segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Seis meses para pagar a cegos do Santa Maria

Ficaram cegos após uma cirurgia no Hospital de Santa Maria, Lisboa, e já disseram que não há dinheiro que pague a visão, mas a Administração do hospital acredita ser possível indemnizar os danos infligidos, ainda sem explicação. A Comissão de Acompanhamento criada com essa missão deverá reunir na próxima semana e prevê apresentar a proposta de indemnização daqui a seis meses.

A oferta vai estar dependente "do estado da pessoa e da situação previsível - daí o prazo de seis meses - e será proporcional aos danos físicos e psicológicos causados", explica o presidente do grupo independente de mediadores, Eurico dos Reis . O juiz-desembargador diz que ainda não há ideia sobre montantes, mas a Justiça será um exemplo. "Hoje, os tribunais estão mais abertos às indemnizações e, embora esta comissão não esteja presa a esses valores, vamos usá-los como ponto de partida". Em troca, os seis doentes ficam impedidos de agir contra o hospital.
"Vamos lidar com a responsabilidade objectiva do Estado, que não depende de culpa. Como o mesmo dano não pode ser reparado duas vezes, se a indemnização for aceite não pode haver processo cível contra o hospital", salienta Eurico dos Reis. Contudo, o caso muda em termos criminais: "As vítimas têm direitos e espero que venham a ser apuradas responsabilidades". Precisamente, o que a maioria dos doentes teme que não aconteça, desconfiando deste inédito processo de mediação, sugerido pelo Santa Maria.
Segundo o juiz, "a escolha de uma comissão independente - que junta ainda o presidente do Instituto de Medicina Legal, Duarte Nuno Vieira, o presidente do Colégio de Oftalmologia, Florindo Esperancinha, a especialista em Direito da Saúde, Paula Lobato Faria, e o coordenador nacional da Pastoral da Saúde, padre Feytor Pinto - revela que o hospital não está a fugir às responsabilidades. A perspectiva é de não penalizar as vítimas mais do que já estão". A explicação ainda não convenceu os doentes e esta semana a Provedoria de Justiça ofereceu-se para mediar o acordo.
A intervenção do hospital está limitada à cedência de uma sala em Santa Maria para a Comissão de Acompanhamento e à palavra final sobre o valor a oferecer. Para já, Eurico dos Reis vai começar a contactar os doentes - directamente ou pelo seu advogado - e o seu argumento é claro: "Serão poupados do calvário de um processo demorado e complexo em tribunal".


Não será isto uma jogada para calar os pobrezinhos ceguinhos em troca de uns tostões e assim fazerem com que os médicos com os seus grandes ordenados possam continuar a fazer grandes vidas???
PS: Essas indemenizações deveriam se pagas por quem cometeu o erro e não por mim!!!!

A fixação proibida

O cartaz do PS é uma reprodução da bandeira nacional, mas com senhoras verdes à esquerda, senhoras vermelhas à direita, e José Sócrates no lugar da esfera armilar.

Quinta-feira, 27 de Ago de 2009

A afixação de cartazes é um dos momentos mais interessantes da disputa política: gente que, em geral, não tem bom aspecto, procura convencer os cidadãos, exibindo uma fotografia sua. Os primeiros cartazes desta campanha devem merecer, por isso, uma análise cuidada. Enquanto esperamos que alguém a faça, o leitor pode sempre entreter-se com a minha.

O cartaz do PS é uma reprodução da bandeira nacional, mas com senhoras verdes à esquerda, senhoras vermelhas à direita, e José Sócrates no lugar da esfera armilar. É possível que as senhoras verdes estejam verdes de fome, e as senhoras vermelhas estejam vermelhas de irritação por estarem desempregadas. Mas tanto as senhoras verdes como as senhoras vermelhas olham para o primeiro-ministro com benevolência, o que leva a acreditar que se trata de uma fotomontagem. Na testa de uma das senhoras vermelhas está o slogan: "Avançar Portugal". Uma agramaticalidade que pode ser mais um efeito da insatisfação social: tendo em conta o estado a que chegou a relação entre o Governo e os professores, é natural que não tenha havido ninguém a avisar o PS de que "Avançar Portugal" não é das frases mais escorreitas que já foram escritas no nosso idioma.

