sábado, 30 de maio de 2009

Também sobre Quique (e como em Portugal as homenagens são sempre contra alguém)


Pronto. Terminou em glória para o Benfica o campeonato de 2008/ 2009. Pouco ou nenhum significado teve o terceiro lugar da tabela e, bondosamente, logo se enterraram as alegadas desilusões da temporada porque, nos segundos finais da longa prova, foi proporcionada ao público do Estádio da Luz a alegria suprema, o golpe místico, a epifania do novo século.
Pedro Mantorras entrou em campo a quinze minutos do fim do jogo com o Belenenses quando o público já se preparava para abandonar o recinto encetando um regresso a casa (de forte teor maledicente) no culminar de uma temporada aziaga e na agonia da perspectiva de mais um defeso escaldante com, pelo menos, três dúzias por semana de contratações «presas por detalhes».
Tudo isto é enervante, como sabem muito bem, mas tudo isto deixou de ter qualquer peso, qualquer importância no preciso momento em que Pedro Mantorras, no coração da área, ligeiramente descaído sobre a direita e apertado por um defesa dos azuis, recebeu uma bola que lhe ofereceu Balboa e, de primeira, como vem nos livros, catrapum!, de pé direito acertou-lhe em cheio (na bola) e acertou em cheio na baliza do Belenenses porque o guarda-redes nem se mexeu.
Aliás, o guarda-redes do Belenenses foi a única pessoa que naquele momento, naquele estádio, não se mexeu. Os demais presentes, e eram muitos milhares, pularam, gritaram, abraçaram-se, ajoelharam-se, cantaram, deitaram-se, ergueram as mãos aos céus e (assim que puseram as mãos para baixo) ligaram do telemóvel para os familiares e amigos que tinham ficado em casa a ver pela televisão.
— Viste? Viste?
— Vi, vi, está a dar a repetição.
— Como é que foi o golo? Foi uma bomba, não foi? Como é que está a ser na repetição?
— Está a ser igualzinho só que é tudo mais devagar. É em câmara lenta, percebes?
— Espectáculo, isto sim, é a alegria do povo!
— Espectáculo é a cara do Quique, se tu visses.
— Eu daqui, do meu lugar, só lhe vejo as costas.
— Está a dar agora na televisão e também em câmara lenta. O homem nem quer acreditar, não se percebe se vai ter um ataque de choro ou um ataque de riso.
Pronto. Acabou assim em festa rija a época de 2008/2009 no Estádio da Luz.
Ninguém diria que o Benfica tinha perdido o campeonato. Pedro Mantorras é o culpado deste transe único no panorama do futebol mundial, o que se compreende porque há muito que a pérola angolana deixou de ser um jogador de futebol e passou a ser uma experiência de índole religiosa que se repete uma vez por cada estação do ano.
Portanto há benfiquistas que vão ao estádio e há benfiquistas que ficam em casa e vêem os jogos na televisão. Todos são bons chefes de família.
No último jogo da época, alguns dos que ficaram em casa a ver pela televisão viram coisas que os surpreenderam imensamente. Como, por exemplo, um conhecido meu que, sentado no sofá da sua sala de estar, nem queria acreditar quando, no final do jogo, viu um conhecido seu (que ao longo de toda a época nunca parou de dizer mal do treinador, precisamente) em grande plano, a pedir autógrafos a Quique Flores e a dar-lhe palmadinhas nas costas a pedir que ficasse.
Não se aguentou e pegou logo no telemóvel.
— Ouve lá, já és amigo do Quique, já lhe pedes autógrafos?…
— Como é que sabes?
— Vi-te agora mesmo em directo. É preciso ter lata, depois do mal todo que disseste do homem durante meses a fio…
— O homem convenceu-me nestas duas últimas jornadas, essa é que é essa…
— Mas convenceu-te porquê?
— Porque foi muito inteligente na gestão do plantel e na gestão dele próprio e eu acho que o Benfica precisa de activos inteligentes, para além de que é muito caro despedi-lo e temos de ter em atenção sempre a saúde financeira do clube.
— Mas foi inteligente como?
— Em primeiro lugar deu, finalmente, confiança ao Cardozo e o rapaz correspondeu marcando um golo em cada jogo. Depois em Braga deu um banho táctico ao Jorge Jesus e não teve medo de mandar vir com o árbitro, que é uma coisa que a malta gosta sempre de ver, e até foi expulso do banco que é uma coisa que revela que é um lutador na defesa do grupo e um líder natural.
— Passaste a época toda a dizer que o homem não tinha liderança nenhuma…
— Pois foram precisas as duas últimas jornadas para que o próprio Quique me desmentisse. É um líder! Não vês como todos os jogadores o defendem?
— Mas tu não sabes que as homenagens em Portugal são sempre contra alguém?
— Mas contra quem? Só se forem homenagens contra o Pedro Proença, esse sim é que foi um anti-Quique primário.
— Mas disseste-me que qualquer treinador atrevido tinha ganho aquele jogo no Porto, com árbitro ou sem árbitro…
— Ah, não me lembro nada de ter dito isso. Depois o Quique é um treinador que sabe apostar na juventude e não tem medo de arriscar.
— Eu nem acredito no que estou a ouvir. Chamaste-lhe os nomes todos depois de termos levado cinco do Panathinaikos por ele ter tido medo de uma equipazinha grega.
— O Panathinaikos é um grande do futebol europeu.
— Só se for também nestas duas últimas semanas.
— Cala-te, estás sempre a dizer mal de tudo!
— Eu? Passei a época toda a mandar-te calar.
— Olha, o golo do miúdo Urreta em Braga e o golão do miúdo Fellipe Bastos contra o Belenenses são um atestado de competência do nosso treinador. O Benfica tem de saber olhar para a sua juventude.
— Mas o homem só olhou nas duas últimas jornadas!
— E isso o que interessa? Não sabes que as últimas impressões são as mais duradouras? Olha, por exemplo, eu acabo a época encantado com o Balboa, foi muito bem comprado, jogou maravilhosamente nos últimos dez minutos e o passe que fez para o Mantorras foi de génio.
— Passaste o ano a dizer que o Quique devia pagar o ordenado do Balboa do seu próprio bolso…
— Foi uma excelente contratação! E aquela educação do nosso treinador no final do jogo, a cumprimentar os sócios do Benfica, olha que me comoveu…
— Aí, sim, foi mesmo muito inteligente o nosso Quique. Cada autógrafo que dava aumentava o valor da indemnização.
— Qual indemnização? Nem pensar…
E continuaram nisto pela noite dentro. Vamos lá ver se vão continuar nisto pelo defeso dentro.
Por Leonor Pinhão - Jornal "A Bola", Edição 28 de Maio 2009

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Acórdão da Relação de Guimarães - Alexandra

Deixo-vos os elementos com os quais se decidiu.

Deixo-vos o acórdão proferido.

Não faço nem juizos nem comentários.

Ofereço-vos apenas o acesso à decisão.
Fonte: Adelina Barradas de Olibeira , Juiza Desembargadora; Blog Ré em causa própria.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Trabalhadores da EMEL em greve




Eduquem os adultos primeiro

O entendimento desrespeitoso sobre os menores de idade é a raiz de todos os problemas da educação.
O tema da distribuição dos preservativos nas escolas só é polémico porque ainda há quem não se queira habituar à ideia de que crianças e jovens não são marionetas dos pais: têm uma identidade autónoma e direitos específicos. As sucessivas sentenças judiciais em que "o superior interesse da criança" é tomado como sinónimo de "os caprichos dos pais biológicos", decretando que as crianças sejam levadas à força para longe dos que as criaram e amaram, só reforçam esta ideia boçal.
Os gritos de Alexandra, largada aos dois anos por uma mãe alcoólica que se prostituía, e devolvida quatro anos depois a esta mesma mulher, deviam ser capazes de nos abanar. "Luta mãe, não me deixes ir", suplicou a menina, antes de ser arrastada para um país e uma língua que desconhece (a Rússia, o país da mulher que a pariu). Os títulos da imprensa tablóide, onde pelo menos os gritos dos desgraçados e abandonados se ouvem, não lhe valeram de nada. Idália Moniz, a secretária de Estado-adjunta e da Reabilitação, afirmou que a decisão se baseou em "pareceres de técnicos qualificados" - por isso, tudo está bem. Se um técnico qualificado tivesse o poder de arrancar a senhora secretária de Estado ao seu mundo e à sua família, e a despachasse para um povoado a trezentos quilómetros de Moscovo, para viver com gente que desconhece, tudo estaria bem?
Este entendimento desrespeitoso sobre os menores de idade é a raiz de todos os problemas da educação em Portugal. Quando se fala em educação sexual, os adultos mais conservadores (uma outra forma de dizer reprimidos, ou mal resolvidos) entram em urticária moral.
Entendendo a sexualidade como um cortejo de perversidades infinitas, uma coisa suja e feia, uma vertigem de prazeres que não se sabe onde irá parar, querem proteger os seus rebentos disso mesmo - ou seja, das suas cabeças torturantes e torturadas. Precisam da inocência dos outros para se redimirem, e associam a sexualidade à perda da inocência.
Querem controlar os pensamentos e actos dos seus meninos. O terror manifestado pelas comunidades católica e muçulmana face à distribuição de preservativos nas escolas é eloquente: dizem eles que o preservativo é "um incentivo" ao sexo. Parece-me que é preciso ter-se uma mente completamente ocupada por sexo para olhar para um bocado de látex e ficar a salivar de luxúria. Acresce que o projecto agora aprovado é bem claro: os preservativos serão oferecidos em gabinetes de informação e apoio aos estudantes do 10º ao 12º ano - ou seja, rapazes e raparigas com mais de quinze anos. Não estarão disponíveis em máquinas espalhadas pelos estabelecimentos de ensino - se estivessem assim à solta, provocariam certamente animadas lutas de balões de água nos recreios, mas não mais do que isso. Um desperdício.
Um estudo recente da Associação do Planeamento Familiar demonstrou que metade dos jovens de 15 anos é virgem. Os mais novos têm hoje muito mais informação sobre sexualidade do que os seus pais tinham com a mesma idade - o que significa também um decréscimo da curiosidade e do interesse em experimentar tudo já. O crescimento do mundo das relações virtuais é sintoma desta mudança, que se prende também com um sentimento de insegurança face aos contactos físicos. Esta geração cresce no meio de um bombardeamento de notícias sobre pandemias, germes, contágios e crimes de pedofilia. Por outro lado, todo o conhecimento que os jovens têm sobre estas matérias é superficial e alarmista: sabem o que é a sida, em abstracto, mas sabem pouco sobre as formas de contágio e os perigos, e desconhecem o que sejam outras doenças sexualmente transmissíveis.
Continuam a circular nas escolas mitos como os de que o coito interrompido (pobres raparigas!) previne a gravidez, ou que não se engravida à primeira relação sexual, ou que a sida e as outras doenças do sexo só atacam os homossexuais. Por isso é tão importante que exista uma educação para a sexualidade. Creio que o melhor sistema será introduzi-la na disciplina de que ela faz parte: as ciências da natureza. A ideia de uma educação sexual "transversal" está condenada ao falhanço - o caso extremo da professora de História de Espinho que substituía o feudalismo pela análise crítica sobre a vida privada dos alunos demonstra-o. Os jovens têm direito a saber como funciona o corpo humano e o que pode acontecer com ele nas relações íntimas. Educação para a intimidade, felizmente, não há: o que somos na cama é o somatório do que somos e sonhamos fora dela. Qualquer que seja a nossa idade. Respeitemos isso.

