prémios por causa do brilharete que fez na época passada, a equipa do Porto (e também o Hulk) empatou em casa contra um forte conjunto que o Benfica cilindrou por 4-0 fora. A equipa do Porto (e também o Hulk) teve algumas dificuldades, mas merece o benefício da dúvida: Falcao está a demonstrar que é um muito razoável suplente, bem como um tal Rodríguez. Quanto aos outros problemas, serão fáceis de solucionar: se houver uma bola para a equipa do Porto e outra para o Hulk, jogará cada um para seu lado na mesma, mas sempre se entretêm mais.
Dias depois de Pinto da Costa ter dito que o Braga era o principal adversário do Porto, os bracarenses queixaram-se de terem sido prejudicados pela arbitragem. Se há surpresas no futebol português, esta é uma delas: o principal adversário do Porto, roubado? Não posso acreditar. Terei de ver o resumo do jogo em causa, mas até lá sinto-me tentado a acreditar que estamos perante um grande exagero.
Dias depois de terem perdido por 3-0 no Dragão, com um penalty que consideraram duvidoso e duas expulsões que lhes pareceram injustas, jogadores e técnicos do Nacional da Madeira perderam por 6-1 na Luz, com um penalty que consideraram duvidoso e duas expulsões que lhes pareceram injustas. A única diferença foi que, na Luz, marcaram um golo ilegal validado pelo árbitro (curiosamente, portuense). Por isso, criticaram duramente a arbitragem, enquanto no Dragão se mantiveram caladinhos que nem ratos. Manuel Machado gosta muito de falar caro, mas infelizmente é um fala-barato. E Ruben Micael disse que, no intervalo, aconteceram coisas no túnel, mas não quis revelar quais. Logo por azar, Ruben Micael tinha prometido, antes do jogo, que marcaria um golo na Luz, o que não viria a verificar-se. Não admira que já ninguém acredite muito no que diz Ruben Micael sobre o que vai acontecer ou já aconteceu na Luz.

Ricardo Araujo Pereira - Jornal abola 31-10-2009

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O poder do 'Gato Fedorento'

Marcelo Rebelo de Sousa temperou o programa 'Gato Fedorento Esmiúça os Sufrágios', o antepenúltimo, com um sorriso "matreiro" que, aliás, o próprio Ricardo Araújo Pereira devolveria a Marcelo numa das perguntas. O professor deixaria entretanto cair, no meio das gargalhadas - permitam esta linguagem felino-fedorenta -, alguns 'calduços' no poder, sobretudo no dos Gato que ali foram expondo, ao longo de mês e meio, primeiro-ministro, líderes da oposição actuais, antigos e putativos, e ainda muitas outros personagens do poder "tradicional", como lhe chamou Marcelo em contraponto com o poder dos humoristas. Com o pretexto de esmiuçar os sufrágios e num ciclo eleitoral intenso, o programa conseguiu audiências médias superiores a 1,3 milhões de espectadores. Manuela Ferreira Leite falou e até sorriu, durante alguns minutos, em plena campanha, para perto de dois milhões de espectadores. Paulo Portas teve uma audiência ligeiramente superior e o menos apelativo seria Moita Flores. Mesmo assim, o autarca de Santarém prendeu ao ecrã 1,061 milhões de espectadores. Era também deste poder que Marcelo falava, um poder, acrescenta, de que "os mais chatos" não desfrutam.
Mas o que verdadeiramente esmiuçaram os gatos? Ainda que sempre dispostos a fazer humor na surpreendente e incómoda pergunta virada e revirada à medida da piada, a resposta dos Gato à pergunta do Expresso foi enviada por e-mail: "Só respondemos por escrito", explicou-nos José Diogo Quintela. Respeitamos e transcrevemos a resposta: "Como o nome do programa sugere - de forma bastante subtil, aliás -, pretendíamos esmiuçar as eleições. Temos dúvidas de ter alcançado esse objectivo, mas já ficávamos satisfeitos se, em trinta programas, os espectadores tivessem achado alguma graça a dois".
Talvez com mais subtileza, Marcelo dava a sua opinião, nos bastidores, dizendo que "o humor aproxima tudo de todos". E que, "num formato curto e rápido", os espectadores vão abocanhando a actualidade política sem a "chatice do discurso politiquês", citando, nesta última expressão, Pacheco Pereira. É uma explicação para o corrupio de políticos à mesa de Ricardo Araújo Pereira.
"A classe política não fez fila para desfilar no nosso programa, no sentido em que quem esteve presente não o fez por se ter de alguma forma insinuado a ser convidado. Convidámos as pessoas, e as que acharam por bem aceitar estiveram no programa", dizem os Gato. Mas porque é que quase toda a classe política se expôs ali, apesar do desconforto de algumas perguntas? Dava para dizer que na política só há dois tipos: os que foram aos gatos e os que não foram, e nestes incluem-se Pacheco Pereira mas também Cavaco Silva. Ora, regressando ao humor, de tudo o que pingou das tertúlias humorístico-políticas, a entrevista a Marcelo seria, caso fosse a derradeira, uma boa despedida. Mas mais dois estavam já na linha de montagem: um virado para o futuro próximo, com Francisco Assis e Aguiar Branco - dois líderes parlamentares, da situação e da oposição - e outro, que seria com o Presidente da República, mas que este acabou por recusar. Cavaco confessaria a sua simpatia pelo humor dos Gato Fedorento e pelo programa em questão, mas, pelos vistos, com o chefe de Estado não se brinca.
O humor é assim, poderoso. Há até quem diga que mata, mas será também uma boa porta para a aproximação dos mais jovens à política? "Eventualmente, mas nunca foi nosso objectivo cumprir essa função. O nosso único objectivo é fazer humor", dizem os Gato. Mas Rafael, estudante do ISCTE, que fez fila para assistir, ao vivo, a este programa, garantiu que foi o humor de Ricardo, Zé Diogo, Miguel e Tiago que o "aproximou dos temas políticos" - e confessa que "contribuiu" para a sua opção de voto.
Humberto Costa (www.expresso.pt)
23:57 Quinta-feira, 29 de Out de 2009