Em contraponto, os cartazes do PSD apresentam desde logo uma vantagem cromática: são os únicos que incluem uma senhora que não está verde nem vermelha. Manuela Ferreira Leite aparece com a sua cor natural ao lado de frases que o PSD recolheu junto daquela entidade a que antigamente se chamava "povo" e a que hoje se chama "pessoas". Antes das frases, para que não haja dúvidas sobre a sua autoria, diz: "Ouvimos os Portugueses", assim mesmo, com maiúscula. O PSD, à semelhança do que sucede com os outros partidos, aproveita a campanha para ouvir os portugueses, e faz questão de os escutar com particular atenção agora, uma vez que vai passar os próximos cinco anos a ignorá-los. Há um tempo para tudo.

O cartaz do PCP contém a palavra "Mudança" (change, em inglês), e a frase "Sim, podemos ter uma vida melhor" (em inglês, "Yes, we can", etc.). Onde é que eu já ouvi isto? Não me lembro, mas parece-me que a fotografia do cartaz mostra um Jerónimo de Sousa bastante mais bronzeado do que é costume. A campanha dos comunistas portugueses usa os mesmos lemas que a campanha do chefe do imperialismo americano, facto que mais uma vez me obriga a constatar que não percebo nada de política.

O cartaz mais arriscado é o do CDS. Ao lado da fotografia de Paulo Portas aparece a frase "Há cada vez mais pessoas a pensarem como nós". "Sim, mas são todos sócios da Autocoope", dirão os cínicos que sistematicamente identificam o discurso do CDS com o dos taxistas. O certo é que a mensagem do cartaz é arriscada na medida em que, para chegar à conclusão de que há cada vez mais pessoas a pensar como o CDS, os democratas-cristãos tiveram forçosamente que fazer uma sondagem. Ora, os democratas-cristãos têm-nos dito com muita insistência que não devemos fiar-nos nas sondagens. Que fazer? Eis um cartaz que estimula o pensamento político mas também o filosófico.

Quanto ao Bloco, que eu tenha visto, não tem ainda novos cartazes com as suas principais caras. O Bloco tem, evidentemente, caras para pôr em cartazes, mas talvez não saiba ainda quais dessas caras vão estar nos cartazes do PS. Há que esperar e ver quem sobra.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Bilhete de Identidade: Alerta que circula na Net é a sério

Por uma vez, um aviso a circular na Internet não é produto de uma mente criativa com demasiado tempo livre. Segundo uma fonte oficial da PSP, apesar de não existir um "alerta policial", cruzar uma fotocópia de um Bilhete de Identidade é " uma medida de prevenção que pode ser utilizada pelo comum cidadão". E é absolutamente legal.
Há cópias de BI utlizadas para abrir contas num banco, contrair empréstimos ou adquirir cartões de crédito. O prejuízo é sempre do dono do BI.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Jogos televisionados

Segundo o Instituto Nacional de Estatistica

Quando os jogos do Benfica são televisionados:

- a produção da indústria em Portugal cai 22%
- o movimento do comércio em Portugal cai 35%
- o movimento dos restaurantes em Portugal cai 40%
- o movimento nas ruas de Portugal cai 89%
- os Shoppings têm em Portugal uma queda de movimento de 62%
- os clubes sociais, os hipódromos, a bolsa de valores e as lojas finas têm uma queda em Portugal de 96%
- o movimento dos cinemas, museus e foruns culturais diminui 80%
- a produção dos membros do Governo e da Assembleia da República diminui 68%
- o Presidente da República manda dizer que não está
- o Presidente da Comissão Europeia manda dizer que não está
- o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa manda dizer que não está.
- as lojas maçónicas fecham
- o pretendente ao trono e os monárquicos dizem palavrões
- a "opus dei" entra em reunião à porta fechada
em resumo, o País fica ingovernável.