FONTE: Expresso - Inês Pedrosa

terça-feira, 26 de maio de 2009

A pequena Alexandra

A NTV exibiu imagens da criança russa que foi retirada à família Pinheiro a ser esbofeteada pela mãe biológica que acusou o casal português de querer vender Alexandra para "retirar órgãos".
"Sabe-se lá o que eles poderiam fazer com ela? Vendê-la para retirar órgãos ou até mandá-la para uma casa de prostituição", acrescentou Natália Zarubina, a mãe biológica, ao falar da família afectiva portuguesa.
Durante a reportagem gravada na casa da família russa, numa aldeia de Iaroslavl, e transmitida pelo programa "Herói Principal", da estação de televisão NTV de Moscovo , Natália Zarubina dá várias bofetadas à filha mais nova por ela querer ir ter com a irmã mais velha, Valéria, sublinhando que o comportamento de Alexandra se deve ao facto de a família adoptiva portuguesa "a ter deixado fazer tudo".
Valéria, a irmã mais velha de Alexandra, também faz acusações à família afectiva.
"Fizeram da minha mãe uma toxicodependente, alcoólica, prostituta, que não se lavava. Disseram tanta coisa dela", afirmou Valéria.
"Ainda vamos exigir uma compensação pelos danos morais", sublinhou Valéria, virando-se para as câmaras de televisão.
"Eles (casal Pinheiro) não serão bem vindos a Iaroslavl", cidade próxima da aldeia onde reside a menina russa, concluiu Valéria.
O casal de Barcelos a quem foi retirada uma menina russa vai ser entrevistado quinta-feira em Moscovo num programa televisivo sobre a história da criança, não pretendendo tomar qualquer medida de carácter judicial nas próximas semanas.
A menina, de seis anos e filha de uma emigrante russa, estava à guarda de uma família de acolhimento de Barcelos há quatro anos, mas uma decisão judicial de 2008 determinou que fosse devolvida à família biológica, apesar dos problemas de alcoolismo que os técnicos referenciaram na mãe. O pai, um imigrante ucraniano, vive actualmente em Espanha.
Na semana passada, a criança, que fala apenas português, passou a viver com a mãe e a avó numa cidade russa a 350 quilómetros de Moscovo.
Em declarações à Lusa, o advogado dos pais de acolhimento, João Araújo, adiantou que o casal português e ele próprio vão partir quarta-feira para a Rússia para participar num programa da televisão do Canal 1, onde estará também a mãe biológica da menina.
"Vamos a convite do canal público russo, que vai fazer um programa, segundo eles, bastante grande. Eu vou por uma questão de explicar a parte jurídica, porque eles querem perceber o que se passou em termos jurídicos", explicou.
Durante a viagem, o casal terá também oportunidade para estar com Alexandra, já que "as autoridades russas se prontificaram a trazê-la para Moscovo" de forma a ver os portugueses.
Questionado sobre a possibilidade de os pais de acolhimento planearem alguma iniciativa de carácter judicial, João Araújo referiu não estar planeada nenhuma medida em concreto: "Estamos a estudar a situação, mas para já, nas semanas mais imediatas, não iremos fazer nada".
No entanto, o advogado da família Pinheiro declarou que o casal e ele próprio só vão participar no programa televisivo russo se forem respeitadas determinadas condições.
"Queremos um tradutor idóneo, e vamos pedir ajuda à Embaixada de Portugal na Rússia com esse objectivo", afirmou, acrescentando que o casal português quer ter a certeza de vai ser ouvido e não transformado em "bobo da corte".

Fonte: Expresso - 26-05-2009

domingo, 24 de maio de 2009

Diabetes e o futebol português: um estudo

APESAR de irrevogavelmente suspenso por dois anos por tentativa de corrupção (uma sentença que, na justiça desportiva, já não admite recurso), Pinto da Costa voltou a poder produzir declarações públicas. Agradeço a quem lhe levantou a interdição, porque as afirmações do presidente do Porto costumam ser muito interessantes. Foi o caso, esta semana. Primeiro, Pinto da Costa referiu-se ao tabu sobre a renovação do contrato de Jesualdo Ferreira como «uma doçura». Trata-se de uma observação que, num certo sentido, é histórica: já houve um tempo em que Pinto da Costa só falava de «rebuçadinhos» em conversas telefónicas privadas interceptadas pela PJ. Agora, já fala de «doçuras» em público. Eis uma evolução que se saúda, embora seja importante assinalar que o excesso de açúcar pode ser prejudicial à saúde. Há desportos que, pelas emoções que provocam, são impróprios para cardíacos; o futebol português é impróprio para diabéticos.
De seguida, o presidente que convida árbitros para tomarem café em sua casa disse que gostaria que Cristiano Ronaldo marcasse mais golos pela Selecção. Deste desejo, confesso, não estava à espera. Eu ainda sou do tempo em que Pinto da Costa festejava, com champanhe, as vitórias da selecção grega. Actualmente, ao que parece, prefere a selecção portuguesa. Se o leitor bem se lembra, Ronaldo já marcou pelo menos um golo no Dragão, ao serviço de Portugal. Foi no primeiro jogo do Euro-2004. Infelizmente, o adversário era a Grécia, e por isso talvez tenha sido um dos golos que Pinto da Costa lamentou, em lugar de festejar. Em todo o caso, é injusto pedir a Ronaldo que marque, na Selecção, golos semelhantes ao que marcou contra o Porto: as selecções que Portugal defronta não têm o Helton na baliza.
Por último, Pinto da Costa anunciou que apoiaria o Barcelona na final da Liga dos Campeões. É uma informação a que a imprensa internacional não deixará de dar o relevo que merece. Imagino que os dirigentes do Manchester venham a ter dificuldade em dormir quando souberem que Pinto da Costa não estará a torcer por eles no dia 27. Mas por que motivo quis o presidente do Porto cometer esta crueldade que tanto magoará, estou certo, os adeptos e simpatizantes do actual campeão da Europa? Pinto da Costa justificou a preferência pelo Barcelona com as afinidades que diz existirem entre o Porto e o clube catalão. No entanto, é possível que o motivo seja outro. Talvez Pinto da Costa ainda não tenha esquecido que Alex Ferguson disse, certa vez, que o Porto comprava títulos nacionais no supermercado. Curiosamente, o mesmo sítio em que se compram os rebuçadinhos.


Por Ricardo Araújo Pereira - Jornal "A Bola", Edição de 24 de Maio 2009

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Mourinho, o treinador ideal para acabar com o 'inferno da Luz'

