sexta-feira, 8 de maio de 2009

Sobre como os campeões devem reagir às roubalheiras

Apesar do calor mais fazer parecer que estamos no pino do Verão, naquele momento alegre do arranque da gloriosa pré-temporada, a verdade é que estamos em Maio e ainda faltam quatro semanas para o fim da época, contando as três jornadas que restam do campeonato e o fim-de-semana da final da Taça de Portugal que será o encerramento oficial da temporada de 2008/2009.

Para os adeptos do Benfica, no entanto, a época terminou há mês e meio, precisamente no dia 21 de Março, data da final da Taça da Liga, troféu arrecadado com grande polémica, mas arrecadado e pronto.

O Benfica que ameaçava ser imparável no primeiro terço do campeonato acabou por se estatelar quando a corrida lhe parecia favorável. No que diz respeito à Taça de Portugal, estatelou-se o Benfica no Estádio do Mar frente ao Leixões, a equipa sensação da primeira metade da época o que, pensando bem, também não serve de grande consolo.

Tudo isto para chegar à constatação de uma realidade do momento presente: queixam-se os benfiquistas da falta de interesse que o fenómeno futebolístico lhes provoca. Nota-se uma crispação quando são desafiados a falar de futebol, mesmo que seja uns com os outros. Por exemplo, ainda no princípio da semana testemunhei este diálogo curtíssimo entre dois utentes dos transportes públicos lisboetas:

— Parece que o Reyes vai voltar para o Atlético de Madrid.

— Que faça boa viagem.

— Mas é um bom jogador.

— Eh pá, estou farto de bons jogadores que só fazem um jogo bom por ano.

— Contra o Nápoles, não foi?

— Pois foi. Eu quero é jogadores que façam grandes jogos na Trofa e em Matosinhos e na Luz contra todos os outros.

— Mas olha que o Reyes na sexta-feira marcou o nosso tento de honra na Madeira, contra o Nacional.

— Nem sabia que tínhamos jogado com o Nacional. Qual foi o resultado?

— Perdemos 3-1, mas fomos roubados num penalty.

— Eh pá, já nem posso ouvir essa conversa…

Andam assim os benfiquistas, desanimados. Tão desanimados que já nem os árbitros são tema unânime de conversa. Começa a haver quem alimente outras teorias sobre o fracasso continuado da equipa. Eis o que ouvi, muito recentemente, entre outros dois consócios sobre os «roubos de igreja», para utilizar uma expressão que não dá processos em tribunal.

— Desculpa mas aquilo foi mesmo penalty e ainda só estávamos a perder por 2-1...

— Estou farto de ouvir falar em penaltys… Temos é que jogar mais à bola.

— Mas penalty a penalty enche a galinha o papo, como sabes muito bem.

— Sei muito bem mas temos de ter outro espírito, mais positivo. Temos de saber transformar essas roubalheiras de igreja em suplementos de ânimo em vez de começarmos logo a chorar e a perder os jogos todos de seguida.

— Mas concordas que aquilo que nos aconteceu no Porto, quando lhes estávamos a dar um baile e a ganhar, foi um grande suplemento de desânimo?

— É precisamente isso que está mal… Isso não é uma atitude de campeões! Quando são vítimas de roubos devemos reagir com garra, com espírito indomável e vingador, em vez de nos deitarmos a chorar.

— Confesso que me deitei a chorar quando o Pedro Proença marcou aquele penalty contra nós no Dragão. É que vi logo onde é que a coisa ia parar… vi logo que, uma vez mais, o FC Porto ia ser levado ao colo até ao título!

— Essa é a atitude errada.

— Então qual é a atitude certa?

— É a do Cristiano Ronaldo!

— Queres dizer que, no Dragão, é preciso marcar golos a 40 metros de distância para não serem invalidados por fora-de-jogo?

— Não sejas parvo. Quero dizer que o Cristiano Ronaldo deu-nos o exemplo concreto, real e à campeão de como é que se reage, em campo, depois de sermos vítimas de uma roubalheira.

— Explica-te, por favor.

— No domingo, no Funchal, elementos de uma claque do FC Porto assaltaram por duas vezes a loja do Cristiano Ronaldo…

— Ah, eu li. Meteu polícia e tudo!

— … entraram uns ladrões pela loja dentro e trataram de encher as mochilas com artigos da marca CR7...

— Sim, uma roubalheira… parece que estavam zangados por causa do golo que o Cristiano Ronaldo marcou no Dragão e levaram as mochilas cheias

— Uns são levados ao colo, outros levam as mochilas cheias…

— Sim, vai tudo dar ao mesmo… o mundo é uma bola.

— Exactamente, tudo isto é futebol. Vítima de um roubo de cariz futebolístico, como é que o Cristiano Ronaldo reagiu no jogo seguinte? Deitou-se a chorar? Jogou poucochinho com a desculpa de que estava traumatizado por ter sido gamado?

— Não, nada disso. Encheu-se de brio e foi a Londres dar espectáculo. Meteu dois golos ao Arsenal e deu outro a marcar.

— Eis um campeão! Quando a nossa equipa souber reagir assim às roubalheiras somos campeões num instantinho.

— És capaz de ter razão.

— Ah, pois tenho.

Mas há outros assuntos que ainda conseguem despertar um mínimo de atenção aos benfiquistas enquanto aguardam pelo defeso e pela sempre glorioso pré-época. Como, por exemplo, o Sporting. Ei-los à conversa:

— Sem me querer imiscuir nos assuntos do nosso velho rival, gostava que o próximo presidente deles fosse aquele senhor que foi inspector da Polícia Judiciária.

— Quem sabe se a moda pegava? Gostava de ver o futebol português entregue à polícia.

— Sim, já era altura…

— Quem sabe se o simpático guarda Abel chegava a presidente do FC Porto?

Bom, como devem ter compreendido chama-se a isto «falar de futebol» ao mais alto nível local. Para «ver futebol» ao mais alto nível mundial, benfiquistas e não-benfiquistas, só têm um remédio: não perder um jogo do Barcelona. E depois conversar sobre o assunto. Como ontem, por exemplo, mal tinha terminado o jogo de Londres e logo os nossos dois amigos benfiquistas trocaram opiniões.

— O Barça teve muita sorte.

— Sim, mas aquela expulsão foi muito injusta. Pensei que o Barça se fosse abaixo, a jogar com 10 e a perder.

— Pois, mas os campeões não choram as injustiças dentro de campo, limitam-se a dar a volta por cima nem que seja no último minuto do jogo.

— Tenho a sensação que já falámos sobre isso hoje…

E será que vão continuar a falar?



FONTE: Leonor Pinhão

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