Quando os jogos do Porto são televisionados:

- os assaltos à mão armada diminuem 67%
- redução de 42% dos assaltos nos semáforos
- os assassinatos caem 44%
- o movimento de travestis diminui em 99,9%
- os sequestros sofrem uma redução de 58%
- as revoluções nas cadeias caem 91%

e finalmente, quando os jogos do Sporting são televisionados:

- diminui em 89% a circulação de veículos das marcas Porsche, Mercedes, Ferrari, Maserati, Volvo, Jaguar, Cherokee, Audi, BMW.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O "Big Brother " está mesmo a segui-lo

Não é preciso estar sob vigilância nem elaborar teorias da conspiração: um mero cartão de cliente pode contar mais sobre a sua vida do que imagina. Aquilo que você julga privado está cada vez mais exposto.

Expresso online: Filipe Santos (texto), Cristiano Salgado (ilustração); 22:00 Terça-feira, 25 de Ago de 2009

Tem um cartão de fidelidade do supermercado onde costuma fazer compras? Esse bocadinho de plástico que lhe pode valer descontos conta mais sobre a sua vida do que você gostaria.
O cartão está em seu nome e tem agregada a sua morada e provavelmente outros dados pessoais. Mas não é tudo: numa base de dados algures (a incerteza deste algures é relevante) estão listadas todas as compras que você fez sempre que apresentou esse cartão. Ou seja, conta até coisas que você considera privadas.
Se tem a mania da comida saudável, se enche a despensa de comida de plástico ou legumes e produtos dietéticos, se bebe álcool e que tipo de álcool (se é mais amigo das cervejinhas ou do uísque), se usa preservativos ou lubrificantes íntimos, se tem bebés ou crianças a seu cargo, se há lá em casa problemas de incontinência urinária, até mesmo se começou a praticar desporto, se vai de férias ou se fez mudanças em casa. Tudo isso pode ser inferido do seu historial de consumo apenas no supermercado. Os cartões de fidelidade existem também para lhe "tirar a fotografia" e conhecê-lo melhor. Às vezes, bem de mais.
Se está com ideias de deitar fora esse cartãozinho que lhe dava tanto jeito, pense duas vezes. Provavelmente teria que abdicar de inúmeros cartões que traz na carteira: o das Farmácias de Portugal (o seu nome e dados pessoais, mais toda a medicação que compra), os cartões bancários, do seguro de saúde, da bomba de gasolina, do clube de vídeo... Mais os cartões de muitos organismos públicos.
A protecção de dados cruza-se com a privacidade: o direito básico a termos o nosso espaço, livre de intrusão ou da necessidade de dar explicações e a decidirmos que aspectos da nossa vida ficam nesse recato e quais são públicos.
É um direito reconhecido na Declaração dos Direitos do Homem e na Constituição. Não é coisa pouca: é um pilar da dignidade humana e uma condição de liberdade. Apesar disso, é um espaço que está a estreitar-se. Uma das razões é que nos esquecemos de o proteger.
Já lhe aconteceu olhar para os seus movimentos de conta ou para a factura detalhada do telemóvel e sentir a estranheza de estar ali o relato do que foi a sua vida naqueles dias? E se forem outros a ver esse relato?

Texto publicado na edição do Expresso de 22 de Agosto de 2009

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Advertising: Celebração dos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos





Celebração dos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos

Advertising: Não perca os seus contactos quando deixar cair o telémovel!



Por favor, carregar na imagem para ampliar.

De onde vem a inteligência?

Para saber um pouco mais sobre a inteligência e quem sabe até... ficar mais inteligente.


A capacidade de raciocínio é um puzzle complexo que mistura componentes genéticos e o ambiente onde crescemos. Leia aqui as respostas às perguntas inteligentes.