Não há quem me faça mudar de opinião: o treinador ideal para o Benfica chama-se José Mourinho.
Nem que fosse em part-time, à semelhança de Guus Hiddink que toma conta da selecção da Rússia e do Chelsea ao mesmo tempo e ninguém apresenta razões de queixa, nem em Moscovo nem em Londres.
A nossa questão fundamenta-se em termos práticos. O Benfica tem um problema grave desde que mandou abaixo o seu estádio, construído e pago, tijolo a tijolo, pelos sócios e adeptos, sem que se ficasse a dever um tostão à banca ou a privados. Temo que estejamos a ser vítimas de uma maldição.
Durante cinquenta anos, os adversários do Benfica temiam as deslocações à Luz. Era o inferno da Luz, um ambiente único, raro e que impunha respeito. O Estádio da Luz metia todos em sentido. Pequenos, médios e grandes, nacionais e estrangeiros, tremiam-lhes os joelhos só de o verem.
Não havia claques organizadas, o que é importante de fazer notar. E nunca fez falta nenhuma. Estava lá tudo o que era preciso.
Agora o inferno da Luz virou-se contra nós. E de que maneira. No próximo fim-de-semana joga-se a última ronda do campeonato de 2008/2009 e o Belenenses, que precisa de pontuar para não descer de divisão, vai à Luz. Estão altamente confiantes os nossos vizinhos do Restelo. Pudera! Wender diz mesmo que não poderia haver melhor «palco» para a ocasião. Lamentavelmente, tem razão.
Pela quarta vez consecutiva desde que foi campeão em 2004/2005, o Benfica perdeu o campeonato em casa. Onde, outrora, ninguém punha o pé em ramo verde, tem sido agora um fartar vilanagem, com o devido respeito, naturalmente.
E é aqui que, precisamente, entra José Mourinho. Ah, como o filho de Félix Mourinho seria o treinador ideal para o Benfica, nem que fosse com um contrato a meio termo, só para os jogos em casa, o que sempre ficava mais baratinho!
Mourinho acaba de conquistar um scudetto, que é como quem diz um campeonato italiano, ao serviço do Inter. Mas não é isso que faz a diferença. Trata-se apenas de mais um título e de mais um país no currículo do treinador.
O que faz verdadeiramente a diferença — e que nos interessa, do ponto de vista do Benfica — é que Mourinho há 117 jogos que não sabe o que é perder no seu terreno. Há mais de sete anos!
Na qualidade de treinador, a última vez que Mourinho perdeu em casa aconteceu na temporada de 2001/2002. Tinha acabado de chegar ao FC Porto e foi o Beira-Mar, de Fary e de Cristiano, que lhe impuseram um amargo de boca ainda nas Antas.
Agora, benfiquistas, imaginem, o que é que não teria acontecido ao Benfica com um treinador destes. Éramos, no mínimo, heptacampeões! Sim, porque os nossos problemas não são os jogos fora, são os jogos em casa, no inferno da Luz.
Este ano, por exemplo… A uma jornada do fim do campeonato a distância para o líder, já campeão: 13 pontos. Número de pontos perdidos em casa: 14 pontos, sendo que 2 desses pontos foram perdidos, precisamente, para o campeão.
E quem foram os carrascos do Benfica na Luz em 2008/2009? A Académica e o Vitória de Guimarães levaram 6 pontos, o máximo possível em 2 jogos. Entre os que levaram 2 pontos, correspondentes ao empate, contam-se o FC Porto, o campeão, e acrescentem-se os temíveis Trofense e Vitória de Setúbal, que lutam para não descer, e o Nacional da Madeira.
Feitas as contas ao desastre caseiro: Académica, Vitória de Guimarães, FC Porto, Vitória de Setúbal, Trofense e Nacional, todos pontuaram na Luz. É caso para se dizer que, praticamente, a única equipa que este ano perdeu na Luz foi o Sporting.
O que explica o facto de o clube de Alvalade estar a viver um momento de eleições antecipadas, apesar de se ter conseguido classificar no segundo lugar da tabela.
Mourinho, com a sua série astronómica de 117 jogos sem perder em casa, seria, sem dúvida, o treinador ideal para o Benfica.
Admitindo, no entanto, que os serviços do especial são demasiado caros, mesmo que fosse contratado em regime de part-time e só para os jogos na Luz, não há razões para esmorecer na busca do novo treinador.
O que é preciso é explicar-lhe muito bem a situação.
Ogrande Olhanense está de regresso à divisão principal depois de 34 anos de ausência. Como não havia um clube algarvio entre os maiores desde a temporada de 2001/2002 e como, por graça do Euro-2004, o Algarve tem a meio da Via do Infante um estádio de futebol, todo modernaço mas sem gente e sem alma, já há quem se tenha lembrado, em nome do progresso da região e da rentabilização das instalações, de sugerir ao Olhanense que dispute todos os seus jogos em casa, no campo de Faro/Loulé.
Não caiam nessa, olhanenses! Não queiram servir de justificação política para a construção do mastodonte.
Olhão é Olhão e, para receber as visitas, não há casa como a nossa. Esta é uma lei do futebol. A única excepção que se conhece é, de facto, o Benfica.
Foram precisas 29 jornadas do campeonato para Quique Flores se chatear, finalmente, com um árbitro! De acordo com os relatos na imprensa, o treinador do Benfica terá proferido um impropério nos minutos finais do jogo de Braga e o quarto árbitro, com ouvido de tísico, registou o desabafo, comunicou-o ao seu superior hierárquico — ou seja, ao primeiro árbitro — acabando o espanhol expulso, coisa que nunca lhe tinha acontecido.
Curiosamente, o nome de Quique não consta da lista de castigados pela disciplina da Liga, pelo que poderá sentar-se no banco e dirigir a equipa de perto no derradeiro jogo da prova, contra o Belenenses. Poderá ter valido como atenuante, o bom comportamento de Quique, ao longo da época, evidenciando uma paciência, um quase alheamento das polémicas com árbitros e arbitragens, jamais protestando uma decisão, nunca se queixando.
O relatório do árbitro do Braga-Benfica também pode explicar a ausência de castigo ao treinador. Será que, bem medidas as palavras, o impropério, o desabafo de Quique em Braga, quando a sua equipa vencia folgadamente, não foi dirigido ao árbitro nem a nenhum dos seus auxiliares?
Pedro Proença foi, em termos de polémica, o árbitro do ano. O penalty que conseguiu marcar contra o Benfica, no Porto, foi o momento de viragem do campeonato. Numa decisão acertada dos que nomeiam os árbitros para os jogos, Pedro Proença vai voltar a apitar no Dragão, no jogo que encerra a prova e que será o da festa do título para o FC Porto. A sua nomeação, aliás, é mais do que acertada. É justíssima.
Por Leonor Pinhão, Edição 21 de Maio 2009 - Jornal "A Bola"

quarta-feira, 20 de maio de 2009

5 regras para poupar em tempo de crise

1 – Venda a sua casa e alugue uma da Câmara de Lisboa. São boas e baratas!

2 – Mude de emprego se tiver oportunidade. Opte por profissões que lhe permitam auferir rendimentos e prestar declarações de rendimentos mínimas. (Ex. Arquitecto, Advogado, Electricista, Picheleiro, Barbeiro, Carpinteiro) Quando iniciar a nova carreira siga a máxima “É preferível perder um cliente do que de ter que passar factura”.

3 – Após passo 2, solicite imediatamente rendimento mínimo de reinserção social.

4 - Enquanto não consegue concretizar o ponto 1) deixe de pagar a renda de casa ou o empréstimo ao banco. Imediatamente passe ao ataque processando-o e solicitando indemnização. Alegue que a casa não correspondia as suas expectativas e encontre argumentos tipo humidade, má vizinhança, alergia à cor da tinta das paredes, etc.

5 - Compre um Magalhães para se entreter!

Fonte: http://corgeak.blogspot.com/ (post de 10 de Outubro de 2008).

Sátira para não ser levada a sério!

Ocorreu-me hoje uma ideia ao ler um artigo de opinião num dos nossos jornais nacionais (e de referência). Lá falava-se de canonizações e beatificações, e dos requisitos e manifestações para o ser.
Então, percebo que: São duas (ou três, ou quatro) as chaves para que o Papa assim o defina: fazer milagres, condição necessária para se ser Santo; doar os seus bens aos pobres; e ainda, a total e exequivel fé em Deus, obviamente; (não vou esconder que também convém estar morto).
Apesar de Portugal ser um país com uma gigante cultura católica, povo que mais espalhou o catolicismos pelo mundo (são várias as provas que o comprovam), não temos, nem que se pareça, os números de canonizações e beatificações que outros países, não tão católicos, têm.
Actualmente, há que admitir que temos em Portugal um evoluir excessivo de futuros beatos e santos.
Surgem as seguintes questões para alguns:
Mas, fazemos milagres?
Doamos os nossos bens aos pobres?
Temos fé em Deus?

Sim, fazemos.
Sim, doamos.
Sim, temos.

Faz-se todos os dias o milagre da multiplicação do pão, da carne, do arroz (e do pastel de nata).
Muitos doam grande parte do seu dinheiro (fruto do seu trabalho) para o Rendimento Mínimo, para o Rendimento social de isto e daquilo, para o rendimento de quem não pode trabalhar porque não têm outra distração senão o (já referido) pastel de nata.
E temos fé em Deus, por que é por essa fé que este ano muitos (ou não muitos!) vão votar.
Daqui a muitos, muitos anos, serão os portugueses (não todos), merecedores da atenção do Papa?


terça-feira, 19 de maio de 2009

segunda-feira, 18 de maio de 2009

domingo, 17 de maio de 2009

Jesus, o Papa e os anjinhos

«O que há num nome?», perguntou Shakespeare, que não sabia nada de futebol. Ou talvez soubesse: na quarta cena do primeiro acto do Rei Lear, Kent pretende desmerecer Oswald, e resolve insultá-lo chamando-lhe «jogador de futebol». No tempo de Shakespeare, o futebol era um jogo violento, quase animalesco, bem diferente do que conhecemos hoje, com a excepção do que é praticado por Bruno Alves. Mas quando Julieta argumenta contra a importância dos nomes, dizendo que aquilo a que chamamos rosa exalaria um perfume igualmente doce se tivesse outra designação qualquer, faz-nos pensar. E se o próximo treinador do Benfica se chamasse Jesus? Seria isso suficiente para que o Glorioso fizesse frente ao Papa? Será redundante apontar um Jesus para dirigir uma equipa que, tantas vezes, perece composta por anjinhos? O Jesus original conseguiu multiplicar os pães, mas o Papa opera um milagre mais eficaz, que é o da multiplicação da fruta. Jesus tinha uma equipa de 12 discípulos, mas a equipa do Papa costuma jogar com 14. Poderá este novo Jesus fazer algum milagre? Confesso que não sei. Haja fé.
Quando, há umas semanas, falei aqui do, digamos, jornalista António Tavares-Teles, alguns leitores manifestaram surpresa: não sabiam, ou já não se lembravam, da célebre escuta em que o, digamos, jornalista Tavares-Teles foi apanhado a combinar a publicação de um texto falso com Pinto da Costa, e menos ainda se recordavam da deliberação do Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas, segundo o qual o, digamos, jornalista Tavares-Teles havia infringido objectivamente o artigo n.º 1 do Código Deontológico dos Jornalistas, logo aquele que obriga a «relatar os factos com rigor e exactidão e interpretá-los com honestidade». São esquecimentos naturais: em Portugal, a tarefa de recordar todos os que mandam a honestidade às malvas requer um esforço de memória hercúleo, e os pequeninos são os primeiros a serem esquecidos. Recuperar este tipo de episódio constitui, por isso, serviço público. Assim sendo, prossigamos.
Desta vez, gostaria de recordar um texto memorável que o, digamos, jornalista Tavares-Teles escreveu (ou alguém por ele, nunca se sabe) no jornal O Jogo, em Julho de 2007. Começava com uma consideração interessante: «Ana Salgado pôs em causa — sem na SIC o nomear, é verdade, mas isso porque a pessoa que a entrevistou não lhe pôs algumas perguntas que devia ter-lhe posto — um membro da equipa de Maria José Morgado, no que diz respeito à actuação de Carolina na tentativa de acusação a Pinto da Costa. «O leitor vê o mesmo que eu? Por um lado, a fé nas declarações de Ana Salgado, que os portistas só renegaram desde que a senhora, antes pura e agora pérfida, veio acusar Pinto da Costa de lhe ter oferecido envelopes mensais com 5.000 euros para mentir a seu favor em tribunal. Por outro, a censura ao profissional que não lhe pôs algumas perguntas que devia ter-lhe posto". O, digamos, jornalista Tavares-Teles esquece-se de que nem todos os jornalistas são assessorados por gente esclarecida que lhes diz o que devem escrever e perguntar. Não é elegante exigir aos colegas que tenham a mesma sorte que ele.
A seguir, o, digamos, jornalista Tavares-Teles (ou alguém por ele) deixa uma interrogação: «em que é que o depoimento de Carolina Salgado vale mais (ou menos) do que o de Ana Salgado?» Hoje sabemos que, de facto, o depoimento de Ana Salgado valia mais. Há quem diga, aliás, que valia 5.000 euros por mês…

Por ricardo araújo pereira, Edição 17 de Maio de 2009, jornal "A bola"

sábado, 16 de maio de 2009

O drama de ser padastro

O que é um padrasto? O pai de um filho que não é seu. O novo marido que a mãe escolheu. O homem que tem de gostar das crianças com quem vai viver e muitas vezes não pode viver com os seus próprios filhos


"Os homens não falam destas coisas". A afirmação é de um professor universitário de 53 anos, padrasto há oito e pai há 27. Jorge Lampreia faz parte de uma imensa multidão. Segundo José Gameiro, psiquiatra especializado em casais e novas famílias, 50% das famílias portuguesas passaram por uma separação conjugal. Muitas delas recompõem-se, dando origem a novos modelos parentais.

