sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O poder do 'Gato Fedorento'

Marcelo Rebelo de Sousa temperou o programa 'Gato Fedorento Esmiúça os Sufrágios', o antepenúltimo, com um sorriso "matreiro" que, aliás, o próprio Ricardo Araújo Pereira devolveria a Marcelo numa das perguntas. O professor deixaria entretanto cair, no meio das gargalhadas - permitam esta linguagem felino-fedorenta -, alguns 'calduços' no poder, sobretudo no dos Gato que ali foram expondo, ao longo de mês e meio, primeiro-ministro, líderes da oposição actuais, antigos e putativos, e ainda muitas outros personagens do poder "tradicional", como lhe chamou Marcelo em contraponto com o poder dos humoristas. Com o pretexto de esmiuçar os sufrágios e num ciclo eleitoral intenso, o programa conseguiu audiências médias superiores a 1,3 milhões de espectadores. Manuela Ferreira Leite falou e até sorriu, durante alguns minutos, em plena campanha, para perto de dois milhões de espectadores. Paulo Portas teve uma audiência ligeiramente superior e o menos apelativo seria Moita Flores. Mesmo assim, o autarca de Santarém prendeu ao ecrã 1,061 milhões de espectadores. Era também deste poder que Marcelo falava, um poder, acrescenta, de que "os mais chatos" não desfrutam.
Mas o que verdadeiramente esmiuçaram os gatos? Ainda que sempre dispostos a fazer humor na surpreendente e incómoda pergunta virada e revirada à medida da piada, a resposta dos Gato à pergunta do Expresso foi enviada por e-mail: "Só respondemos por escrito", explicou-nos José Diogo Quintela. Respeitamos e transcrevemos a resposta: "Como o nome do programa sugere - de forma bastante subtil, aliás -, pretendíamos esmiuçar as eleições. Temos dúvidas de ter alcançado esse objectivo, mas já ficávamos satisfeitos se, em trinta programas, os espectadores tivessem achado alguma graça a dois".
Talvez com mais subtileza, Marcelo dava a sua opinião, nos bastidores, dizendo que "o humor aproxima tudo de todos". E que, "num formato curto e rápido", os espectadores vão abocanhando a actualidade política sem a "chatice do discurso politiquês", citando, nesta última expressão, Pacheco Pereira. É uma explicação para o corrupio de políticos à mesa de Ricardo Araújo Pereira.
"A classe política não fez fila para desfilar no nosso programa, no sentido em que quem esteve presente não o fez por se ter de alguma forma insinuado a ser convidado. Convidámos as pessoas, e as que acharam por bem aceitar estiveram no programa", dizem os Gato. Mas porque é que quase toda a classe política se expôs ali, apesar do desconforto de algumas perguntas? Dava para dizer que na política só há dois tipos: os que foram aos gatos e os que não foram, e nestes incluem-se Pacheco Pereira mas também Cavaco Silva. Ora, regressando ao humor, de tudo o que pingou das tertúlias humorístico-políticas, a entrevista a Marcelo seria, caso fosse a derradeira, uma boa despedida. Mas mais dois estavam já na linha de montagem: um virado para o futuro próximo, com Francisco Assis e Aguiar Branco - dois líderes parlamentares, da situação e da oposição - e outro, que seria com o Presidente da República, mas que este acabou por recusar. Cavaco confessaria a sua simpatia pelo humor dos Gato Fedorento e pelo programa em questão, mas, pelos vistos, com o chefe de Estado não se brinca.
O humor é assim, poderoso. Há até quem diga que mata, mas será também uma boa porta para a aproximação dos mais jovens à política? "Eventualmente, mas nunca foi nosso objectivo cumprir essa função. O nosso único objectivo é fazer humor", dizem os Gato. Mas Rafael, estudante do ISCTE, que fez fila para assistir, ao vivo, a este programa, garantiu que foi o humor de Ricardo, Zé Diogo, Miguel e Tiago que o "aproximou dos temas políticos" - e confessa que "contribuiu" para a sua opção de voto.
Humberto Costa (www.expresso.pt)
23:57 Quinta-feira, 29 de Out de 2009

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