Resolver uma equação. Compor uma sinfonia. Escrever um romance. Ganhar uma partida de xadrez. Inventar a cura para uma doença rara. O que têm todas estas situações em comum? São átomos de uma anatomia complexa: a inteligência. E, contudo, não me lembro da última vez que resolvi uma equação, não me sinto capaz de compor uma sinfonia, não me interesso pelo xadrez, sinto-me ainda longe de escrever um romance e muito mais ainda de encontrar a solução para uma doença rara. Nunca tinha pensado nisto desta forma e começo a ficar inquieto: serei menos inteligente do que pensava? Como podemos aferir a nossa inteligência?
Para responder a estas questões precisamos dissecar primeiro o conceito: o que significa, afinal, ser inteligente? O neuropsicólogo Nelson S. Lima, director do Instituto da Inteligência em Portugal, define a inteligência como "um conjunto complexo de habilidades mentais diferenciadas que permitem o saber pensar, fazer escolhas, decidir e agir com êxito nos desafios da vida". Ser inteligente, explica ao Expresso, é ter a capacidade de "enfrentar e resolver as exigências e problemas decorrentes da nossa interacção com os outros". Nesse sentido, mais do que falar em inteligência, faz sentido admitir a existência de diversos tipos de inteligência, como a inteligência social ou a inteligência lógico-matemática.
A associação da inteligência ao funcionamento do cérebro impõe uma outra questão: será a inteligência inata? "A participação dos genes na construção do sistema de nervoso, tal como acontece no resto do organismo, permite concluir que as estruturas cerebrais que estão envolvidas nas actividades do pensamento, da criatividade e da aprendizagem recebem uma forte influência genética", admite Lima.
Contudo, sozinhos, estes fundamentos biológicos não são suficientes para resolver o puzzle da inteligência. "É a interacção do indivíduo com o meio, de onde recebe uma enorme carga de estímulos, que vai decidir sobre a expansão e a funcionalidade dos recursos mentais que intervêm no exercício da inteligência", revela. Mais do que inata, a inteligência é, por isso, "educável". Desenvolve-se ao longo da vida através de várias actividades que a estimulam.
O genoma, o ambiente e a comida
Ainda que a alquimia da inteligência permaneça em grande parte um mistério, há dois ingredientes que sobressaem: a genética e o ambiente. Primeiro a biologia, depois a cultura ou a educação. "Os reflexos biológicos iniciais ganham um significado na interacção com o outro, sendo esse significado interiorizado e dando origem ao pensamento e à linguagem, duas das formas de expressão da inteligência", explica Leandro S. Almeida, psicólogo e autor de várias publicações e testes psicológicos na área da inteligência, aprendizagem e treino cognitivo.
"Qual das componentes é mais importante? É uma falsa questão", responde o biólogo da Universidade de Coimbra Hamilton Correia, que se tem dedicado ao estudo da inteligência e da sua importância na salvaguarda da espécie. "Se uniformizarmos os factores ambientais, então o que vai determinar a diferença de inteligência entre as pessoas é sobretudo o genoma. Se uniformizarmos a componente genética, então o que irá distinguir os indivíduos em relação à inteligência serão os factores ambientais". O biólogo dá um exemplo: "Imagine que existiam dez bebés clones, com a mesma constituição genética. A partir deles podemos 'criar' dez indivíduos com uma diferença abismal nos resultados dos testes de QI. Isto porque os factores ambientais variaram significativamente entre eles durante o desenvolvimento." Por exemplo, o tipo de alimentação durante os três primeiro anos de vida é fundamental para o "desenvolvimento da inteligência".
A importância da mãe
Muito menos consensual é a teoria do antigo inspector das escolas públicas britânicas Chris Woodhead, que no seu mais recente livro, "The Desolation of Learning" ("A Desolação da Aprendizagem", numa tradução literal), coloca todo o peso da balança da inteligência no comportamento dos genes. Segundo o autor, os rapazes e as raparigas tendem a ser mais inteligentes se forem filhos de professores, advogados ou académicos. Quem foi menos bafejado pela genética será pouco inteligente, mesmo que tenha a melhor educação do mundo. "Porque é que temos a pretensão de pensar que conseguimos tornar uma criança mais inteligente do que aquilo que Deus a fez?", perguntou durante uma entrevista ao diário britânico "The Guardian".
Ainda que o determinismo da polémica teoria de Woodhead esteja ultrapassado pelo compromisso que existe hoje na comunidade científica entre o papel do inato e do adquirido na inteligência, é inegável a influência da genética no desenvolvimento cognitivo e intelectual. "Parece existir um conjunto de genes directa ou indirectamente relacionados com algumas hormonas que funcionam como factores de crescimento e de desenvolvimento dos neurónios", revela Hamilton Correia. "A actuação destas hormonas, conhecidas como neuroesteróides, sobretudo durante a gestação e nos primeiros anos de vida, irá influenciar em grande medida a capacidade cognitiva dos indivíduos." O biólogo salienta ainda a existência de alguns genes relacionados com os neurotransmissores que influenciam a velocidade de transmissão do impulso nervoso e, consequentemente, "a rapidez de processamento de informação - uma das vertentes da inteligência".