A grande questão para os padrastos é ter de lidar com uma realidade difícil: educar filhos que não são seus e, muitas vezes, ver os seus próprios filhos serem educados por outros homens. Embora digam que este não é um assunto de conversas masculinas, a verdade é que os três padrastos que o Expresso ouviu não tiveram pudor em falar, na primeira pessoa, da intimidade da sua relação com os enteados.

A importância deste grupo social é tal que começam a surgir estudos sobre a realidade dos padrastos portugueses. Até há algumas décadas, eles eram, na maioria, a consequência da morte do pai biológico. Uma figura distante que sustentava a família. "Era o padrinho ou o tio", como explica José Gameiro.

A novidade é que, desde os divórcios, os padrastos passaram a ter que competir com a imagem de um pai vivo. Qual é o papel do padrasto? Que espaço a mulher lhe reserva na família? A quem cabe manter a autoridade? Susana Atalaia, investigadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, está a concluir um estudo sobre o lugar do padrasto no quotidiano familiar. "Os padrastos fazem depender os seus papéis da atitude do pai biológico. Se não houver concorrência, melhor", conclui o trabalho.

Tudo porque, quando não há laços biológicos que legitimem a relação, alguns homens sentem-se fragilizados na sua masculinidade. "A figura masculina está associada à autoridade, que, neste caso, é delegada", afirma Susana Atalaia. Conclusão confirmada pelos três padrastos retratados. José Gameiro reforça a tese. "A pior coisa que se pode dizer a um padrasto é: 'Não és meu pai'".

João Miguel, 50 anos, advogado

"Não sei explicar porque gostei deles, mas quando um homem quer conquistar uma mulher tem de conquistar os filhos. Fui padrasto aos 20 anos. A Catarina teria uns seis, o Ricardo, quatro.

Sempre reivindiquei a minha autoridade, mas é indispensável contar com a solidariedade feminina e a minha mulher acreditou em mim. Perceberam desde o início que a lógica da autoridade não é despida de sentimentos. Eu gostava deles, brincava, levava-os ao médico, acompanhava-os como qualquer pai.

Nos primeiros anos, os dias seguintes aos fins-de-semana com o pai eram terríveis. Era a guerra. Se o confronto se tivesse prolongado, não teria aguentado. A dada altura tive uma proposta para ir para o estrangeiro. Ponderámos também que seria uma boa maneira de termos um bocado de paz. Eles passaram a vir só no Verão.

Nunca me trataram por pai. Lembro-me de terem perguntado ao Ricardo, já adolescente, quem era o pai, e ele ter dado o meu nome. Tive algumas 'tricas' com a Catarina. Nunca houve rupturas.

Quando voltaram para Portugal, para estudar na universidade, houve uma reaproximação ao pai. Hoje fazem coisas juntos. Acho muito bem. Durante o crescimento tiveram o azar de não terem tido dois pais. Houve um padrasto presente e um pai ausente. Cometi a injustiça de os confrontar com isso.

Arrependo-me. Aquela frase: 'Se te chateia estar aqui podes ir viver com o teu pai', eu disse-a.

Quando a nossa filha nasceu, a relação não se alterou. Sempre tive o cuidado de ter com todos a mesma medida. Hoje, a Catarina já tem filhos. Tratam-me por avô. Digo que sou 'avô-afectivo'.

Não posso dizer que o amor que sinto pelos meus enteados é paternal. A relação de sangue marca, mas pode gostar-se de forma muito semelhante. Também não gostamos dos filhos biológicos da mesma maneira. Talvez de meu, tenham herdado boa parte dos valores, uma certa maneira de olhar a vida... Mas não têm o meu sangue. Isso nunca se poderá alterar. Tenho pena que não sejam meus filhos. Odeio a palavra padrasto."



Juntos desde que Flávia tem três anos, Jorge Cândido nunca ouviua frase-símbolo da relação entre padrastos e enteados: "Não és meu pai"

Expostos à partida, estes homens sabem que precisam entrar na relação conquistando a afeição dos enteados, o que nem sempre é fácil. "Há o mito da família unida - 'finalmente isto vai correr tudo muito bem' - e pensam logo uma coisa delirante que é: 'estes miúdos que não me conhecem de lado nenhum vão-me adorar'. E muitas vezes são postos no lugar pelos enteados", explica o psiquiatra. O mais ingrato desta situação dúbia é que o padrasto tem de gostar dos enteados, embora estes não tenham de gostar dele.

Um dos problemas enfrentados é que "há pouca história destas novas famílias e, por isso, não há ainda modelos alternativos disponíveis", diz Gameiro. Cabe assim às mulheres decidirem qual o espaço de actuação do padrasto. "Num primeiro tempo, ela aguenta. As relações são muito tensas no início. Depois elas têm de optar quem vão defender e defendem sempre os filhos. Há perigo de ruptura das relações conjugais", conclui.

Nestes contextos, a relação entre padrastos e enteados depende sempre de factores externos. Além da mãe, cabe sempre ao pai biológico determinar até onde o padrasto consegue ir. "A adaptação é mais fácil quando o lugar do pai biológico está vago, não há confronto. Mesmo que esteja vivo. Nestas situações, o padrasto assume-se e ocupa o espaço", afirma Susana Atalaia porque "mais do que ocupar um lugar deixado vago pelo pai, nos tempos que correm, o principal desafio lançado ao padrasto é o de construir o seu próprio lugar na nova família".

Jorge Cândido, 49 anos, empresário

Se a Flávia fosse minha filha biológica, teria sido tudo muito diferente. Tenho um filho de 26 anos. A Flávia tem quase 17 anos. Vive comigo desde os três. O pai dela sempre foi ausente. Nunca pagou a pensão e depois de ter tido outra filha afastou-se ainda mais. Às vezes ele telefona e ela pede-me para dizer que não está. Gostei de ter uma menina como enteada.

Trabalho muito, nunca janto em casa. Tenho uma pequena empresa de tratamento de águas. Gosto de jogar futebol e de beber umas cervejas com os amigos. Ela é mais parecida comigo do que o meu filho. Fala alto, não guarda nada. Pode ser da personalidade, mas também pode ser da convivência comigo.

Nunca dei uma palmada à Flávia nem ao meu filho. Sempre soube que seria uma pessoa estranha e fui entrando devagarinho. Ela nunca me rejeitou, mas houve alturas em que me senti posto de parte.

A frase 'você não é o meu pai' nunca me foi dita. A mãe da Flávia separou-se quando tinha 25 anos e assumiu a filha sozinha. Para ela, era um desafio provar que podia educar a miúda. O nível de vida delas não depende de mim. No Dia do Pai, a Flávia fazia sempre um presente para o pai e outro para mim. Depois deixou de fazer para o pai. Ainda hoje, não se esquece de pedir dinheiro à mãe para comprar uma prenda para mim. Ser padrasto é muito diferente de ser pai biológico. Gosto muito da Flávia, mas é diferente do que sinto pelo meu filho. Se calhar se tivesse ficado com ela quando era bebé... acho que mesmo assim seria diferente.

A Flávia tem muita cumplicidade com a mãe, mas muitas vezes é minha a palavra que conta sobre as saídas dela. A mãe diz: 'Vai falar com o pai'. Chama-me pai. Sempre fizemos tudo a três".



Jorge Lampreia no quarto das enteadas, que preferiram não se deixar fotografar. Este professor não consegue explicar o que é ser padrasto e diz que nunca tentou competir com o pai biológico

A nova tendência é que as famílias recompostas organizem o seu quotidiano entre duas casas. O modelo da guarda conjunta em regime de residência alternada, introduzido há três anos na legislação portuguesa, prevê que as crianças passem o mesmo tempo com o pai e com a mãe. Apesar de estes casos representarem ainda um número residual, nos últimos anos, esta prática tem vindo a ser cada vez mais experimentada, sobretudo nos meios urbanos.

A dificuldade, contudo, é que "se as coisas não estão bem conjugadas, pode criar-se uma dupla vida em que as mães se organizam com os seus filhos e o padrasto não interfere e, quando ficam sozinhos, vivem novamente uma situação de namoro", explica Gameiro. Susana Atalaia concorda: "Cria-se uma parentalidade paralela, em que a mãe assume sozinha as responsabilidades dos filhos ou, na melhor das hipóteses, reparte-as com os ex-companheiros".

Por resolver ainda está o aspecto legal que suporta a figura do padrasto. "A invisibilidade destas figuras parentais é uma realidade na generalidade dos países ocidentais. O sistema de parentesco ocidental apenas permite a existência de um pai e de uma mãe para cada criança", explica a investigadora do ICS. O padrasto é, assim, o elo mais fraco.

Também José Gameiro, pela sua prática de consultório, é a favor de uma alteração legislativa que reforce as garantias do padrasto. "Não sei como seria o modelo. Há padrastos que criaram aquelas crianças desde pequenos e, se ao fim de alguns anos se separam das mães, podem nunca mais voltar a vê-los". O psiquiatra diz, contudo, que quando pergunta aos padrastos se esta situação se colocasse se gostariam de voltar a encontrar regularmente os seus enteados a resposta é, em geral, "não".

Jorge Lampreia, 53 anos, professor universitário

"As minhas filhas foram apanhadas de surpresa pela separação. Um dia anunciei: 'amanhã saio de casa'. Foi em Abril de 2001. A Maria do Mar tinha 19 anos, a Violeta 16. Quase um ano depois, fui viver com a minha actual mulher, que tinha também duas filhas: a Maria Ana, com 10 anos e a Beatriz com seis. Houve três episódios difíceis com a minha enteada mais velha. Ela rejeitava-me, havia gritos e choro. A minha reacção foi sempre a mesma: sair de cena.

O que me deixa feliz é pensar que consegui com as minhas enteadas o mesmo que tinha conseguido com as minhas filhas: proporcionar-lhes uma ambiência solta e desanuviada. Gosto que tenham liberdade para se fechar no quarto ou verem o 'Conta-me como foi' em família, sem sentir que têm de cumprir papéis.

A minha enteada mais velha pergunta à minha filha Maria do Mar, porque é que gosta dela e da irmã. A minha filha responde que elas não têm culpa de nada e que, na separação, elas foram o que de mais positivo lhes aconteceu. Foi mais difícil estabelecerem laços com a minha mulher: a mais nova nem a cumprimentava, mas nas primeiras férias grandes, já estávamos todos juntos em Sesimbra.

Nunca ouvi a frase sacramental: 'não é o meu pai'. Mas, se me perguntam o que é ser padrasto, não sei responder. Nunca me passou pela cabeça entrar em discussões sobre quem é melhor pai, eu ou o biológico. Não tenho de substituir ninguém. Houve uma vez em que fui desautorizado pelo pai sobre uma decisão conjunta entre as duas famílias. Cheguei a ficar com febre. Avisei a minha enteada que não se podia repetir. Não se repetiu. Podia ter corrido mal. Fui duro com ela. Disse-lhe que nunca tinha passado por uma situação semelhante com as minhas filhas.