terça-feira, 27 de outubro de 2009

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Mão robótica sensível

Foi criada uma mão robótica que permite aos amputados sentir o que estão a agarrar, para um controlo mais preciso dos movimentos.


De acordo com o site Physorg, a mão robótica foi criada, desenvolvida no âmbito do projecto Smart Hand, foi criada por investigadores da Universidade de Lund na Suécia e da Scuola Superiore Sant'Anna, em Itália.Esta prótese avançada demorou dez anos a ser criara e inclui quatro motores e quarenta sensores desenhados para providenciar sensação à pessoa que a usa. É o primeiro dispositivo do género a enviar sinais para o cérebro, permitindo ao utilizador experimentar sensações nos dedos e na mão.
Apesar dos avanços, a Smart Hand ainda está longe de funcionar como uma mão normal, visto nesta que existem milhões de sensores nervosos.A BBC fez uma reportagem sobre o primeiro implantado com a Smart Hand.

sábado, 24 de outubro de 2009

Jorge Jesus não tem mão na equipa

Lamento muito, mas um adepto não deve apenas dizer bem. Sobretudo quando é fácil. Apesar do bom futebol, das vitórias, do imenso receio que o Benfica inspira aos adversários, da profunda satisfação que todos os benfiquistas sentem quando vêem a equipa jogar, nem tudo corre bem. Um treinador deve exercer um controlo perfeito sobre a equipa e Jorge Jesus, por muito que me custe admiti-lo, não consegue. São já várias as conferências de imprensa em que o treinador do Benfica lembra que a equipa não pode golear sempre. Os jogadores, num acto de indisciplina recorrente, e que mereceria castigo sério, continuam a desmenti-lo. Quando chegou ao Benfica, Jorge Jesus disse que os jogadores iriam jogar o dobro do que haviam jogado no ano passado. Neste momento, os jogadores jogam o quádruplo do que Jorge Jesus pensava que eles iam jogar. É muito feio faltar ao prometido.
As falsas expectativas que o treinador do Benfica lançou no início da época tiveram efeitos muito negativos até na minha vida pessoal. Quando soube que o Benfica jogaria o dobro do que havia jogado no ano passado fiquei contente, mas não demasiado. O Benfica não jogava assim tanto para que a perspectiva de passar a jogar apenas o dobro fosse especialmente apelativa. Por isso, cometi a imprudência de marcar compromissos profissionais para dias de jogo do Benfica. Não pude ver no estádio a goleada ao Everton e fui forçado a acompanhar a goleada ao Belenenses apenas na televisão. Tivesse Jorge Jesus sido rigoroso e eu teria metido licença sem vencimento até ao fim da época.Muito embora o Benfica seja, neste momento, uma máquina de triturar equipas e fazer golos, muita gente adverte ainda para os perigos que podem resultar do entusiasmo dos benfiquistas. Pelos vistos, o entusiasmo benfiquista é perigoso. Quando as outras equipas perdem, o adversário joga melhor. Quando o Benfica perde, a culpa é do entusiasmo dos sócios. Não se percebe a razão pela qual os outros treinam: segundo esta curiosa teoria, basta entusiasmarem-nos o terceiro anel para estarmos em apuros. O mais interessante é que o mesmo entusiasmo, tão contraproducente, também é apontado como um factor que nos beneficia. Sportinguistas e portistas queixam-se de que a onda de entusiasmo contagia os jornais e empurra o Benfica, o treinador do Braga lamenta que o Benfica seja levado ao colo pela euforia dos seus próprios adeptos. Em Portugal, ser levado ao colo pelo entusiasmo dos adeptos é crime, ser levado ao colo pela arbitragem é dirigismo brilhante. O treinador do Braga, por exemplo, nunca se queixou disso. Calha sempre estar a olhar para o chão.

