
Bom, cada um esbanja euforia no que pode. E gostos não se discutem: quem gosta de goleadas, vibra com goleadas; quem gosta de empates, deleita-se com empates. Como sabemos todos, desde os encontros do ano passado com Barcelona e Bayern de Munique os sportinguistas ficaram com a capacidade de apreciar goleadas ligeiramente abalada. Mas os empates mantiveram, para eles, o encanto que indiscutivelmente têm. Ainda no início desta época os vimos celebrar um empate contra o Twente. É importante não esquecer que a última grande vitória histórica do Sporting foi uma derrota em casa do AZ Alkmaar. Recordemos, por fim, que estamos a falar de um clube que chama herói ao lateral direito do Olhanense. À luz destes factos, creio que a alegria sportinguista é mais fácil de compreender.
Trata-se de uma alegria que é, aliás, tocante. Quem dera ao resto dos portugueses a inclinação que os sportinguistas têm para a felicidade. Eles, tal como o país, também estão em crise. Também não têm dinheiro. Têm um treinador que é mais um dos milhares de portugueses que enfrentam o flagelo do trabalho precário e dos contratos a termo certo, e sabe que, dentro de seis meses, estará no desemprego. No meio de tudo isto, no entanto, riem-se. Só eles sabem de quê.
Estou, claro, a exagerar. Há motivos de esperança. Desde o dia 21 de Setembro que o Sporting evidencia dificuldades para ganhar a equipas compostas por futebolistas. Mas, contra pescadores, normalmente não dão hipóteses. No campeonato da Docapesca, o Sporting seria um dos mais sérios candidatos ao título. E, no meio da tormenta, os jogadores mantêm o espírito de equipa: ainda esta semana Liedson disse que tinha dificuldades em jogar neste modelo e estava disposto a sair do onze para dar lugar a colegas que façam melhor do que ele. Estava a referir-se a Saleiro, Caicedo e Postiga. Além de ser uma magnífica piada, é dos mais belos actos de companheirismo que já vi. Mostra aos outros avançados que confia neles, e revela a todos os cépticos que Carvalhal é um treinador que consegue, num mês, o que Paulo Bento levou anos a fazer: incompatibilizar os jogadores com a sua táctica.
Por Ricardo Araújo Pereira, edição 05 de Dezembro 2009 - Jornal "A Bola"
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