O quotidiano é feito de bom senso. É só olhar para elas e zzz, para um lado, zzz, para o outro e ir direccionando. Sou um homem de sorte. Não me esforço para que elas gostem de mim. Se hoje me separasse da minha actual mulher ia ter de encontrar uma forma de continuar a vê-las. Neste momento, a nossa relação é muito profunda".

Texto publicado na edição do Expresso de 16 de Maio de 2009

quinta-feira, 14 de maio de 2009

O Braga-Benfica vai ser o jogo do ano (mas do próximo ano)

O Sporting de Braga-Benfica do próximo domingo é o jogo do ano para o Benfica. Mas de qual ano? — perguntarão, certamente, os leitores mais picuinhas. E é essa mesma a questão que deve ser colocada. Tratando-se de um encontro da penúltima jornada de um campeonato há muito perdido, o deste ano, a que propósito é que a deslocação do Benfica a Braga assume uma importância capital para os benfiquistas a ponto de poder ser considerado o jogo do ano?
Do próximo ano, evidentemente. Convém esclarecer porquê.

Trata-se do treinador. Do próximo treinador.

Um treinador tem muita importância no desempenho de uma equipa de futebol. Há quem defenda que o Benfica precisa de um treinador que se enquadre num projecto longo prazo e que convença os sócios e adeptos de que será necessário dar tempo ao florescimento de uma estrutura vencedora e há quem defenda que um bom treinador para o Benfica seria aquele que ganhasse um campeonato assim que chegasse ao Estádio da Luz.

A solução do treinador para o projecto a longo prazo nunca vingou porque nunca foi experimentada e nunca o será. A solução do treinador que chegasse, visse e vencesse vingou brilhantemente na época de 2004/2005 com Giovanni Trapattoni, cujo único longo prazo que se lhe reconhece é o da sua própria idade e, sobretudo, o da sua imensa sabedoria.

À míngua de vitórias, esta questão do projecto a longo prazo como condição sem a qual não conseguirá triunfar nenhum treinador do Benfica transformou-se num utensílio de argumentação sempre disponível por esta altura da época quando, feitas as contas todas, se verifica que nos últimos 15 anos o Benfica ganhou apenas um campeonato. E graças a um treinador de curto prazo.

Ouvir discutir o Benfica em termos da necessidade de dar tempo a um projecto ganhador a longo prazo é um contra-senso. É coisa de amnésicos. O único projecto ganhador a longo prazo que faz sentido discutir no Benfica é o próprio Benfica, fundado em 1904 — e longo vai o prazo mais do que centenário — com pressupostos tão bem estipulados pelos seus fundadores que o projecto vingou por décadas e décadas, exportou-se como modelo nacional e internacionalmente, dispensando qualquer importação de tecnologia alheia a si mesmo.

Está mal, portanto, o Benfica quando se esquece de si próprio, da sua história, e se oferece às circunstâncias permitindo que lhe discutam a questão do treinador em termos de «tem projecto a longo prazo» ou «não tem projecto a longo prazo».

É por tudo isto que o Sporting de Braga-Benfica do próximo domingo é o jogo do ano para o Benfica. Em antecipação por causa do treinador do próximo ano, assunto que já está em premente discussão.

Frente a frente vão estar Quique Flores, o treinador que aparentemente está de saída, e Jorge Jesus, o treinador português que aparentemente está em primeiro lugar na lista dos possíveis substitutos do infeliz espanhol. Jesus e o Braga estão em alta depois de um campeonato que superou as expectativas e até de uma presença mais do que meritória na Taça UEFA, bem no oposto do que foi o Benfica de Quique Flores na mesma competição europeia e que se resume numa palavra: lastimável.

De acordo com alguns inquéritos de opinião, os sócios e adeptos do Benfica não só não rejeitam o nome de Jorge Jesus como também evidenciam uma confiança expressiva no bom sucesso da sua contratação.

Conheço benfiquistas que assistiram, na segunda-feira, à transmissão televisiva do jogo Belenenses-Sporting de Braga e que, por antecipação, vibraram com a goleada imposta pela equipa de Jesus como se estivessem a ver o Benfica a jogar e a marcar golos atrás de golos.

— Este tipo percebe de bola.

— Vê-se logo que é um treinador que tem a equipa na mão.

— Este tipo até tem muito boa figura.

— Isto sim, é que é futebol de ataque.

— Dá gosto ver jogar o Braga.

— O César Peixoto é muito melhor do que o Aimar.

— Olha-me só o que eles correm.

— Lá vai o Belenenses para a segunda divisão.

— Não vai nada, o último jogo deles é fácil.

— Contra quem é?

— É contra nós, no Estádio da Luz.

— Ah, pois, já não me lembrava.

— Temos um calendário tramado até ao fim do campeonato.

— O Braga a querer o terceiro lugar e o Belenenses a não querer descer...

— Duas grandes complicações!

De um modo geral, é este o estado de espírito dos benfiquistas por muito que custe a acreditar, entre outras coisas, que o célebre e temido inferno da Luz se tenha transformado num inferno para os donos da casa e não para os visitantes como era noutros tempos.

Mas se, quando se trata de futebol, as opiniões são volúveis, quando se trata do Benfica as opiniões são voláteis.

Daí que a fé em Jesus tenha o seu grande teste marcado para o próximo domingo. Se o Benfica de Quique Flores ganhar ao Braga de Jorge Jesus, logo começarão muitos benfiquistas a torcer o nariz, desconfiados sobre as reais capacidades do treinador português. Ah, mas se o Sporting de Braga ganhar ao Benfica, este Jesus arrisca-se a conseguir convencer os cépticos e até os ateus.

E é nisto que estamos.

E é por isto que, sendo o Benfica um clube que gosta de prolongar discussões até que já ninguém se lembre do que se estava a discutir, o resultado mais previsível para domingo seja um empate.

FONTE: Leonor Pinhão, edição do jornal Abola.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Para reflectir sobre a geração que nasce e cresce por aí...

Compreendo que nos dias de hoje não há tempo para nada — corre, coelhinho, corre —, mas a verdade é que somos cada vez mais a geração pret-à-porter, ou melhor, a geração «papinha-toda-feita», e não sei se é por não termos tempo ou se foi o não ter tempo que nos transformou nisso, em criaturas que querem tudo feito e na hora, se não tens dinheiro para pagar azar, pede um crédito, tens é de ter e já, e esta ideia vem a propósito de um comentário feito pela minha mãe, que depois de ter sido arrastada pelo centro comercial a entrar e a sair de lojas desabafou dizendo que «já não se vêem aquelas roupinhas jeitosas e bem feitinhas que havia antigamente, hoje em dia é tudo roupas feitas em série, mal-amanhadas e todas iguais», e de facto hoje quem é que vai ao alfaiate ou à costureira mandar fazer o que quer que seja, quem é que tem tempo para isso, já para se conseguir ir numa fugida a uma catedral de consumo — o chamado comércio tradicional é só para os reformados, que são os únicos com disponibilidade para frequentar locais que abrem às 9 e fecham às 19 —, dizia eu que já conseguir isso é o 13º trabalho do Hércules, ainda para mais com o bebé a escapulir-se de trinta em trinta segundos para se enfiar no carro do Noddy ao fundo do corredor, e não são só as roupas que são pret-à-porter, é tudo, desde a comida encharcada em aromatizantes e conservantes e emulsionantes e outras coisas acabadas em –antes para tentar dar-lhe o sabor que deveria ter e não tem, até aos livros escolares com mais bonecos do que texto, e que trazem, além do manual propriamente dito, o livro de exercícios, o livro de apoio, o livro de correcção dos exercícios e o livro do índice dos vários livros componentes do livro, mais o CD-rom de apoio com mais bonecos e no qual basta clicar para a papa aparecer feita, habituamo-nos desde cedo à Cerelac e depois é o cabo dos trabalhos para a trocar por outra coisa, fala-se dos meninos da mamã da geração mileurista que não saem de casa da mãezinha nem por nada, só a pontapé, porque têm casa, mesa e roupa lavada sem gastarem um chavo, o que ganham é para estourar como se não houvesse amanhã, enfim, as criancinhas começam desde cedo a ter tudo sem se esforçarem, para quê abrir um livro para ver qual é a capital de Portugal se posso ir à Wikipedia, não tarda muito o e-escola que já passou a e-escolinha vai passar a e-pré-escolinha e na volta ainda iremos ver o e-berçário, é preciso habituar os meninos desde já a clicar e a navegar na net, e não esquecer os telemóveis topo de gama que servem para tudo menos para falar, e ainda nos vai acontecer como aos miúdos japoneses que de tanta sms já têm os polegares deformados, é o próximo passo na evolução genética, e para que é que os miúdos da escola se vão dar ao trabalho de fazer pesquisa para trabalhos se podem ir à net sacar algum que já alguém fez e apresentá-lo como seu, para quê mexer o rabo para fazer o que quer que seja se já está tudo feito e pronto, se a papinha já vem feita, a carne já vem temperada das prateleiras do hipermercado, para fazer um bolo é só abrir um pacote e despejar o conteúdo para dentro de uma forma, levar ao forno e já está, a vida está cada vez mais facilitada e mais difícil, já nos chamaram «geração rasca», depois «geração à rasca», a seguir «mileuristas» uns e «dinkis» outros, e atrevo-me a dizer que a geração a seguir à nossa vai ser a «geração-papinha-toda-feita», não quero ser velha do Restelo mas no nosso afã de dar tudo aos nossos filhos acabaremos por criar umas criaturas amorfas que não irão saber coisas corriqueiras e banais como cortar um limão a meio para espremer em cima de um bife, ou fazer uma soma de 10+10 sem usar a calculadora, coser um botão que se desprendeu, ou dobrar uma folha de papel para a meter num envelope ou usar um abre-latas manual, ou folhear um livro sem ser com o rato do computador, and so on…

Fonte: Minutoscontados - post de 8 de Outubro de 2008 - Geração ''Papinha-toda-feita''

terça-feira, 12 de maio de 2009

Carlos Bastos, o "Homem" dos covers fadunchos!!!

Nuno Markl têm uma rubrica semanal na rádio Antena 3 com o nome de Laboratolarilolela, nesta rubrica Nuno Markl propõem-se a descodificar algumas canções da música popular alternativa. De entre vários programas que já ouvi, destaco este do dia 10 de Abril, em que Nuno Markl nos apresenta um artista de seu nome Carlos Bastos com a sua versão faduncha de um dos êxitos dos Rolling Stones, Satisfaction.