Segundo Correia, a influência da hereditariedade na inteligência faz-se sentir sobretudo pelo lado da mãe. "A maioria dos genes descobertos que quando mutados dão origem a deficiências cognitivas encontram-se no cromossoma X. Por outro lado, existem algumas hormonas (sobretudo androgénios) que estimulam o crescimento e ramificação dos neurónios. Ora, o gene RA (gene do receptor dos androgénios) que se encontra no cromossoma X possui um efeito significativo na velocidade de transmissão neuronal e, portanto, na inteligência. Por esta razão, o sexo feminino é mais importante que o sexo masculino na transmissão da inteligência para a geração seguinte".
Este facto explica uma realidade que pode parecer surpreendente: segundo um estudo realizado pelo biólogo no Departamento de Antropologia da Universidade de Coimbra, "os homens tendem a casar com alguém mais inteligente que eles, pois terão mais probabilidades de terem filhos inteligentes". Ainda que o façam inconscientemente, a inteligência acaba por ser um importante critério de selecção sexual na espécie humana.
Hamilton Correia acredita que os avanços no estudo dos genes ligados à inteligência poderão permitir estimular a expressão desses genes e, desse modo, influenciar positivamente o desenvolvimento cognitivo. "Existem algumas biomoléculas que podem potenciar significativamente a inteligência estimulando os factores de crescimento do tecido cerebral. Este fenómeno será tanto mais importante quanto mais precoce for em relação ao desenvolvimento do indivíduo." O investigador está já a estudar os efeitos de algumas dessas moléculas no aumento da inteligência humana, mas ainda não foram revelados os resultados."
O QI é um teste de burrice"
Mas o que faz ao certo uma pessoa mais inteligente que a outra? Como se faz essa avaliação? A ferramenta mais familiar são os testes que medem o quociente de inteligência (QI), mas mesmo estes não são consensuais. Mário Cordeiro, pediatra, pai de cinco filhos, consultor do Conselho Nacional de Educação, e autor de "O Grande Livro do Bebé", "O Livro da Criança" e "O Grande Livro do Adolescente", é feroz na crítica. "O QI é um teste de burrice... de quem o aplica pensando que está a avaliar alguma coisa. O 2+2, sozinho, não serve para nada. Daniel Goleman e António Damásio, entre outros, foram os que mais directamente mostraram a falência desse modelo e dessa forma de pensar."
Não há uma inteligência racional, sustenta Cordeiro. Há sim "capacidades várias de responder a situações novas, a problemas complexos, a questões nunca antes resolvidas". Uma inteligência com várias facetas ou, então, várias inteligências, diferentes peças nesse puzzle complexo que é a capacidade de resolução de problemas. A alquimia perfeita não inclui apenas a Razão, a informação, o conhecimento ou a lucidez. "É preciso também a Emoção, repleta de sentimentos, circunstâncias e contextos." A evidência, sublinha o pediatra, é óbvia: a maioria das situações que uma pessoa precisa de resolver ao longo da vida são "de natureza social, de cidadania, de respostas afectivas, de estratégias várias".
''Não há pessoas mais inteligentes"
Por isso, "não há pessoas mais inteligentes do que outras". Há sim pessoas que, por razões individuais, familiares, sociais ou de privilégios vários, tiveram a hipótese de desenvolver as várias facetas da sua inteligência. "Muitas crianças não têm essa hipótese, por razões familiares, desinteresse dos adultos, escolas abaixo de cão, professores doentiamente desinteressados (a não ser na questão da sua avaliação, o que já consumiu três anos lectivos) e um sistema de ensino caduco e ultrapassado com um ministério napoleónico quase patético." A estes factores acrescem as desigualdades sociais e económicas, "que são das maiores causas dessas diferenças".
Mais do que uma mera questão de QI, o insucesso escolar, alerta Cordeiro, é sobretudo um sintoma de disfunção na vida da criança, que pode começar logo na gestação. "Há factores, um dos quais a ingestão de álcool durante a gravidez, que podem causar dificuldades escolares". Outras causas, acrescenta o pediatra, incluem dormir mal, ter um ambiente desestabilizador em casa, ser pobre, ter frio, fome ou viver sem espaço vital habitacional.
"O que interessa é que todos temos talentos, capacidades, mais-valias, e que não é o QI que as mede, mas a assertividade, a resiliência, a força do querer, a vontade do aperfeiçoamento, a humildade de saber que não se sabe tudo mas que se pode saber um pouco mais, abrindo a porta também a mais ignorância que estimulará novas abordagens e pesquisas."
O neuropsicólogo Nelson Lima concorda. "Aquilo que faz uma criança revelar-se mais inteligente do que outra deve-se mais ao aproveitamento que saiba fazer dos seus recursos (capacidade de aprender, de motivar-se e de agir no e sobre o mundo) do que a mera exibição de raciocínios brilhantes."
Texto publicado na edição do Expresso de 15 de Agosto de 2009