Por Ricardo Araújo Pereira, Edição 24 de Outubro 2009 - Jornal "A Bola"

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Saramago é português, ponto final!

As convicções de José Saramago são bem conhecidas. Assim como a qualidade da sua escrita, reconhecida pelos leitores e pela Academia Sueca. Perante estes factos, pode-se, com toda a legitimidade, optar por quatro posições em relação ao Nobel: admirar tanto as suas ideias como a sua obra, admirar as ideias mas não a obra, detestar as ideias mas admirar a obra ou, ainda, detestar ambas.

O que não é legítimo é questionar o portuguesismo do escritor sempre que se discorda dele. E por muitos choques que Saramago tenha tido, ou venha a ter, com sectores da sociedade portuguesa, é português, ponto. Nasceu em Portugal, estudou numa escola portuguesa, escreve em português, casou-se uma primeira vez com uma portuguesa, tem uma filha portuguesa, trabalhou em jornais portugueses, foi candidato a cargos políticos portugueses. Nos últimos anos, como é sabido, tem vivido em Espanha e casou-se com uma espanhola, nada que ponha em causa a sua condição de português. Nem o próprio, apesar de iberista, alguma vez disse que resignava à cidadania portuguesa.

Como em 1992, com O Evangelho segundo Jesus Cristo, que o Governo português recusou candidatar a um prémio internacional, a polémica ressurge com Caim, que também aborda um tema religioso. Que o comunista Saramago reafirme o ateísmo aos 86 anos não surpreende, o que surpreende é a reacção indignada de figuras da Igreja Católica e a solidariedade instintiva de certos sectores políticos. Não só vivemos num país onde existe liberdade de expressão, como a separação entre Estado e Igreja está na Constituição. E isso é que é digno de todo o destaque.

Retirado do Editorial do Diário de Notícias (22 de Outubro de 2009)

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A minha pátria já está no Mundial

Bom, não estará completamente, mas para lá caminha. Não quero parecer demasiado optimista. É certo que faltam ainda uns dois jogos decisivos mas, em princípio, em breve fica tudo resolvido e a minha nação estará na África do Sul: Luisão e Ramires já se apuraram, Aimar e Di María (e, quem sabe, Saviola) também, Óscar Cardozo está igualmente qualificado, Quim, César Peixoto e Nuno Gomes podem estar quase, assim como Maxi Pereira, e o seleccionador de Javi Garcia já disse que o tem debaixo de olho. Vai ser um Mundial em cheio, talvez como o de 1990, em que também estivemos presentes. Decorria a fase de grupos quando o meu primo me telefonou: «Estás a ver o jogo do Benfica?» Claro que estava. Boa parte das pessoas chamava-lhe Brasil-Suécia, mas era o jogo do Benfica: Ricardo Gomes, Mozer, Valdo, Schwarz, Thern e Magnusson como titulares, e Glenn Stromberg ainda entrou, para dar ao jogo um cheirinho a velhas glórias. Foi um belo desafio dos meus compatriotas. Espero que o próximo Mundial me traga mais desses.Talvez a maioria dos leitores não compreenda, mas sempre senti que o meu país é o Benfica. Sou português, claro, até porque o Benfica é português. Sou lisboeta, até porque o estádio da Luz fica em Lisboa. Mas a minha pátria é o Benfica. Sempre achei que pertencia mais ao país de Schwartz, Valdo e Filipovic do que ao de Fernando Couto, Jorge Costa e Sá Pinto. Os jogadores do Benfica são meus compatriotas; os da selecção nacional, nem sempre. Muito provavelmente, o leitor considerará que sou estranho, mas eu sinto-me muito mais compatriota de Ruben Amorim ou Fábio Coentrão do que de Liedson ou Pepe. É absurdo, eu sei, mas é assim.
Tenho estado a fazer uns tratamentos e aguardo resultados positivos em breve. Todos os dias, escrevo 10 vezes num caderno a frase «O Benfica não é obrigado a golear todos os jogos». E depois leio e finjo que acredito. Tudo isto serve para tentar moderar o entusiasmo, que é injustificado. O calendário tem sido favorável ao Benfica. Ainda não defrontou Porto, ou Sporting, o que já aconteceu com os outros. O Benfica limitou-se a dar três ao facílimo Paços de Ferreira (que empatou com o Porto) e dar quatro ao muito macio Belenenses (que empatou com o Sporting). Tudo jogos fáceis, claro. O avanço do Benfica não significa nada. Basta-me repetir esta frase um bom número de vezes e pode ser que passe a acreditar nisso. Os sportinguistas e portistas já conseguiram. Deve ser uma tarefa simples.

Por Ricardo Araújo Pereira - Edição 17 de Outubro 2009, Jornal "A Bola"