Fonte: LABORATOLARILOLELA

Eleições Europeias

No próximo dia 7 de junho irão ter lugar as eleições para o parlamento Europeu. Se ainda não sabes qual o teu sentido de voto podes ficar a sabe-lo recorrendo ao sitio na internet, http://www.euprofiler.eu/, poderás também aceder ao sitio do parlamento europeu em www.europarl.europa.eu.

Portuguesa Microfil leva 'Magalhães' para o Brasil

A portuguesa Microfil -Tecnologias de Informação instalou em Limoeiro do Norte, interior do Ceará, a primeira Plataforma Camões do Brasil, que usa os computadores Magalhães para, segundo a empresa, "aproximar os países de língua portuguesa".
Desenhada para oferecer "uma solução integrada de gestão de conteúdos e arquivos escolares", essa tecnologia está agora na Escola de Ensino Fundamental João Luis Maia da localidade de Espinho, a 200 quilómetros da capital, Fortaleza.
Em processo de geminação desde 2008, a localidade em Limoeiro do Norte é considerada irmã da cidade de Espinho, em Portugal, que "curiosamente foi também a primeira a receber o projecto Camões", disse o presidente executivo da empresa, Manuel Antunes.
O projecto-piloto da escola brasileira tem início com uma plataforma de 20 portáteis, quadro interactivo e centro de dados.
O Camões, "é uma plataforma que permite a interligação e a intercomunicação entre alunos e professores através dos computadores `Magalhães´ disponibilizados para os estudantes, e quadro interactivo."
A gestão das aulas e a partilha de conteúdos pode ser conferida por pais, alunos, professores e outros actores da comunidade educativa, segundo o responsável pela arquitectura e implementação do projecto
"Mesmo alunos doentes, em casa ou no hospitalizados, podem acompanhar as aulas em tempo real, participando e interagindo, pois a transmissão é feita com toda a segurança", disse Manuel Antunes.
"Em Portugal, o projecto está em muitos municípios com grande sucesso", acrescentou o responsável.
Para já, o Camões está especialmente adaptado ao 'Magalhães' e ao 1º Ciclo do Ensino Básico, mas o objectivo é que a plataforma possa ser usada em outros níveis de ensino. O objectivo é chegar, às universidades, inclusive as universidades para a terceira idade.
De momento, o foco está nos países de língua portuguesa, mas Manuel Antunes disse estar também a divulgar a Plataforma Camões em vários países e em breve deverá apresentar o projecto na Rússia.
A Microfil, com sede em Cortegaça, tem 25 anos de mercado e projecta crescer em 2009 de 30 a 40% sobre os seis milhões de euros registados no ano passado, segundo o presidente-executivo da empresa.

FONTE: Expresso

Abstenção - um mal que vem por mal

De acordo com dados recentes do Eurobarómetro, apenas 24% dos eleitores portugueses parecem dispostos a ir votar no próximo dia 7 de Junho. Mais: 56% da população admite que as eleições europeias não lhe suscitam qualquer interesse.

Não obstante, ninguém comenta, ninguém se interroga, ninguém se inquieta. Sobre a abstenção, há um pesado manto de silêncio que aligeira o fenómeno e o remete para a categoria das irrelevâncias políticas.

E, contudo, a história vai de mal a pior. Apesar de ninguém se deter no facto, a abstenção real, em Portugal, aumentou significativamente desde a década de oitenta. Nessa altura, e numa evolução que jamais deixaria de se aprofundar, ultrapassámos a média das democracias europeias sem voto obrigatório.

Os mais optimistas - como os mais cínicos, aliás - falam em normalização da vida política e lembram exemplos como a Suíça ou os Estados Unidos, onde a abstenção atinge níveis extremos e nem por isso alguém teme pela sobrevivência da democracia.

Porém, os mais realistas estão preocupados. Identificam largas franjas de desencantados, progressivamente descrentes da eficácia política do voto, desinteressados da política e desconfiados das instituições.
Enquanto isto, o Estado não faz absolutamente nada no sentido de facilitar o exercício do direito de voto.

Este ano é paradigmático. Por um lado, temos as eleições mais propensas à abstenção marcadas para um dia de alto risco - o domingo que antecede uma semana com dois feriados. Por outro lado, temos três importantes eleições em perspectiva.

Ora, sabendo-se há muito que teríamos esta sucessão 'anormal' de actos eleitorais, torna-se muito difícil entender por que não se avançou, nesta legislatura, com medidas concretas dirigidas à eliminação de barreiras à participação.

Por exemplo, porque não se fez nada pela instituição de mecanismos de voto não presencial testados pela UMIC há mais de 4 anos? Ou não é verdade que a sua disseminação poderia ser hoje potenciada - com a devida segurança - se tivesse sido adequadamente planeada e se a distribuição efectiva do Cartão do Cidadão estivesse mais avançada?

Mais do que isso, porque não se apostou na desmaterialização dos cadernos eleitorais, com a efectiva criação da possibilidade de qualquer um de nós poder votar presencialmente, em qualquer assembleia de voto do país, no dia do acto eleitoral, de uma forma fácil e segura? Em concreto, neste tempo de computadores, redes e bases de dados, porque não pode um eleitor de Lisboa ou do Porto votar no Algarve se lá estiver de férias ou em Bragança se lá trabalhar?

Talvez as respostas não sejam difíceis. Afinal, é incúria pura e simples. De quem podia ter mudado as coisas e não mudou.

Fonte: Expresso - Sofia Galvão

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Portugal lava mais branco

O Benfica não foi feito para lutar pelo terceiro lugar. A BOLA não me paga para escrever evidências (na verdade, paga-me para escrever parvoíces, e eu levo muito a sério os meus contratos), mas pelos vistos tem de ser. Nós não fomos feitos para andar a fazer contas aos resultados do Nacional da Madeira. Por isso, como é evidente, não encontro especial consolo nas declarações de Quique Flores, segundo o qual foram atingidos certos objectivos invisíveis. Na qualidade de benfiquista que não é dotado de visão de raio x, devo dizer que prefiro os objectivos que se podem ver, sobretudo os que têm forma de taça.
Eu sou pela estabilidade, mas não para o treinador. Para o director desportivo, sim: espero que Rui Costa tenha estabilidade para trabalhar muitos anos. De preferência com um treinador que perceba mesmo de futebol. Acho que era giro e inovador. Se tiver de ser um espanhol, o Ernesto Valverde está disponível.

Bruno Carvalho é, até agora, o único candidato à presidência do Benfica. Confesso que gosto de candidatos à presidência do Benfica. Não conheço cargo mais importante, e simpatizo com todos os que acreditam ter capacidade para o desempenhar — e mesmo com os que além disso acreditam que são Napoleão Bonaparte, como Guerra Madaleno. Mas acho um mau sinal que o mandatário da candidatura de Bruno Carvalho seja Petit. O Petit era um jogador à Benfica, e o que fez em campo pelo Glorioso só merece admiração. O problema é que o Petit é do Boavista. No dia 14 de Setembro de 2008, Petit confessou à imprensa que gostaria de voltar para o Boavista «como jogador, como director ou noutra qualquer função.» Volto a citar o Petit: «Quero levantar-me cedo da cama para fazer o que mais gosto e ajudar o clube do meu coração.» Nada disto é censurável: o Petit tem todo o direito a amar o clube que o formou. Mas o mandatário dos candidatos a presidente do Benfica não devia ser um benfiquista?

Pinto da Costa revelou esta semana o segredo do seu sucesso: o Porto é campeão porque ele escolhe os melhores. Os melhores quê?, pergunta o leitor. Pinto da Costa não disse. Mas quem, como nós, tem acompanhado a carreira do presidente do Porto, pode conjecturar. Os melhores lotes de café, talvez, para receber os árbitros em casa com a dignidade que eles merecem. Ou os melhores lugares no avião, para que eles cheguem ao Brasil mais descansados. São hipóteses possíveis, mas em Portugal os limites do possível excedem em muito a fronteira do provável. Em Portugal, é possível um dirigente estar a cumprir pena de suspensão por tentativa de corrupção activa e, simultaneamente, ser apontado pela comunicação social como um modelo irrepreensível de dirigismo competente. É um país em que nada mancha. Portugal lava mais branco que o OMO.

Há tempos dei por mim a pensar que o Brasil é o único país da América do Sul que pode ambicionar ser campeão da Europa: com a quantidade de brasileiros naturalizados nas selecções europeias, em breve haverá uma equipa exclusivamente composta por brasileiro a vencer o Campeonato da Europa. Portugal detém um recorde parecido: é o único país da América Latina que fica no continente europeu.

Fonte: Ricardo Araújo Pereira

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Sobre como os campeões devem reagir às roubalheiras

Apesar do calor mais fazer parecer que estamos no pino do Verão, naquele momento alegre do arranque da gloriosa pré-temporada, a verdade é que estamos em Maio e ainda faltam quatro semanas para o fim da época, contando as três jornadas que restam do campeonato e o fim-de-semana da final da Taça de Portugal que será o encerramento oficial da temporada de 2008/2009.

Para os adeptos do Benfica, no entanto, a época terminou há mês e meio, precisamente no dia 21 de Março, data da final da Taça da Liga, troféu arrecadado com grande polémica, mas arrecadado e pronto.

O Benfica que ameaçava ser imparável no primeiro terço do campeonato acabou por se estatelar quando a corrida lhe parecia favorável. No que diz respeito à Taça de Portugal, estatelou-se o Benfica no Estádio do Mar frente ao Leixões, a equipa sensação da primeira metade da época o que, pensando bem, também não serve de grande consolo.

Tudo isto para chegar à constatação de uma realidade do momento presente: queixam-se os benfiquistas da falta de interesse que o fenómeno futebolístico lhes provoca. Nota-se uma crispação quando são desafiados a falar de futebol, mesmo que seja uns com os outros. Por exemplo, ainda no princípio da semana testemunhei este diálogo curtíssimo entre dois utentes dos transportes públicos lisboetas:

— Parece que o Reyes vai voltar para o Atlético de Madrid.

— Que faça boa viagem.

— Mas é um bom jogador.

— Eh pá, estou farto de bons jogadores que só fazem um jogo bom por ano.

— Contra o Nápoles, não foi?

— Pois foi. Eu quero é jogadores que façam grandes jogos na Trofa e em Matosinhos e na Luz contra todos os outros.

— Mas olha que o Reyes na sexta-feira marcou o nosso tento de honra na Madeira, contra o Nacional.

— Nem sabia que tínhamos jogado com o Nacional. Qual foi o resultado?

— Perdemos 3-1, mas fomos roubados num penalty.