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Nova época, novo equipamento, novas chuteiras

Em primeira mão o AR&AR dá a conhecer as chuteiras que o Miguel Veloso irá usar no jogo desta noite frente à Fiorentina.




segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Este País não é sério!

Eduardo Prado Coelho deixou-nos esta reflexão que é um retrato do nosso país.
"A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem comoCavaco, Durão e Guterres.Agora dizemos que Sócrates não serve.E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada.Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão quefoi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates.O problema está em nós. Nós como povo.Nós como matéria prima de um país.Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda semprevalorizada, tanto ou mais do que o euro.Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude maisapreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais.Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderãoser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nospasseios onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL,DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedorasparticulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa,como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudoo que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos ....e paraeles mesmos.Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porqueconseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se fraudaa declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.Pertenço a um país:- Onde a falta de pontualidade é um hábito;- Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano.- Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixonas ruas e, depois, reclamam do governo por não limpar os esgotos.- Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros.- Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizemque é 'muito chato ter que ler') e não há consciência nem memóriapolítica, histórica nem económica.- Onde os nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovarprojectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classemédia e beneficiar alguns.Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicaspodem ser 'compradas', sem se fazer qualquer exame.- Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com umacriança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquantoa pessoa que está sentada finge que dorme para não lhe dar o lugar.- Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão.- Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre acriticar os nossos governantes.Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhorme sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda detrânsito para não ser multado.Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu comoportuguês, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente queconfiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas.Não. Não. Não. Já basta.Como 'matéria prima' de um país, temos muitas coisas boas, mas faltamuito para sermos os homens e as mulheres que o nosso país precisa.Esses defeitos, essa 'CHICO-ESPERTERTICE PORTUGUESA' congénita, essadesonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até seconverter em casos escandalosos na política, essa falta de qualidadehumana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que éreal e honestamente má, porque todos eles são portugueses como nós,ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não noutra parte...Fico triste.Porque, ainda que Sócrates se fosse embora hoje, o próximo que osuceder terá que continuar a trabalhar com a mesma matéria primadefeituosa que, como povo, somos nós mesmos.E não poderá fazer nada...Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, masenquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicarprimeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá.Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, nem serveSócrates e nem servirá o que vier.Qual é a alternativa?Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com aforça e por meio do terror?Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa 'outra coisa' não comece asurgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para oslados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmenteestancados....igualmente abusados!É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctonecomeça a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimentocomo Nação, então tudo muda...Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um messias. Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer. Está muito claro... Somos nós que temos que mudar.Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a acontecer-nos:Desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e, francamente, somos tolerantes com o fracasso.É a indústria da desculpa e da estupidez.Agora, depois desta mensagem, francamente, decidi procurar o responsável, não para o castigar, mas para lhe exigir (sim, exigir)que melhore o seu comportamento e que não se faça de mouco, dedesentendido.Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO DE QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO. AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO NOUTRO LADO. E você, o que pensa?.... MEDITE!"

