quinta-feira, 21 de maio de 2009

Mourinho, o treinador ideal para acabar com o 'inferno da Luz'

Não há quem me faça mudar de opinião: o treinador ideal para o Benfica chama-se José Mourinho.
Nem que fosse em part-time, à semelhança de Guus Hiddink que toma conta da selecção da Rússia e do Chelsea ao mesmo tempo e ninguém apresenta razões de queixa, nem em Moscovo nem em Londres.
A nossa questão fundamenta-se em termos práticos. O Benfica tem um problema grave desde que mandou abaixo o seu estádio, construído e pago, tijolo a tijolo, pelos sócios e adeptos, sem que se ficasse a dever um tostão à banca ou a privados. Temo que estejamos a ser vítimas de uma maldição.
Durante cinquenta anos, os adversários do Benfica temiam as deslocações à Luz. Era o inferno da Luz, um ambiente único, raro e que impunha respeito. O Estádio da Luz metia todos em sentido. Pequenos, médios e grandes, nacionais e estrangeiros, tremiam-lhes os joelhos só de o verem.
Não havia claques organizadas, o que é importante de fazer notar. E nunca fez falta nenhuma. Estava lá tudo o que era preciso.
Agora o inferno da Luz virou-se contra nós. E de que maneira. No próximo fim-de-semana joga-se a última ronda do campeonato de 2008/2009 e o Belenenses, que precisa de pontuar para não descer de divisão, vai à Luz. Estão altamente confiantes os nossos vizinhos do Restelo. Pudera! Wender diz mesmo que não poderia haver melhor «palco» para a ocasião. Lamentavelmente, tem razão.
Pela quarta vez consecutiva desde que foi campeão em 2004/2005, o Benfica perdeu o campeonato em casa. Onde, outrora, ninguém punha o pé em ramo verde, tem sido agora um fartar vilanagem, com o devido respeito, naturalmente.
E é aqui que, precisamente, entra José Mourinho. Ah, como o filho de Félix Mourinho seria o treinador ideal para o Benfica, nem que fosse com um contrato a meio termo, só para os jogos em casa, o que sempre ficava mais baratinho!
Mourinho acaba de conquistar um scudetto, que é como quem diz um campeonato italiano, ao serviço do Inter. Mas não é isso que faz a diferença. Trata-se apenas de mais um título e de mais um país no currículo do treinador.
O que faz verdadeiramente a diferença — e que nos interessa, do ponto de vista do Benfica — é que Mourinho há 117 jogos que não sabe o que é perder no seu terreno. Há mais de sete anos!
Na qualidade de treinador, a última vez que Mourinho perdeu em casa aconteceu na temporada de 2001/2002. Tinha acabado de chegar ao FC Porto e foi o Beira-Mar, de Fary e de Cristiano, que lhe impuseram um amargo de boca ainda nas Antas.
Agora, benfiquistas, imaginem, o que é que não teria acontecido ao Benfica com um treinador destes. Éramos, no mínimo, heptacampeões! Sim, porque os nossos problemas não são os jogos fora, são os jogos em casa, no inferno da Luz.
Este ano, por exemplo… A uma jornada do fim do campeonato a distância para o líder, já campeão: 13 pontos. Número de pontos perdidos em casa: 14 pontos, sendo que 2 desses pontos foram perdidos, precisamente, para o campeão.
E quem foram os carrascos do Benfica na Luz em 2008/2009? A Académica e o Vitória de Guimarães levaram 6 pontos, o máximo possível em 2 jogos. Entre os que levaram 2 pontos, correspondentes ao empate, contam-se o FC Porto, o campeão, e acrescentem-se os temíveis Trofense e Vitória de Setúbal, que lutam para não descer, e o Nacional da Madeira.
Feitas as contas ao desastre caseiro: Académica, Vitória de Guimarães, FC Porto, Vitória de Setúbal, Trofense e Nacional, todos pontuaram na Luz. É caso para se dizer que, praticamente, a única equipa que este ano perdeu na Luz foi o Sporting.
O que explica o facto de o clube de Alvalade estar a viver um momento de eleições antecipadas, apesar de se ter conseguido classificar no segundo lugar da tabela.
Mourinho, com a sua série astronómica de 117 jogos sem perder em casa, seria, sem dúvida, o treinador ideal para o Benfica.
Admitindo, no entanto, que os serviços do especial são demasiado caros, mesmo que fosse contratado em regime de part-time e só para os jogos na Luz, não há razões para esmorecer na busca do novo treinador.
O que é preciso é explicar-lhe muito bem a situação.
Ogrande Olhanense está de regresso à divisão principal depois de 34 anos de ausência. Como não havia um clube algarvio entre os maiores desde a temporada de 2001/2002 e como, por graça do Euro-2004, o Algarve tem a meio da Via do Infante um estádio de futebol, todo modernaço mas sem gente e sem alma, já há quem se tenha lembrado, em nome do progresso da região e da rentabilização das instalações, de sugerir ao Olhanense que dispute todos os seus jogos em casa, no campo de Faro/Loulé.
Não caiam nessa, olhanenses! Não queiram servir de justificação política para a construção do mastodonte.
Olhão é Olhão e, para receber as visitas, não há casa como a nossa. Esta é uma lei do futebol. A única excepção que se conhece é, de facto, o Benfica.
Foram precisas 29 jornadas do campeonato para Quique Flores se chatear, finalmente, com um árbitro! De acordo com os relatos na imprensa, o treinador do Benfica terá proferido um impropério nos minutos finais do jogo de Braga e o quarto árbitro, com ouvido de tísico, registou o desabafo, comunicou-o ao seu superior hierárquico — ou seja, ao primeiro árbitro — acabando o espanhol expulso, coisa que nunca lhe tinha acontecido.
Curiosamente, o nome de Quique não consta da lista de castigados pela disciplina da Liga, pelo que poderá sentar-se no banco e dirigir a equipa de perto no derradeiro jogo da prova, contra o Belenenses. Poderá ter valido como atenuante, o bom comportamento de Quique, ao longo da época, evidenciando uma paciência, um quase alheamento das polémicas com árbitros e arbitragens, jamais protestando uma decisão, nunca se queixando.
O relatório do árbitro do Braga-Benfica também pode explicar a ausência de castigo ao treinador. Será que, bem medidas as palavras, o impropério, o desabafo de Quique em Braga, quando a sua equipa vencia folgadamente, não foi dirigido ao árbitro nem a nenhum dos seus auxiliares?
Pedro Proença foi, em termos de polémica, o árbitro do ano. O penalty que conseguiu marcar contra o Benfica, no Porto, foi o momento de viragem do campeonato. Numa decisão acertada dos que nomeiam os árbitros para os jogos, Pedro Proença vai voltar a apitar no Dragão, no jogo que encerra a prova e que será o da festa do título para o FC Porto. A sua nomeação, aliás, é mais do que acertada. É justíssima.
Por Leonor Pinhão, Edição 21 de Maio 2009 - Jornal "A Bola"

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