— Eh pá, já nem posso ouvir essa conversa…

Andam assim os benfiquistas, desanimados. Tão desanimados que já nem os árbitros são tema unânime de conversa. Começa a haver quem alimente outras teorias sobre o fracasso continuado da equipa. Eis o que ouvi, muito recentemente, entre outros dois consócios sobre os «roubos de igreja», para utilizar uma expressão que não dá processos em tribunal.

— Desculpa mas aquilo foi mesmo penalty e ainda só estávamos a perder por 2-1...

— Estou farto de ouvir falar em penaltys… Temos é que jogar mais à bola.

— Mas penalty a penalty enche a galinha o papo, como sabes muito bem.

— Sei muito bem mas temos de ter outro espírito, mais positivo. Temos de saber transformar essas roubalheiras de igreja em suplementos de ânimo em vez de começarmos logo a chorar e a perder os jogos todos de seguida.

— Mas concordas que aquilo que nos aconteceu no Porto, quando lhes estávamos a dar um baile e a ganhar, foi um grande suplemento de desânimo?

— É precisamente isso que está mal… Isso não é uma atitude de campeões! Quando são vítimas de roubos devemos reagir com garra, com espírito indomável e vingador, em vez de nos deitarmos a chorar.

— Confesso que me deitei a chorar quando o Pedro Proença marcou aquele penalty contra nós no Dragão. É que vi logo onde é que a coisa ia parar… vi logo que, uma vez mais, o FC Porto ia ser levado ao colo até ao título!

— Essa é a atitude errada.

— Então qual é a atitude certa?

— É a do Cristiano Ronaldo!

— Queres dizer que, no Dragão, é preciso marcar golos a 40 metros de distância para não serem invalidados por fora-de-jogo?

— Não sejas parvo. Quero dizer que o Cristiano Ronaldo deu-nos o exemplo concreto, real e à campeão de como é que se reage, em campo, depois de sermos vítimas de uma roubalheira.

— Explica-te, por favor.

— No domingo, no Funchal, elementos de uma claque do FC Porto assaltaram por duas vezes a loja do Cristiano Ronaldo…

— Ah, eu li. Meteu polícia e tudo!

— … entraram uns ladrões pela loja dentro e trataram de encher as mochilas com artigos da marca CR7...

— Sim, uma roubalheira… parece que estavam zangados por causa do golo que o Cristiano Ronaldo marcou no Dragão e levaram as mochilas cheias

— Uns são levados ao colo, outros levam as mochilas cheias…

— Sim, vai tudo dar ao mesmo… o mundo é uma bola.

— Exactamente, tudo isto é futebol. Vítima de um roubo de cariz futebolístico, como é que o Cristiano Ronaldo reagiu no jogo seguinte? Deitou-se a chorar? Jogou poucochinho com a desculpa de que estava traumatizado por ter sido gamado?

— Não, nada disso. Encheu-se de brio e foi a Londres dar espectáculo. Meteu dois golos ao Arsenal e deu outro a marcar.

— Eis um campeão! Quando a nossa equipa souber reagir assim às roubalheiras somos campeões num instantinho.

— És capaz de ter razão.

— Ah, pois tenho.

Mas há outros assuntos que ainda conseguem despertar um mínimo de atenção aos benfiquistas enquanto aguardam pelo defeso e pela sempre glorioso pré-época. Como, por exemplo, o Sporting. Ei-los à conversa:

— Sem me querer imiscuir nos assuntos do nosso velho rival, gostava que o próximo presidente deles fosse aquele senhor que foi inspector da Polícia Judiciária.

— Quem sabe se a moda pegava? Gostava de ver o futebol português entregue à polícia.

— Sim, já era altura…

— Quem sabe se o simpático guarda Abel chegava a presidente do FC Porto?

Bom, como devem ter compreendido chama-se a isto «falar de futebol» ao mais alto nível local. Para «ver futebol» ao mais alto nível mundial, benfiquistas e não-benfiquistas, só têm um remédio: não perder um jogo do Barcelona. E depois conversar sobre o assunto. Como ontem, por exemplo, mal tinha terminado o jogo de Londres e logo os nossos dois amigos benfiquistas trocaram opiniões.

— O Barça teve muita sorte.

— Sim, mas aquela expulsão foi muito injusta. Pensei que o Barça se fosse abaixo, a jogar com 10 e a perder.

— Pois, mas os campeões não choram as injustiças dentro de campo, limitam-se a dar a volta por cima nem que seja no último minuto do jogo.

— Tenho a sensação que já falámos sobre isso hoje…

E será que vão continuar a falar?



FONTE: Leonor Pinhão

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Parecia um jogo da liga Sagres, mas...

...com a diferença de que neste jogo os que vestem de azuis é que foram escândalosamente roubados.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Cartoon

Fonte: Daryl Caglé's - Professional Cartoonists Index - Swine Flun

Google contrata 200 cabras

Os animais estão encarregues de cortar a relva dos jardins da sede da empresa, na Califórnia. "É mais engraçado ver as cabras do que as habituais máquinas a cortar as ervas daninhas", diz a Google.

As mais recentes contratações da Google são, nada mais, nada menos, do que 200 cabras, que vão tratar da relva da sede da empresa em Mountain View, na Califórnia.
Com a contratação das cabras, anunciada no blogue da empresa, evitam-se os "barulhentos corta-relvas que usam gasolina e poluem o ar". O rebanho foi alugado à empresa Califórnia Grazing, sendo o custo "quase o mesmo" do que contratar pessoa para fazer o trabalho.
De acordo com o comunicado da empresa no blogue, "é mais engraçado ver os animais do que as habituais máquinas a cortar as ervas daninhas". As cabras vão ficar uma semana nos jardins da Google, guiadas por Jen, uma cadela de raça "border collie" que irá ajudar a controlar os animais e obrigá-los a trabalhar.
A iniciativa da Google não é, contudo, pioneira. Anteriormente a concorrente Yahoo também fez a mesma coisa, tal como a Câmara Municipal de São Francisco que usa animais para tratar de alguns dos seus jardins.

Fonte: Expresso - Actualidade

Bebé com leucemia salvo por dadora

Qual é a probabilidade de encontrar um dador de medula óssea 100% compatível com o seu bebé de dez meses, a quem foi diagnosticada uma leucemia linfoblástica aguda de tipo B com apenas seis semanas de vida? Baixa mas não impossível.
Este é o caso de Rodrigo, um bebé madeirense que encontrou numa cidadã alemã uma medula 100% compatível, através do banco internacional de dadores. Agora o bebé e os pais, Pedro e Orvídia Sousa, preparam-se para mais um desafio: o transplante marcado para o dia 29 de Maio.
"O transplante será uma nova batalha, com todos os riscos que acarreta em termos de recuperação, pois os valores imunitários vão estar baixos. Basicamente a medula do Rodrigo vai ser destruída e será substituída por células sãs que irão comandar o sistema imunológico, e que esperamos consigam eliminar qualquer célula cancerígena que ainda haja no seu corpo", explicou Pedro Sousa.
A luta de Rodrigo começou em Agosto de 2008 quando, após diagnosticada a doença, viajou da Madeira até Lisboa para dar entrada no Instituto de Oncologia Português (IPO). Não havia histórico em Portugal de um caso de leucemia linfoblástica num bebé tão pequeno - um mês e meio - e os técnicos de saúde do IPO tiveram que recorrer a ajuda internacional. A resposta veio de especialistas da Holanda, e o tratamento que Rodrigo fez foi igual ao tratamento que outro menino com as mesmas características faria noutro lugar do mundo.
Depois de vários ciclos de quimioterapia e algumas complicações, os pais decidiram lançar um repto à população madeirense para que o maior número de pessoas possível se inscrevesse no centro de dadores, já que a semelhança genética entre ilhéus poderia aumentar as probabilidades de Rodrigo encontrar alguém compatível.
Finalmente veio o "abençoado telefonema" por que tanto os pais ansiavam e a dadora, encontrada não na Madeira mas na Alemanha. Descobrir um dador não parente 100% compatível com o Rodrigo foi "o óptimo", e a esperança "fortaleceu-se", porque na maioria das vezes as compatibilidades conseguidas são de 90%, ou 95%, sendo que até mesmo os irmãos podem não ser compatíveis.
"O transplante será um passo importante para o Rodrigo ficar bem e para podermos regressar à Madeira", disse o pai do bebé, que, depois de nove meses em Lisboa com o filho e a esposa, já chama a esta cidade 'casa'.
"Neste momento, o Rodrigo está em casa, em Lisboa, faz um ano a sete de Julho. Tem sido um 'fortalhão' e todos os dias o demonstra. Apesar de estar a fazer medicação, que é um ciclo de quimioterapia de manutenção para o transplante, tem se aguentado bem".
A campanha para encontrar um dador de medula para o Rodrigo já deixou um legado "precioso": quatro mil novos potenciais dadores inscritos na Madeira, onde este número não ultrapassava a centena e meia; a alteração de procedimentos no Centro Hospitalar do Funchal para acelerar o processo de doações; o aceleramento no processo de verificação de compatibilidade; e uma mensagem de esperança para todos aqueles que estão a passar por este processo.

Fonte: Expresso.

As maiores feliciades aos dois.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Cartoon

Fonte: http://opiordetudo.com/

Claque do FC Porto assalta loja de Ronaldo no Funchal

A loja de Cristiano Ronaldo no Funchal (CR7) foi assaltada hoje, em pleno dia, por vários elementos de uma das claques do FC Porto, que estiveram na Madeira para o jogo com o Marítimo.
O primeiro assalto ocorreu às 11h45. Três indivíduos, naturais do Porto e pertencente a uma claque afecta ao clube, entraram na loja, pediram peças de vários tamanhos, partiram alarmes de artigos e encheram as mochilas com artigos de elevado valor. Não houve agressões físicas mas os elementos da claque saíram da loja com os sacos cheios, ao mesmo tempo atiravam "bocas" contra o jogador do Manchester United por ter marcado o golo que eliminou o FC Porto nos quartos-de-final da Liga dos Campeões .
Também não faltaram insultos dirigidos à proprietária do espaço, Elma Vieira, irmã de Cristiano Ronaldo, e a uma funcionária.
Pouco tempo depois a BIR (Brigada de Intervenção Rápida) conseguiu identificar e deter os três suspeitos.
Cerca das 14h00, houve uma segunda tentativa de assalto à mesma loja, com mais de 10 indivíduos a entrar no estabelecimento comercial. O método seria o mesmo não fosse a intervenção da PSP. "O segundo assalto foi frustrado pelo dispositivo policial que estava empenhado na resolução da primeira ocorrência", disse ao Expresso o comissário Roberto Fernandes.
Os três suspeitos identificados e detidos acabaram por ser escoltados até o Aeroporto Internacional da Madeira e seguiram viagem rumo a Lisboa e depois para o Porto, mas vão responder no processo.
A garantia é dada por Roberto Fernandes, que assegura que as investigações deverão continuar, pois os "incidentes" foram filmados pelas câmaras de videovigilância da loja.