A responsabilidade e a culpa

Em Portugal confunde-se a responsabilidade com a culpa. A primeira é vaga e impessoal, a segunda costuma morrer solteira. O que se passou (e passa) no Hospital de Santa Maria com a cegueira provocada em seis doentes por evidentes más práticas é paradigmático. Sabemos que errar é humano e sabemos que o erro não tem as mesmas consequências, uma das formas de avaliar a sua gravidade. Em saúde, todos os erros são graves e por isso mesmo devem absolutamente ser evitados. Para isso servem os procedimentos, os protocolos, as guide lines. Um hospital é como que uma complexa linha de produção e para um acto cirúrgico, por exemplo, concorrem diversos técnicos de diferentes serviços cujas competências e atribuições estão, à partida, perfeitamente definidas, e em cada segmento dessa linha de produção devem existir mecanismos seguros de verificação dos procedimentos obrigatórios em termos de segurança.
Assim, quando um erro é cometido, pode-se inferir que a culpa (negligência, má prática, o que seja) é de um determinado serviço, mas a responsabilidade é do hospital, que não é um mero edifício, mas uma organização com uma natureza jurídica própria que responde, no seu conjunto, pelos serviços que presta e os actos que pratica. É também por isso mesmo que um hospital tem uma cadeia de comando, hierarquias que definem não apenas os níveis de responsabilidade como um modelo orgânico teoricamente adequado à melhor complementaridade das múltiplas funções e dos inúmeros actos que concorrem para o resultado final. Assim, quando um doente entra num bloco cirúrgico é suposto que todas as condições estejam reunidas para que essa cirurgia se pratique de acordo com o estado da arte: desde a esterilização ao material de consumo clínico, passando pelos medicamentos e o bom estado de funcionamento de toda a tecnologia necessária. Não vale de nada ter uma boa equipa de cirurgia se tudo o resto for assim-assim, como não vale de nada que tudo o resto seja excelente se o cirurgião for incompetente.
Posto isto, seria legítimo esperar que desde o primeiro momento a administração do hospital tivesse vindo a público assumir a responsabilidade do ocorrido, face aos doentes, aos seus familiares e à opinião pública, independentemente de se accionarem todos os procedimentos necessários, internos e externos, para o apuramento dos factos. Assumir responsabilidades é a parte mais incómoda do estatuto de quem manda, mas convém não esquecer que os lugares de topo só existem porque é preciso identificar fora e dentro da instituição quem a representa e quem são os seus responsáveis máximos.
O que vimos, estupefactos, foi precisamente o contrário: uma novela com telefonemas anónimos e toques de sabotagem, um passar de culpas, um capote permanentemente sacudido. Algo gravíssimo porque um sistema de saúde assenta na confiança, porque um doente é um ser humano particularmente vulnerável que se confia nas mãos daqueles que cuidam, tratam e curam, porque um hospital como Santa Maria se presume como uma capacidade instalada de excelência.
Mais preocupante é o facto de só agora, e a propósito desta tristíssima ocorrência, a Entidade Reguladora da Saúde anunciar que vai avaliar todos os serviços de oftalmologia do País. Parece ser essa a prática de todas as nossas entidades reguladoras, aparecerem zelosas quando os escândalos rebentam…
Patética é a referência a um frigorífico sem termómetro na farmácia hospitalar de Santa Maria (porque será que não o substituíram? Não terão verba?) e bem conforme à nossa cultura está a afirmação do ilustre especialista canadiano Miguel Burnier sobre as melhorias "quase milagrosas" verificadas em três dos seis doentes. De facto é o que somos, um país de milagres.
Mas, apesar de eu ser uma mulher de (e com) fé, prefiro juntar-lhe o provérbio popular "fia-te na Virgem e não corras e verás o trambolhão".
Fonte: DN Opinião - Maria Nogueira Pinto - 13 de Agosto de 2009