KidZania - Está a chegar uma cidade em miniatura

Vale a pena para já fazer a uma viagem virtual por esta mini-cidade... KidZania, o Portugal dos Pequeninos do século XXI.

À chegada à cidade, que tem uma economia própria, cada miúdo recebe um cheque de 50 kidZos (a moeda oficial), que depois de trocados no banco podem ser utilizados para pagar um gelado, ir ao cabeleireiro ou alugar um carro. Como a ideia é transmitir aos mais pequenos algumas noções de gestão, quando o plafond estoirar os visitantes terão de exercer outras profissões para estabilizar a carteira. De regresso à sua cidade verdadeira, os miúdos levam para casa o fruto do seu trabalho, como a história que escreveram na Edição de Livros da Plátano, as fotografias que tiraram no estúdio da Sony ou o artigo que escreveram para a Visão ou para o Expresso, algumas das empresas que se associaram a este projecto.
Apesar de estar integrada numa superfície comercial, a KidZania está apetrechada com zona de restauração, enfermaria, sanitários e serviço de atendimento ao cliente. E pode apontar este sítio como um espaço a ter em conta para a próxima festa de aniversário dos seus filhos.
É verdade que dá vontade de ir já a correr, mas convém refrear o entusiasmo: é que as entradas para a KidZania estão esgotadíssimas durante todo o mês de Maio (fins-de-semana incluídos), pelo que só em Junho a cidade poderá receber novos habitantes.

KidZania - Dolce Vita Tejo (Amadora)

Opinião - Encontro em Samarcanda

Devem ser os 37º de febre mais badalados desde que há gripe em Portugal. Sermos um dos 20 países com um caso, confirma duas coisas. A boa: Portugal é um país aberto ao Mundo. A má: de cada vez que há dúvidas por cá, há que esperar pelo que diz um laboratório de Londres... Entretanto, o congressista americano Ron Paul, de 73 anos, lembra-se de, em 1976, durante um surto de gripe suína, o Congresso votar a vacinação obrigatória. Essa gripe matou uma pessoa; a vacinação, 25. As pessoas a correr para os hospitais - incubadores de todos os vírus - remete-nos para um sábio conto árabe: o Encontro em Samarcanda. Estava um soldado a passear no mercado de Bagdad quando se cruzou com a Morte, que o olhou ameaçadoramente. O soldado correu ao califa, que lhe deu o mais rápido cavalo, e o conselho de fugir para Samarcanda. Pouco depois, tendo o califa encontrado a Morte, pediu-lhe explicações por ela ter ameaçado o seu soldado. "Ameaçado?" - espantou- -se a Morte - "Eu estava era admirada por o cruzar em Bagdad. Tinha encontro marcado com ele, hoje, em Samarcanda."
Fonte: DN - Ferreira Fernandes

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Portugal entra na lista de países infectados

Está confirmado o primeiro caso português de contágio com a gripe A H1N1, apurou o PÚBLICO. Trata-se de uma portuguesa de 30 anos que passara por uma zona infectada no México e está em casa de quarentena.

O Ministério da Saúde antecipou, para a hora do almoço, a conferência de imprensa que tinha marcado para o fim da tarde para confirmar que os testes feitos em Londres deram positivo. A portuguesa recuperou sem necessidade de tomar medicamentos antivirais.

Mourinho, numa peladinha com o staff técnico do Inter.

Toda a gente conhece o temperamento do José Mourinho, mas que esse temperamento descesse até ao nível demonstrado durante uma peladinha que juntou todo o staf técnico do Inter, é que se calhar ninguém esperava, ou será que sim...


Gripe A: Já circula na Internet jogo para acabar com a doença

A disseminação da gripe A (H1N1) está a preocupar o mundo, mas há quem encontre sempre o lado lúdico da questão e tenha criado na Internet um jogo com vista a eliminar o vírus transmitido pelos porcos aos humanos.
No site www.swinefighter.com (combatente de porcos, traduzido à letra), o jogador só tem que vacinar o maior número possível de suínos em apenas 15 segundos.
Com um mapa-mundi em fundo, o jogador, uma figura munida de uma bata branca, máscara e uma seringa, tem que tocar em imagens de porcos que, quando seleccionados, mudam de cor.

Fonte: Diário Digital / Lusa

Um telefonema para o partido que diz a verdade

Operadora - Obrigado por ter ligado para o 800 20 2009, o partido que só diz a verdade.
Eleitor - Bom-dia. Eu quero ajudar o PSD mas estou um pouco confuso.
- Ligou para o número certo. Nós aqui só dizemos a verdade...
- Sabe, eu não percebi a ideia da defesa do Bloco Central...
- A nossa líder sempre disse que não queria o Bloco Central.
- Mas então porque é que agora defendeu o contrário?
- Ela apenas disse que se sentiria confortável nesse governo.
- Ou seja, admite participar no Bloco Central...
- Não, rejeita. Aliás, o dr. Rangel já explicou tudo. Não ouviu?
- Ouvi. Mas acho que ele não tinha ouvido a dra. Manuela...
- Não sei. Nós aqui só dizemos a verdade. E quando não percebem bem o que dizemos chamamos o dr. Paulo Rangel.
- E pode-me explicar se o PSD é mesmo contra o TGV?
- Nós não somos contra, mas não há dinheiro...
- Mas em 2003 a dra. Ferreira Leite assinou um acordo com Espanha que previa seis linhas de TGV...
- Isso não sei, sou nova aqui...
- Mas ter prometido linhas Aveiro/Salamanca e Faro/Sevilha era falar verdade a alguém?
- A situação era outra...
- Mas acha que essas linhas algum dia teriam passageiros?
- Nós só dizemos a verdade e defendemos as Obras Públicas, desde que não tenham operários africanos e ucranianos...
- Mas isso é xenófobo e ilegal.
- Nós defendemos o trabalho para os portugueses.
- Mas olhe que os emigrantes portugueses no Reino Unido foram vítimas dessa mesma ideia.
- Isso não está aqui no manual.
- E a livre circulação de trabalhadores é um pilar da União...
- Pois, talvez seja. Mas os jornalistas nem sempre nos percebebem... e não há dinheiro!
-Mas, se não há dinheiro porque é que o PSD vai gastar 2,2 milhões de euros nas europeias, muito mais do que o PS?
-Isso não sei, mas a dra. é poupadinha e até vai ao Pingo Doce.
- Ah! E porque é que o PSD mudou de opinião em seis meses sobre o enriquecimento ilícito?
- Diz aqui que a ideia não estava suficientemente pensada...
- Hum! Então porque é que o dr. Paulo Rangel teve de fazer um projecto de lei à pressa?
- Não sei, mas diz aqui no guia que a lei não teve que ver com o Freeport. E que neste partido quem não deve não teme.
- Sim, o dr. Marques Mendes foi exemplar nessa matéria...
- O PSD é sempre exemplar, caro eleitor, já devia saber isso.
- Pois, é pena o dr. António Preto ser tão próximo da líder...
- Não sei, nunca ouvi falar... Mas olhe, ligue ao dr. Rangel que ele explica-se muito bem.

Fonte: Expresso - Ricardo Costa

domingo, 3 de maio de 2009

Cartoon

''Obamómetro''

O site politifact.com criou um site dedicado ao Presidente Obama. Reunidas cerca de 500 promessas feitas durante a campanha eleitoral, este site propõe-se agora a contabilizar quais as promessas que foram cumpridas, as que foram quebradas, e o progresso das que se encontram em andamento.

Vale a pena ir espreitando.

São Paulo Bento, padroeiro da asneirada

Um dos aspectos mais surpreendentes da derrota do Benfica de ontem foi o facto de o treinador adversário não ter substituído os seus dois jogadores mais perigosos pouco depois do intervalo. Quando, na semana passada, o treinador do Setúbal (por coincidência, um clube com dificuldades financeiras) substituiu os seus dois melhores jogadores (por coincidência, ambos emprestados pelo Porto) ao minuto 58 do jogo contra o Porto, pensei que esta nova moda do futebol português ainda nos poderia salvar a época. Enganei-me. A estratégia só se aplica em jogos contra o Porto.
Quando, na final da Taça da Liga, Paulo Bento se dirigiu ao árbitro para fazer o gesto que popularmente designa o acto de roubar, a Liga examinou o caso e, com o fim de moralizar o futebol português, não fez rigorosamente nada. Depois, quando o mesmo Paulo Bento foi expulso em Guimarães e recomendou repetidas vezes ao árbitro que visitasse determinada localidade, a Liga examinou o caso e, sempre com a moralização do futebol português em mente, optou por não fazer rigorosamente nada. Significa isto, evidentemente, que Paulo Bento tem razão. O modelo de arbitragem, neste país, é uma vergonha. Um sistema que não pune severamente um treinador que trata os árbitros como um campino trata o gado acaba por dar razão ao treinador que trata os árbitros como um campino trata o gado. É uma pescadinha de rabo na boca bem divertida: se a Liga punisse Paulo Bento como deve, Paulo Bento teria menos razões de queixa. Já Rui Costa, não se pode queixar. «Tenham vergonha das asneiras que fazem», terá dito o maestro, e foi exemplarmente castigado. Os árbitros, pelos vistos, são assim: não se importam de ser ladrões, mas ai de quem lhes peça para terem vergonha.

O certo é que Rui Costa ainda tem pouca experiência como dirigente, e talvez tenha aprendido aqui uma lição para o futuro: da próxima vez que quiser criticar um árbitro, o melhor é não cometer o ilícito de lhe recomendar que tenha vergonha. Mais vale adoptar a conduta digna e séria de lhe chamar gatuno e fazer umas considerações azedas sobre a actividade profissional isenta de impostos desenvolvida pela mãe do juiz em causa. Quando se opta por uma postura honrosa, evitam-se os castigos. Mesmo assim, não sei se será possível evitá-los: a boca de Paulo Bento é santa. Qualquer bojarda que de lá saia tem perdão. Ou Rui Costa atinge depressa o mesmo estado de virtude ou continuará a ser castigado por bagatelas.

Ao que parece, o próximo presidente do Sporting será o actual presidente do Sporting, o mesmo que disse que não seria candidato a presidente do Sporting. É, sem dúvida nenhuma, um clube diferente. Só um reparo: proponho que, em vez de «presidente», Soares Franco seja tratado por D. Filipe I. Se se trata de um regime monárquico, mais vale tratar o rei como ele merece.